Nos últimos meses, quase diariamente a imprensa publica opiniões e análises sobre a preparação dos estádios, aeroportos, estradas e hotéis necessários para a realização da Copa em 2014. As opiniões divergem, mas registram a falta de planejamento para programas dessa envergadura. Também em 2014 entrarão em vigor normas e regulamentos sobre o destino final dos resíduos sólidos provenientes de domicílios, indústrias, hospitais, etc. Pelas disposições que se conhecem, os “lixões” deixarão de existir e aterros sanitários deverão conter em larga medida os rejeitos da sociedade. Apesar da medida ser entendida por todos, cabe perguntar o que tem sido feito para a conscientização da população sobre a separação dos resíduos que são produzidos. Ao que se sabe, nada.
Resíduos sólidos são resultantes das diversas atividades humanas e podem ter diversas origens: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de limpeza de vias públicas, etc. O crescimento demográfico, a mudança ou a criação de hábitos, a melhoria do nível de vida, o desenvolvimento industrial e uma série de outros fatores são responsáveis por alterações nas características dos resíduos, contribuindo para agravar o problema de sua destinação final.
O gerenciamento inadequado desses resíduos pode resultar em riscos para a qualidade de vida das comunidades, criando, ao mesmo tempo, problemas de saúde pública e se transformando em fator de degradação do meio ambiente. Além dos problemas ambientais e dos altos custos para operação dos processos, há uma grande rejeição da sociedade à deposição de qualquer resíduo próximo à sua residência, tanto pelos odores desagradáveis como pela desvalorização econômica que produz ao patrimônio imobiliário.
Por sua vez, a solução dos aterros sanitários seria um avanço ponderável, sem dúvida, mas, mesmo protegendo o contato do lixo nele armazenado com o terreno pelo uso de devida proteção, os aterros nada mais são do que verdadeiras cloacas onde o lixo será decomposto, produzindo metano e o chamado chorume, líquido bastante tóxico e sem uso. Enquanto o metano poderia ser utilizado quando devidamente coletado – já há exemplos do seu uso para a produção de energia elétrica em alguns aterros sanitários em várias regiões -, o chorume continua nos aterros, podendo vazar e contaminar o terreno, os lençóis freáticos e nossos rios.
Os lixões e aterros existentes no País já estão, em sua grande maioria, saturados. Uma solução mais racional e moderna já está sendo usada em muitos países da Europa e nos EUA. A solução é a produção de energia elétrica pela queima dos resíduos domiciliares (lixo) em usinas próprias que produzem vapor. Esse vapor alimenta as caldeiras e as turbinas que vão produzir energia elétrica. Na Europa já se processam 130 milhões de toneladas de lixo, gerando energia térmica em mais de 700 instalações e produzindo mais de 8.800 megawatts de energia elétrica.
Os dados estatísticos quanto à limpeza urbana no Brasil são muito deficientes, pois as prefeituras têm dificuldade de normatizá-los de forma uniforme, já que existem diversos padrões de aferição dos vários serviços em cada uma delas. Considerando que nossa população beira os 200 milhões de habitantes, há uma produção média de 200 toneladas de lixo diárias que possibilitariam a produção de energia tendo o lixo como combustível da ordem de 2 mil MW médios dessa fonte, a mesma produção de uma central nuclear como Angra 1.
Em larga medida, os resíduos sólidos poderiam passar a ser equivalentes à biomassa, que já é utilizada na produção de energia elétrica. Ainda poderíamos gerar energia elétrica utilizando os resíduos sólidos em conjunto com a biomassa ou o gás natural. A construção de geradoras de energia elétrica bicombustível maximiza o uso dos dois combustíveis, aumentando a produção da energia assegurada. Talvez, em futuro próximo, nossos edifícios e residências poderão contar em condomínio com a produção da energia elétrica que consomem.
Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e engenheiro; Abel Holtz é consultor na área de energia e negócios e diretor da Abel Holtz & Associados