Após mais de três horas de reunião no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), na tarde de ontem, representantes da BRF- Brasil Foods ainda não conseguiram chegar a um acordo para evitar que a compra da Sadia pela Perdigão seja vetada pelo órgão antitruste.
As negociações continuam e ainda há a possibilidade de realização de uma nova reunião, antes de o Cade retomar o julgamento, no próximo dia 13.
“Cada reunião é um ponto de construção”, afirmou o presidente da BRF, José Antonio Fay, após o encontro. “Estamos trabalhando intensamente para chegar a um acordo”, continuou.
A companhia ainda pode pedir um prazo maior para apresentar novos estudos aos quatro conselheiros que ainda não votaram. Questionado sobre essa possibilidade, Fay respondeu apenas que “o tempo não deveria ser limitante”.
A rigor, o Cade tem mais duas sessões para votar a compra da Sadia, nos dias 13 e 27. Isso porque no dia 29 termina o prazo de 60 dias que a Lei Antitruste (nº 8.884) dá para o conselho decidir a respeito de fusões e aquisições. Ao fim desse prazo, o negócio seria aprovado automaticamente, sem a imposição de restrições, como a venda de marcas e de fábricas a concorrentes.
Os conselheiros querem evitar o fim do prazo. Para eles, a única saída para que a compra da Sadia não seja reprovada é a BRF vender um pacote de ativos que seja capaz de criar um concorrente forte à empresa. É esse pacote que está em discussão, mas o Cade e a BRF não estão fornecendo informações públicas sobre as negociações.
“Estamos impedidos pela Comissão de Valores Mobiliários e pela confidencialidade [com o Cade]”, justificou Wilson Mello, vice-presidente de assuntos corporativos da BRF.
O prazo de 60 dias pode ser suspenso a pedido da companhia. Mas os conselheiros teriam que aprovar esse adiamento.
“Eles vão se reunir para decidir [se o julgamento será realizado no dia 13 ou não] e nós devemos aguardar”, afirmou o advogado Paulo de Tarso Ribeiro, da BRF.
Até aqui, apenas o relator do processo, conselheiro Carlos Ragazzo, concluiu um voto, que foi pela desconstituição da compra da Sadia pela Perdigão. Para Ragazzo, a Sadia teria de ser vendida a concorrentes. Mas ainda restam quatro votos a serem proferidos pelos conselheiros Ricardo Ruiz, Olavo Chinaglia, Alessandro Octaviani e Marcos Paulo Veríssimo. Os quatro participaram da reunião de ontem, mas, ao fim, não quiseram se manifestar.
Advogados da empresa Dr Oetker também vão se encontrar com os conselheiros antes do dia 13. A companhia se opôs abertamente à compra da Sadia pela Perdigão e pediu ao conselho que vete a operação.