Além das duras perdas que vem impondo há algum tempo às empresas e aos investidores na BM&FBovespa, que já ultrapassam 23% no ano, agora a crise financeira mundial alcança o Brasil também no mercado de câmbio. Apenas neste mês, a alta do dólar já se aproxima de 20% no mercado interno.
Aparentemente, o BC não contava com essa alta do dólar -ou com ela não se preocupava, devido ao elevado nível de reservas do país. A última ata do Copom indica como prováveis canais de transmissão da crise externa para a economia interna as retrações no comércio, no investimento ou no crédito externos.
O impacto da elevação do dólar sobre a inflação poderá ser mais amplo do que no passado. Além do forte efeito dos preços dos produtos exportáveis, é provável que tenha aumentado a força dos preços dos importáveis, cuja relevância para a economia brasileira cresceu durante a longa fase do dólar barato.
Além disso, mais importações com juros externos muito convidativos podem ter elevado o montante da dívida externa das empresas brasileiras, o que pode desestabilizar os balanços diante da alta pronunciada do dólar.
Preocupadas com os efeitos do dólar barato sobre a competitividade da indústria, as autoridades econômicas tomaram medidas, como a imposição do IOF, que acabaram por frear a oferta de dólares, agravando a turbulência dos últimos dias.
Ainda mantendo aquelas medidas, o BC mostrou-se resoluto ao vender contratos de “swap cambial”, ou seja, equivalente a ofertar dólares no mercado futuro.
Pairam dúvidas, porém, quanto à eficácia desse tipo de ação caso se prolongue a atual movimentação, mostrando se tratar de uma séria fuga de capitais em busca de maior segurança no exterior.
Para o agronegócio em especial, patamares mais elevados do dólar são um tipo de seguro contra possíveis quedas dos preços das commodities que podem ocorrer também devido à crise.
Para a soja em grão, apesar de o preço FOB-Paranaguá em dólares já ter caído 12,3% neste mês, a alta do dólar garantiu crescimento de quase 4% no preço em reais no Paraná (interior).
De modo geral, neste mês as quedas dos preços internacionais em dólares das commodities agropecuárias têm sido bem menores do que a subida do dólar no Brasil. Continuando assim, essa conjugação de fatores habilita o agronegócio a concorrer em melhores condições com os demais fornecedores, de tal sorte que uma redução do mercado global possa ser compensada pelo ganho de fatia maior desse mercado, como é o que se espera no caso das carnes, especialmente a de frango.
Do lado dos custos do agronegócio, a alta do dólar vai ser um complicador. Felizmente, para a safra 2011/12 os produtores rurais tenderam a adquirir com antecedência seus insumos, escapando em boa parte da forte alta de preços ao longo deste ano.
Custos mais elevados provavelmente vão prevalecer para a safra 2012/13 devido à combinação do preço internacional dos insumos e do câmbio no mercado interno.
Por Geraldo Barros, professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.