Os javalis (Sus scrofa) atacam em bando e deixam vários clarões no meio da lavoura. Os ataques vêm ocorrendo há três anos. Mas em 2008 a situação se agravou. O problema começou porque javalis de criatórios clandestinos foram soltos na região e encontraram um ambiente perfeito na zona rural , onde há água farta e alimento – os cultivos. Como não há predadores, como onças, eles viraram praga. Resolução do Imasul/Secretaria de Produção e de Justiça tenta frear o crescimento dessa população, e já estabeleceu, em outubro de 2010, medidas emergenciais de controle ambiental do javali, como, por exemplo, o abate dos animais considerados nocivos à agricultura ou à saúde pública. Porém, os produtores rurais precisam, antes, capturar o animal e comunicar a ocorrência em agências da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal do Mato Grosso do Sul (Iagro), ou Polícia Militar Ambiental, Polícia Militar ou escritório do Ibama. Mediante licença de qualquer um desses orgãos, poderá, então, fazer abate “assistido”.
O porco comum está sujeito a febres e pestes. Imagine-se então o vasto território dos javalis, onde ele passa a exigir cuidados redobrados da Vigilância Sanitária Animal pela proximidade com granjas de porco comum. Enquanto as porteiras não são totalmente fechadas, agricultores assustam os bichos com o espocar de foguetes e se valem da cerca elétrica.
Essa é a situação dos irmãos Alceu Luiz e Davi Vincensi, que cultivam 970 hectares de milho híbrido dentro dos 1,6 mil ha da Fazenda Boa Esperança (Distrito de Prudêncio Thomás), parte deles já “visitados” pelos javalis. O temor de que esses animais transmitam doenças ao rebanho de nove mil cabeças foi manifestado por eles à prefeitura e ao Sindicato Rural de Rio Brilhante, que por sua vez espera providências do governo estadual e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A estimativa geral na região é a seguinte: em cada mil hectares perambulam pelo menos cem javalis, que destroem uma faixa de 50 ha do milho, acarretando um prejuízo de três a quatro mil sacos do produto. “Isso representa para nós uma cifra entre R$ 60 mil e R$ 80 mil a menos no negócio”, diz.
Gaúchos de Panambi, os irmãos Vincensi chegaram em 1978 em Rio Brilhante. Em sociedade, atualmente eles mantêm 550 matrizes da genética da Agroceres na granja da Fazenda Mata Azul, no Distrito de Cruzaltina, município de Dourados. São as espécies Landrace, Larg White e Camborough.
O cruzamento de fêmeas Camborough 25 com machos AGPic resultam em filhotes F1. Esses suínos acumulam menos gordura e mais carne aprovada pelos consumidores nacionais e no mercado de exportação, cujos abates abrangem porcos de 100 a 110 quilos.
Impróprio
“Esse bicho selvagem é impróprio para ser criado normalmente; não há meio, e eu até penso no que pode resultar um ataque dele às pessoas”, diz Alceu Luiz ao Correio do Estado.
Defensor da caça e do abate controlados de javalis, catetos, queixadas e java-porcos, a exemplo da direção do Sindicato Rural de Rio Brilhante, ele informa ter adotado cuidados gerais no embarque dos suínos caseiros. Veterinários e fornecedores apóiam o trabalho sanitário na granja.
Pela rusticidade, o javali e seus assemelhados demoram dois anos para se desenvolver, enquanto o porco criado em granja consegue 110 quilos de cinco a seis meses. No entanto, a gestação de porcos é semelhante: ocorre em três meses, três semanas e três dias. Daí, a farta reprodução.
“Porco tem o instinto da aproximação e a nossa criação vive esse perigo; os javalis invadem até os cochos do gado para comer o sal”, relata Luiz Vincensi. “Ficou perto, se aproximou demais, a doença pula rapidinho”, ele comenta.
O mesmo raciocínio é manifestado pelo comerciante e agricultor José Boniatti, proprietário da Abro Bonser em Dourados. Ele também defende a liberação da caça: “O estrago está feito, porque o porco caseiro escapou e cruzou com o javali.” “Certo é o Ibama autorizar a caça, porque é complicada a captura do bicho.”
Dos 450 ha de milho híbrido cultivados, Boniatti perdeu 12 ha, correspondentes a 840 sacas de milho que somam prejuízos de R$ 16,8 mil. “Se a gente produzir bem, tem até para eles, os javalis e os ladrões de milho; desses também nos queixamos, mas nos limitamos aos BOs na delegacia”, ele diz. Conformado, ele acrescenta: “Do jeito que está, mantendo a terra já está de bom tamanho.”