Somos responsáveis por produzir quase 3,3 milhões de toneladas de carne suína por ano e somos o quarto produtor e exportador mundial, só em 2010 foram 540 mil toneladas exportadas e não exportamos mais por não ter um leque maior de compradores.
Abrimos aqui um parênteses para usar as palavras ditas por todo o mundo afora, inclusive pela ONU: “O Brasil é o celeiro do mundo, o consumo de alimentos e principalmente proteína animal aumentará em 50% até 2050 e o Brasil será o responsável por suprir em pelo menos 50% desta demanda mundial”, outros já dizem “O Brasil tem a responsabilidade de diminuir a fome no mundo”.
Geramos em 2010 uma receita de 1,4 bilhão de dólares para o Brasil, com a exportação de carne suína.
Vocês sabiam que, a carne gera ao Brasil onze bilhões de dólares por ano? E que emprega mais de quatro milhões de pessoas? O que corresponde a quatro vezes o total empregado por toda cadeia automotiva do país (carros, ônibus e caminhões).
No entanto, apesar de todo este quadro, o suinocultor está quebrado ou quebrando, sabem por quê? Porque os dirigentes deste país acham melhor, não sei por qual razão, exportar milho e soja, ao invés de transformar estes grãos em carne, diminuindo o custo de produção e agregando valor ao produto à carne suína. Daqui a pouco ou não haverá mais produção de suínos ou não conseguiremos mais exportar, porque nosso preço não será mais competitivo no mercado internacional.
É claro que o produtor de milho tem que ganhar, mas será que está ganhando? O milho subiu nos últimos doze meses, em média, 90%. Será que o produtor viu este lucro, ou foram mais uma vez os agiotas do mercado financeiro, os grandes conglomerados, os atravessadores que ganharam?
Você sabia que ao estar comendo um pedaço de carne suína: um salame, lingüiça, presunto ou mortadela, quem produziu isso, que levou 150 dias para ficar pronto, que levantou de madrugada várias vezes em pleno inverno, sábado, domingo, natal, ano novo, está perdendo, aproximadamente, R$ 60,00 por suíno produzido? Você seria capaz de comprar arroz, feijão, carne, legumes, verduras, fazer um prato, que custaria, digamos, R$ 5,00 e vender por R$ 2,00? Todos te chamariam de louco, mas é isso que acontece com o suinocultor hoje.
Agora eu pergunto, quem está ficando com o lucro? Caro leitor, você viu o preço da carne, da mortadela, do presunto ou lingüiça, baixar em algum lugar? Quando a crise mundial afetou a economia e o complexo automotivo entrou em crise e ameaçou desempregar pessoas, o que o governo fez? Retirou os impostos, aumentou o crédito, salvou o país. Pergunto de novo: uma atividade que emprega quatro vezes mais, que alimenta o país, pode quebrar? Ela é menos importante que uma montadora de automóveis? Nós comemos carro?
Então, por que este governo não faz a sua parte, por que não baixa a carga tributária da mão de obra rural, por que não estanca esta sangria desatada das exportações de grãos e garante o preço mínimo para a carne suína? Por que não cria o seguro de quebra de exportação e subsidia o suinocultor como a Europa, os Estados Unidos e o Canadá fizeram durante a crise econômica de 2008/2009 e que sempre fazem quando há dificuldades de mercado? Por que a carne suína não é colocada na merenda escolar, nos presídios, nos quartéis, nos hospitais, no Fome Zero? Por que não temos uma rede de estocagem de grãos que garanta ao produtor a quantidade necessária e a estabilidade de preços?
Caro leitor, lembre-se, quando estiver comendo o seu sanduíche de mortadela ou presunto, aproveite, pode ser o último. Espero que o suinocultor também não seja culpado, no fim de tudo, por deixar o mundo passar fome.
Carlos Francisco Geesdorf é presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), ex-presidente da Associação Regional de Suinocultores do Centro Sul do Paraná (Suinosul), Suinocultor, Caprinocultor, Avicultor e consultor de empresas na área de Otimização de Lucros e Resultados.