O embargo de mais 37 plantas frigoríficas brasileiras exportadoras de carne para a Rússia, na semana passada, foi motivado por uma falha estratégica do governo brasileiro, segundo afirmou à Agência Leia uma fonte do setor. A lista de empresas embargadas foi, na verdade, feita pelo próprio Ministério da Agricultura, e o objetivo era usá-la como moeda de troca para a liberação das 85 plantas que haviam sido embargadas em junho.
Assim, o governo brasileiro esperava que o Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) visse essa atitude com bons olhos e interpretasse que apenas as 37 plantas listadas eram as que efetivamente apresentavam problemas sanitários e, portanto, considerasse que as 85 companhias do primeiro embargo poderiam ser liberadas do bloqueio inicial.
“O problema é que quando o governo russo recebeu a lista, ele apenas a somou à lista inicial de 85 empresas. Foi uma manobra desastrosa do Ministério da Agricultura. Agora o governo viu o erro que cometeu e está pedindo que o governo russo adie as restrições dessas 37 companhias”, afirmou a fonte.
O Ministério da Agricultura tenta reverter a situação, principalmente, porque já há produtos das 37 plantas em trânsito para a Rússia. “Eles estão pedindo, ao menos, que os produtos cheguem até o porto”, disse. As plantas embargadas são de vários Estados do Brasil, incluindo Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Pará, Distrito Federal, Minas Gerais, Bahia e Tocantins.
A falta de explicações também faz do primeiro embargo feito no início de junho às 85 plantas. Na ocasião, o Rosselkhoznadzor proibiu a entrega de todos os produtos de origem animal dos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Na época, o secretário de Defesa Agropecuário do Ministério da Agricultura, Francisco Jardim, afirmou à Agência Leia que acreditava que o embargo estava revestido de motivos que iam além de questões técnicas.
“Causa estranheza o fato de as medidas terem sido anunciadas sem consistência técnica, repetindo argumentos anteriormente já esclarecidos”, disse, na época.
Para a fonte que conversou com a reportagem da Agência Leia trata-se de uma estratégia de proteção ao mercado local russo. “A questão sanitária sempre é usada como desculpa para proteger o mercado doméstico”, afirmou. O país tem investido na produção local de carne suína e de aves, mas ainda é muito dependente do Brasil em proteína bovina, principalmente porque o clima do país não privilegia o ciclo do animal, que é longo e mais complexo.
Atualmente, o Brasil comercializa as carnes bovina, suína e de aves para a Rússia com regras definidas numa política de cotas que contempla outros parceiros comerciais do país, como Estados Unidos e União Europeia. A Rússia tem sido o principal destino das exportações brasileiras de carnes suína e bovina, produto da qual é a maior compradora individual. Apenas de carne bovina in natura o Brasil embarca, anualmente, o equivalente a US$ 1 bilhão, o que representa 25% da pauta de exportações para aquele país.
Entre as empresas inseridas nas duas listas do embargo russo estão JBS, Marfrig, Brasil Foods e Minerva. A Agência Leia procurou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mas o órgão não quis comentar o novo embargo.