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Economia

Armas contra o câmbio

Guido Mantega afirma ainda ter armas para usar na guerra cambial. "Sempre temos novas medidas a adotar", disse ele.

O Brasil está preparando uma série de medidas adicionais para conter a prejudicial valorização do real, num momento em que a guerra cambial mundial não dá mostras de estar chegando ao fim, segundo Guido Mantega, o ministro da Fazenda do país.

Em entrevista concedida ao “Financial Times” em Londres, Mantega disse que os países do G-20 ainda estão longe de conquistar sua meta de pactuar novas diretrizes para administrar o câmbio. Afirmou ainda haver “brigas entre países”, como EUA e China, e que a guerra cambial mundial “absolutamente não acabou”.

O lento crescimento e as baixas taxas de juros das economias avançadas continuam a impor pressões de alta à moeda brasileira, disse Mantega, o que obriga as autoridades a estudar novas medidas de intervenção nos mercados cambiais e de derivativos a fim de impedir a divisa de disparar para níveis não recomendáveis.

“Sempre temos novas medidas a adotar”, disse ele ao “Financial Times”, paralelamente a um encontro com investidores, dando indícios de que elas não serão pré-anunciadas, mas que incluiriam intervenção no mercado.

Na terça-feira, o Banco Central brasileiro anunciou também um leilão no mercado à vista para a compra de dólares americanos, em mais uma iniciativa destinada a aumentar as reservas cambiais do país e conter a pressão de valorização sobre o real.

As medidas tomadas pelo Brasil para conter a valorização da moeda chamam a atenção para o dilema com que se defrontam muitas economias de crescimento acelerado – como Turquia, Chile, Colômbia e Rússia -, uma vez que permitir a valorização da moeda restringe o superaquecimento interno, ao mesmo tempo em que também solapa a competitividade da indústria doméstica.

“Fiz um pronunciamento aos investidores, e espero que eles não o tenham recebido com excesso de entusiasmo”, brincou Mantega, “porque há a tendência de entrada de um volume excessivo de capital”. O Brasil teve de tomar outras medidas, acrescentou ele, porque as taxas de juros domésticas já estão elevadas, a fim de coibir a inflação, e novos aumentos da taxa, por si sós, tendem a estimular novos afluxos de capital. O Brasil já instituiu uma série de medidas, como a taxação dos ingressos para investimentos em bônus, para testar e conter a valorização do real.

“A política monetária é muito restritiva no Brasil e o nível [das taxas de juros] em termos reais é mais elevado que o de outros países [emergentes]”, insistiu Mantega. Com a taxa referencial de juros em 12,25%, ele recusou a ideia de que o Brasil passa por superaquecimento, dizendo que as taxas de crescimento são sustentáveis, que a inflação está recuando e que o déficit público está diminuindo. A economia brasileira deverá crescer 4% este ano, segundo previsões, depois de registrar uma expansão de 7,5% em 2010.

O crescimento do crédito -de 15% este ano – foi menor que os 22% registrados em 2010, acrescentou ele, em parte em decorrência das restrições impostas pelo governo à tomada de empréstimos baratos por parte dos bancos, a baixas taxas de juros, junto aos Estados Unidos, mas ele disse ansiar pelo dia em que uma inflação mais baixa proporcionará “mais flexibilidade de política monetária”.

Os comentários de Mantega chamam a atenção para o baixo nível da guerra cambial travada entre economias emergentes e avançadas que desestabilizou os mercados financeiros mundiais. Essa será uma das questões a ser enfrentadas por Christine Lagarde, que estreou ontem como diretora-executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Brasil apoiou a nova diretora-executiva francesa em detrimento de seu concorrente mexicano, Agustín Carstens, mas Mantega insistiu em afirmar que não há “rivalidade regional” entre as duas maiores economias da América Latina. Ele disse ter sentido que Lagarde seria mais eficiente em impulsionar a causa dos países em desenvolvimento.