A expansão da economia brasileira, que já causava gargalos de mão de obra especializada nos grandes centros urbanos, invade também os campos da agropecuária do País. Com isso, a dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados e operários braçais está cada vez maior. Como medida para conter o avanço desse déficit, produtores, entidades, industriais e centros de ensino estão se unindo para preparar e capacitar esses profissionais.
“Desemprego? Aqui no campo não tem não”, comentou o produtor rural de Cândido de Abreu, no Paraná, Richard Golba, dono da fazenda Capão de Mato, ao ser indagado sobre a atual situação nos campos. Como ele, muitos produtores rurais brasileiros estão encontrando sérias dificuldades na contratação de profissionais, principalmente qualificados, para atuar em suas lavouras.
O impacto das discussões mundiais sobre a futura falta de alimentos posicionou todos os holofotes para um dos poucos países no mundo que ainda possui grande capacidade de expansão na agropecuária, o Brasil. Aliado a isso, o movimento especulativo do mercado financeiro e o clima contribuíram para a alta nos preços dos produtos agrícolas nos últimos dois anos, fato que ajudou a capitalizar os agricultores brasileiros. “O crescimento vertical da agricultura brasileira mostra que os investimentos em novas tecnologias é uma tendência no País. E agora o Brasil está correndo para capacitar sua mão de obra, mesmo porque, hoje, o campo voltou a ser uma ótima opção de emprego”, comentou o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Carlo Lovatelli.
Para ele, o Brasil se adaptará rápido a esta necessidade, dado principalmente a este esforço concentrado que entidades, empresas, produtores e governo estão fazendo para capacitar mais profissionais. “Com as empresas que detém determinadas tecnologias, algumas entidades estão montando sistemas de gestão para o trabalhador rural. No caso da soja, temos o Soja Plus, que é um projeto de gerenciamento da propriedade rural, para conseguir que o proprietário rural possa atender qualquer certificação mundial, exigidas em muitos países principalmente os europeus”, disse o executivo.
Devida a falta de entendimento entre entidades do setor e o governo, o País não possui estudos a respeito, entretanto, isso não impediu que os estados fizessem seu próprio levantamento, como é o caso do Espírito Santo. A escassez de mão de obra no campo está refletindo fortemente na elevação dos custos da produção agrícola no estado. Balanço feito pelo Centro de Desenvolvimento do Agronegócio (Cedagro) mostra que, entre janeiro de 2009 e janeiro de 2011, os gastos representados pela mão de obra e pelas operações mecanizadas tiveram um aumento de 30%.
Neste ano, por exemplo, muitos cafeicultores tiveram dificuldade na contratação de mão de obra temporária para a colheita do café, e a tendência é de que a dificuldade se acentue nos próximos anos. “A maior parte dessas pessoas vinha de estados vizinhos, como Bahia e Minas Gerais, que também apostam na expansão da agricultura. E agora não vêm mais”, disse o diretor executivo da Cedagro, Gilmar Dadalto.
Segundo ele, a situação no estado é tão critica que alguns produtores de café, cultura responsável por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) capixaba e que demanda 70% da mão de obra disponível, já cogitam a mudança para a seringueira ou o eucalipto, que não exigem um grande número de profissionais. “O Espírito Santo possui um terreno em sua grande maioria acidentado e é difícil usar máquinas. O nosso problema não é somente encontrar mão de obra especializada, mas sim uma quantidade maior de profissionais”, disse ele.
Dadalto contou que muitos produtores e empresas especializadas na fabricação e venda de maquinários agrícolas estão treinando os profissionais já existentes para qualificá-los. A exemplo de outros estados, o Espírito Santo também conta com os cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-ES). “O Senar oferece cursos para diversas culturas, entretanto, aqui há um foco especial para a cafeicultura, que predomina no estado. Além disso, com o aumento no uso de tecnologias no campo, com tratores e colheitadeiras mais modernas, as própria empresas estão prestando treinamentos”, frisou ele.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), nos primeiros quatro meses do ano, o setor de maquinários agrícolas registrou um crescimento de 21% no faturamento em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa é encerrar o ano com um crescimento de até 20%.
Segundo Alexandre Landgraf, gerente da empresa Agco Academy, a agricultura no Brasil evoluiu tanto que, ao invés de “peões”, o campo esconde grandes empresários. “Hoje o Brasil está com uma agricultura muito mais empresarial, com altos investimentos, e para isso se manter é extremamente necessário o uso intensivo de tecnologias no campo. E apostamos muito nisso. Em maquinários modernos e cada vez mais eficientes e rápidos para atender a demanda do campo, com computadores de bordo, tratores modernos, colheitadeiras maiores e mais rápidas”. Entretanto, ao perceber que seus clientes não possuíam a capacitação necessária para operar e obter o melhor rendimento de suas máquinas, a Agco, controladora das tradicionais marcas Massey Ferguson e Valtra, fechou uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para criar o “Programa Semear Conhecimento – Mecânica aplicada ao futuro do campo”, para formação de mecânicos e operadores de máquinas agrícolas. “Nossos clientes ainda não possuem capacitação necessária para operar as máquinas. Vendo essa falta de mão de obra no mercado, nós buscamos parcerias para capacitá-los”, comemorou Landgraf.
Roberto Patrocínio, gerente nacional de vendas da Valtra, ressaltou que a empresa também oferece um treinamento de qualificação a seus clientes que adquirem novos produtos. “A falta de mão de obra especializada é o grande gargalo do setor hoje, principalmente no setor sucroalcooleiro, que está mecanizando tudo para minimizar as perdas no campo. Hoje temos um trabalho forte para treinar os trabalhadores para operarem nossas máquinas, afim de retirar tudo que a máquina pode”, frisou.