Com deficiência visual desde que nasceu, Alceu Kuhn é um dos brasileiros que contribuiu para que o país obtivesse a maior taxa de empreendedorismo entre os países membros do G20 – grupo que integra as maiores economias do mundo.
Alceu Kuhn tem apenas uma percepção de luz no olho direito. Natural de Saudades, reside em Chapecó desde 1988 e, além de atuar como funcionário público municipal há 22 anos, na Associação de Deficientes Visuais do Oeste de Santa Catarina (Adevosc) está entre os brasileiros que tornaram-se empreendedores individuais, formalizados em 2010.
Alceu faz parte do grupo de brasileiros que elevou a taxa de novos empreendedores no país. De acordo com a 11ª edição da Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, a GEM 2010, divulgada pelo Sebrae, nesta semana, em São Paulo, o Brasil alcançou em 2010 a maior taxa de empreendedorismo entre países membros do G20 (grupo que integra as maiores economias do mundo) e do BRIC (grupo que reúne os emergentes Brasil, Rússia, Índia e China).
Conselheiro Titular do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde/Chapecó) e Conselheiro Titular do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conede/SC), Alceu é proprietário da empresa AK Cursos e Eventos, formalizada em fevereiro do ano passado, com orientações do Sebrae/SC. A empresa oferece cursos destinados a profissionais que trabalham com pessoas que têm algum tipo de deficiência visual, além de comercializar (por encomenda) produtos específicos para deficientes visuais.
Alceu salienta que soube da Lei Complementar nº 128, que criou o Micro Empreendedor Individual, através da imprensa. “É uma oportunidade para sair da informalidade. A legalização abre muitas portas, como linhas de crédito, por exemplo”.
O empreendedor lembra ainda, que foi o primeiro deficiente visual no Estado de Santa Catarina a se formalizar. “Fui modelo para outros três novos empreendedores, um deles, com baixa visão que atua no comércio de embalagens. Ele criou a empresa em cinco minutos”, comenta. O outro é cego e atua na área de cursos em Blumenau e o terceiro é um vizinho, com visão normal, que comercializa bebidas.
Os cursos oferecidos pela empresa de Alceu são ministrados de acordo com a necessidade da instituição ou entidade que contrata, mediante realização de projetos. Ele ministra disciplinas em cursos de graduação, pós-graduação em universidades, além de atender demandas de prefeituras e empresas. Entre os produtos personalizados estão: bengalas, relógios, impressoras Braille, scaner de leitura, lupas eletrônicas, reglete (equipamento para escrita em Braille), entre outros. “Através de uma parceria que formalizei, os produtos serão desenvolvidos de acordo com as necessidades de cada consumidor”, salienta.
Alceu revela que entre os maiores desafios de sua profissão está a abordagem das palestras e cursos que ministra. “É necessário focar e pensar na abordagem de acordo com cada público. Afinal, cada cego é um cego… E quando a gente consegue fazer com que as pessoas em geral tenham uma outra percepção, é uma grande satisfação”, declara ao se referir às pessoas que não convivem com pessoas cegas e imaginam que a limitação impede o deficiente visual de ser independente.
Brasil com a maior taxa de empreendedores
O estudo mostra que no ano passado o país registrou o melhor resultado dos 11 anos em que participa da pesquisa, com a maior Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA): 17,5% da população adulta (18 a 64 anos). Esse percentual revela que 21,1 milhões de brasileiros exerceram atividade empreendedora no ano passado e refere-se aos empreendimentos com até três anos e meio de atividade.
“Conquistas como esta são resultados de vários fatores, entre eles, o número de novos empreendimentos que prospera, a questão cultural, pois o brasileiro tem vocação para empreender, além dos estímulos e incentivos oferecidos aos novos empreendedores”, salienta o diretor técnico do Sebrae/SC, Anacleto Ortigara.
O gerente de Comunicação e Mercado do Sebrae/SC, Spyros Diamantaras, reforça que o Sebrae catarinense é um dos grandes incentivadores do empreendedorismo. Além de oferecer suporte através de cursos e consultorias para os mais variados segmentos empresariais, estimula profissionais autônomos a tornarem-se empreendedores individuais. A Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de 2008, tornou possível a legalização de empreendimentos informais que podem se registrar no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ).
Diamantaras complementa que existem três canais de comunicação para acessar as soluções oferecidas pelo Sebrae/SC. Uma delas é através do site (http://www.sebrae-sc.com.br/) que oportuniza capacitação a distância e esclarecimentos de dúvidas; outra é o 0800 570 0800 e a terceira são os pontos de atendimento do Sebrae em todas as regiões do Estado.
Para ser um Empreendedor Individual, é necessário faturar até R$ 36 mil por ano, não ter participação em outra empresa como sócio ou titular e possuir, no máximo, um empregado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da categoria. “Atualmente, contamos com mais de 34 mil novos empreendedores no Estado, enquadrados nessa lei. Isso sem contabilizar o número de novos empreendedores que se enquadram no Simples e outros regimes tributários”, salienta o diretor superintendente do Sebrae/SC, Carlos Guilherme Zigelli.
Podem se inscrever como Empreendedores Individuais os empresários que exercem atividades de comércio, indústria e serviços de natureza não intelectual/sem regulamentação legal. O Empreendedor Individual é enquadrado no Simples Nacional e fica isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL). O custo máximo de formalização é de R$ 62,10 por mês.
A formalização do Empreendedor Individual é feita pela internet no endereço www.portaldoempreendedor.gov.br
Dados em Chapecó
O coordenador regional do Sebrae no oeste, Enio Parmeggiani, informa que em Chapecó existem mais de mil empreendedores individuais. Entre os mais optados estão os segmentos de bar (18%), bazar (11%), salão de beleza (10%) e prestadores de serviço como pedreiro (9%), pintor (4%), mecânico (4%) e eletricista (3%).
Pesquisa
Entre os 17 países membros do G20 que participaram da pesquisa em 2010, o Brasil é o que possui a maior TEA, ultrapassando a China, com 14,4%, e superando também a Argentina, com 14,2%, a Austrália, com 7,8%, e Estados Unidos, com 7,6%. Entre as nações que formam o BRIC, o Brasil tem a população mais empreendedora, com 17,5% de empreendedores em estágio inicial – a China teve 14,4%, a Rússia, 3,9%, enquanto a Índia não participou da pesquisa nos últimos dois anos. Em 2008, a TEA da Índia havia sido de 11,5%. Em 2009, a TEA do Brasil foi de 15,3%, ocupando a segunda posição no grupo dos G20, abaixo da China com taxa de 18,8%.
A íntegra da Pesquisa GEM 2010 está disponível na página do Sebrae na Internet: www.sebrae.com.br