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Verdades e Mentiras sobre automação de plantas - Por Fernando Raizer

Para reduzir custos de produção, sem perder a qualidade em operações de frangos e suínos, muitos estabelecimentos adotam a automação de seus processos. Veja algumas afirmações sobre o tema.

Verdades e Mentiras sobre automação de plantas - Por Fernando Raizer

Plantas dedicadas, como é o caso das utilizadas em operações de frangos e suínos, operam com volumes razoavelmente grandes, pequeno número de produtos e efetivo reduzido. 

O objetivo é o menor custo por tonelada possível é altamente recomendável considerando-se a competitividade desses setores, os quais muitas vezes medem a diferença entre lucro e prejuízo em frações de centavo por kg de carne produzida. 

E falando em eficiência, muito se tem dito sobre automação – algumas delas verdadeiras, outras nem tanto, e outras tantas mais absolutamente falsas. 

Relacionamos a seguir algumas afirmações que frequentemente temos ouvido durante o nosso trabalho: 

Afirmação n°1- Automação é Cara. 

R: Falso.  

Uma automação bem feita, e na medida certa, economiza no mínimo dez vezes o valor do investimento na forma de melhores resultados de campo e economia com medicamentos. 

Deixe-me explicar melhor a tal de “medida certa” 

Imagine uma fábrica com o grau máximo “ideal” de automação. Exagerando a comparação, essa fábrica dita “ideal” teria no máximo dois funcionários: Um homem e um cão de guarda. 

A tarefa do homem seria alimentar o cão, e o cão seria treinado para não deixar o homem mexer nas máquinas…

Brincadeiras a parte, essa fábrica “quase ideal” existe. Já vi uma operação dedicada a fazer rações pré iniciais e iniciais de suínos operando com apenas duas pessoas – e produzindo 15000 tons/ mês, 100% a granel, destinada a uma comunidade inteira de produtores. 

O detalhe é que essa fábrica custou cerca de 15 milhões de euros, e aí é que a coisa pega quando se faz aqui no Brasil o cálculo de retorno sobre o investimento. 

Por outro lado, já vi muitas fábricas locais produzindo seis mil tons mês sem qualquer tipo de automação, nem mesmo na dosagem. Por estranha coincidência, os resultados zootécnicos eram bastante ruins e inconstantes, o custo de formulação bem mais alto – e o consumo de medicamentos algo absurdo. 

Se um formulador/ nutricionista tem que lidar com variáveis tão amplas que impactam os resultados, a tendência é jogar com margem de segurança maior nos níveis nutricionais, e o resultado disso é o aumento no custo da formulação.

É o chamado “custo oculto”, que, aliás, também ocorre quando não se utiliza matérias primas alternativas – mas isso é assunto para outra conversa. 

Pode-se automatizar uma fábrica literalmente “de fio a pavio” inclusive as operações secundárias como recebimento, roteamento, amostragens, análises, formulação “just in time” – ou pode-se investir primeiramente apenas naquilo que é mais urgente e vai fazer o estritamente necessário no que se refere à Garantia da Qualidade. 

Um módulo básico de automação de dosagem é extremamente barato, e o retorno é praticamente imediato.

Coloque-se no lugar de um operador de mistura em uma fábrica com a dosagem não automatizada. 

Vamos piorar a situação imaginária: o processo é moagem conjunta. 

Imagine-se como sendo esse operador, em uma sexta feira, tarde de calor extremo, cansado da lida da semana, e tendo que fazer 12 batidas por horas, 8 horas por dia.

São 96 batidas no dia, pesando manualmente de seis a dez ingredientes por fórmula.

Para controlar o tempo de mistura ele tem um despertador em cima do painel, e para saber onde está a batida tem que observar também o amperímetro do moinho.

O pacote com o premix tem que ser adicionado no momento correto, e ainda por cima a adição de líquidos tem que acontecer em um determinado momento exato do processo, e o tempo de mistura de líquidos também tem que ser controlado.  Alem disso ele tem que ficar com um olho no abastecimento de ingredientes, e outro no lugar para onde está mandando a batida. 

Venhamos e convenhamos – será possível que ele consiga fazer tudo isso corretamente 96 vezes por dia e ainda chegar a casa e não desapontar a patroa? Você acredita mesmo que o produto com os níveis nutricionais corretos estão indo para o campo? 

Afirmação n° 2 – A Automação economiza muita mão de obra 

R: Falso.

Uma fábrica dedicada, com poucos produtos e operação basicamente à granel opera com um número extremamente pequeno de pessoas.

A automação vai antes de tudo garantir a qualidade dos produtos. Nesse caso, não há cálculo de redução de mão de obra que pague qualquer tipo de automação – mesmo as mais singelas. 

Afirmação n° 3 – É necessária mão de obra especializada e cara para lidar com uma operação automatizada 

R: Falso. 

Tem-se uma coisa que eu aprendi foi não subestimar a flexibilidade e inteligência dos operadores. Via de regra não é necessário mais que uma semana para que se adaptem perfeitamente ao novo sistema, inclusive contribuindo com sugestões de melhorias para quem instalou a automação. 

Afirmação n° 3 – Deve-se selecionar muito bem um fornecedor de automação. 

R: Verdadeiro. 

Há um pequeno conjunto de regras para evitar problemas na seleção de fornecedores: 

  •  Verifique o histórico e cheque referencias pessoalmente na relação de clientes que ele publica.
  •  Dê preferência para quem está já bastante tempo no mercado – e mostra sinais de continuar (solidez). A pior coisa que pode ocorrer é a sua automação não ter manutenção.
  •  Consulte os órgãos de crédito e pesquise por ações da Fazenda e cíveis por perdas e danos
  •  Especifique exatamente o que você quer automatizar, ou seja, faça delimitar exatamente o escopo da automação.
  •  Componentes importados de terceira linha são baratos, e fazem uma diferença enorme no custo da automação. Verifique exatamente quais as marcas de componentes ele vai usar, dando a preferência para marcas reconhecidamente de primeira linha, de fácil substituição.
  •  Exija contratualmente o cumprimento de prazos de entrega e implantação.
  •  Faça-o incluir e especificar os custos de start-up da operação e posterior acompanhamento, por quanto tempo e o que exatamente está incluso nisso.
  • Esteja ciente de quanto vai custar o serviço de manutenção do sistema e inclusões de equipamentos adicionais na automação depois que o sistema estiver implantado.

Chorar porque o preço de inclusão de mais um moinho ou de um liquido  na automação está muito caro não vai adiantar nada depois que você estiver rodando um determinado sistema.

  • Seja cuidadoso, e faça as coisas passo a passo.

Se você precisa apenas inicialmente apenas ( ex:) da automação da dosagem, resista à tentação de contratar também ( ex:) o roteamento do abastecimento de matérias primas.

  • Certifique-se que uma quantidade adequada de treinamento para o seu pessoal está inclusa na proposta, caso contrário o molho pode sair quase mais caro que o peixe.
  • Certifique-se que a automação ofertada se comunica adequadamente com o seu sistema gerencial de controle de estoques, Faturamento, controle de processos, Compras e Custeio, caso contrário você fará uma ” salada” de planilhas de Excel, e sistemas diferentes operando de maneira independente, sendo operados por um monte de pessoas que não se comunicam, e sem gerar as informações que você necessita… Isso se chama Integração do Sistema. 

Por último, mas não finalmente, lembre-se que mais de 70% do seu custo de produção passa por dentro da fábrica. Não há nutricionista ou veterinário que consiga acertar as coisas no campo se  aquilo que estiver saindo da fábrica não for o que o seu plantel necessita… 

Sucesso! 

Fernando Raizer é sócio-Diretor da Raizer Consultoria e Treinamentos Ltda, empresa estabelecida há 10 anos em Campinas (SP)