A fábrica que a Brasil Foods, dona das marcas Sadia e Perdigão, terá nos Emirados Árabes Unidos vai responder por 60% da demanda local por produtos da empresa. As matérias-primas serão fornecidas pelo Brasil, mas a mão de obra será do país árabe. As informações são do vice-presidente de Assuntos Corporativos da companhia, Wilson Mello, que respondeu a uma série de perguntas da ANBA por e-mail.
Os investimentos previstos são de US$ 120 milhões, a capacidade de processamento da unidade será de 80 mil toneladas anuais de alimentos e as operações devem começar no final de 2012. Entre as vantagens de se ter uma fábrica no Oriente Médio, que é o maior mercado do frango brasileiro, Mello cita a proximidade com os clientes, a oportunidade de ampliar a participação no segmento de “food service” (fornecimento para hotéis, restaurantes, companhias aéreas, etc.) e maior flexibilidade de desenvolvimento de produtos ao gosto regional.
“Nada impede que a partir da produção local a BRF desenvolva outras linhas de produtos e, eventualmente, até marcas regionais”, disse o executivo. Sadia e Perdix, como é conhecida a Perdigão lá, estão entre as marcas líderes de mercado no Oriente Médio.
Segundo ele, o acordo feito com o Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico (Cade), que determina a alienação de ativos para permitir a fusão Sadia-Perdigão, não afeta os negócios no mundo árabe, pois diz respeito somente a operações no Brasil. As unidades têm que ser vendidas a um único comprador. “São ativos de alta qualidade e que juntos conferem à empresa compradora a condição de segunda colocada no mercado brasileiro”, acrescentou. Quem pagar mais, leva. Segue a entrevista:
Onde exatamente a fábrica [nos Emirados] será instalada?
O local exato ainda está sendo definido. Poderá ser em Dubai ou Abu Dhabi.
A produção prevista, de 80 mil toneladas anuais, vai abastecer toda a demanda da região, ou produtos acabados continuarão a ser enviados do Brasil?
A produção local deverá atender cerca de 60% da demanda da região. O restante continuará sendo fornecido via exportações.
A unidade vai utilizar matérias-primas brasileiras?
Sim. O Brasil é o país mais competitivo do mundo na produção de matérias-primas. A fábrica vai processar matérias-primas enviadas do Brasil.
E a mão de obra?
Será local.
Qual a vantagem de ter uma fábrica no país árabe?
Há diversas vantagens. Estaremos mais perto dos clientes e do consumidor. Teremos maior adaptabilidade e flexibilidade para desenvolver produtos adaptados às demandas regionais. Além da maior penetração no varejo, a fábrica local nos permite ampliar também a presença nos canais “food service”.
Sadia e Perdix já são marcas líderes no Oriente Médio. Há espaço para mais?
De fato, ambas as marcas já têm uma presença importante na região e dentro da nossa estratégia o peso de ambas não deve perder importância. Mas nada impede que a partir da produção local a BRF desenvolva outras linhas de produtos e, eventualmente, até marcas regionais.
Após a fusão, o que muda em relação aos produtos comercializados no Oriente Médio?
Não temos limitações no mercado externo. O que ocorre é que, por conta da avaliação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), tínhamos limitações de operação. Estávamos liberados para operar conjuntamente apenas a parte comercial. Agora, com a aprovação da fusão, vamos integrar totalmente nossas operações. Na verdade, após a fusão as mudanças permitirão sermos ainda mais eficientes no atendimento aos nossos clientes no mercado externo.
Pelo acordo com o Cade, a BRF deve se desfazer de alguns ativos. Isso envolve algum negócio na região?
Não, todos os ativos a serem alienados estão no Brasil. E essa alienação não trará qualquer tipo de impacto ao atendimento de nossos clientes no mercado externo.
Há interesse de grupos árabes nos ativos que serão alienados pela empresa?
Ainda não existe nenhuma proposta formal. Contratamos o banco BTG Pactual para conduzir esse processo de alienação. No momento certo, o banco receberá as propostas formais e iremos analisá-las cuidadosamente. Pelo acordo com o Cade, temos a obrigação de vender todo o conjunto de ativos para um único comprador. E vamos vender para quem oferecer o melhor preço. São ativos de alta qualidade e que juntos conferem à empresa compradora a condição de segunda colocada no mercado brasileiro.
Quais são os principais problemas que a companhia eventualmente enfrenta no mercado árabe?
Não temos problemas. O Oriente Médio é um mercado importantíssimo, no qual estamos presentes há mais de 35 anos. Hoje, o Oriente Médio responde por quase 32% das exportações da companhia. Temos marcas já consagradas em vários países da região. E, com a construção da fábrica, estamos convictos de que nossa presença local contribuirá ainda mais para o crescimento de nossos negócios nesse mercado.