A menor produção prevista para a safra de grãos, fibras e cereais no ciclo 2011/12 vai pressionar mais os índices de inflação do que o visto nos últimos doze meses até agosto. O Ministério da Agricultura já admite que os preços dos alimentos em 2012 devem “contribuir menos” para o controle da inflação, disse ontem o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Carlos Vaz, após divulgar a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a nova safra.
Nos últimos doze meses encerrados em agosto, a inflação dos alimentos ficou acima do índice geral oficial, o IPCA. De acordo com Vaz, os alimentos em 2012 darão uma “ajuda menor” do que a emprestada em 2011 para reduzir índices de outros segmentos que tiveram inflação maior do que os alimentos.
Com a redução da expectativa para a safra 2011/12, que o governo acreditava ser superior ao recorde de 163 milhões de toneladas do ciclo passado, a previsão é que a pressão inflacionária seja ainda maior em 2012 por causa da menor oferta de alguns produtos. O que se viu até agosto deste ano foi uma alta de 10,4% no IPCA de alimentos e bebidas, enquanto o índice geral de preços subiu 7,2%.
No mês passado, o Ministério da Agricultura previa queda no preço das commodities e uma pressão menor na inflação em 2012. “A previsão para a safra que vem é de queda na cotação das commodities. Com isso, prevemos que a pressão inflacionária será menor”, disse Vaz na divulgação do 12º levantamento de grãos da safra anterior. A expectativa agora mudou.
Mesmo com previsão inferior à do ano passado, o governo considera essa estimativa “conservadora”. O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Sílvio Porto, diz que a pesquisa é baseada em uma metodologia “mais conservadora”, que leva em conta a média de produtividade dos últimos cinco anos. “Esse conservadorismo nos traz mais segurança. Não queremos fazer um levantamento alto para depois ter que explicar o motivo da queda”, afirma. “Começamos por baixo e, se necessário, vamos aumentando aos poucos”.
Segundo a Conab, a produção de arroz sofrerá forte queda na safra 2011/12 em relação às 13,61 milhões de toneladas de 2010/11. A expectativa é que a produção varie entre 12,32 milhões e 12,71 milhões de toneladas, queda de 9,5% e 6,6%, respectivamente. O consumo deve ser manter, ao passo que a produção cairá 1,1 milhão de toneladas. O resultado é o pior estoque desde a safra 2006/07, 1,2 milhão de toneladas.
O feijão sofrerá uma das maiores reduções de área na safra 2011/12. Em 2010/11 foram 1,4 milhão de hectares. Na atual, a expectativa é de que fique entre 1,31 milhões e 1,35 milhões de hectares, queda de 8% e 5%, respectivamente. Com isso, a produção cairá dos 1,68 milhão de toneladas em 2010/11 para 1,31 milhão a 1,37 milhão de toneladas, diminuição de 10,9% e 6,8%, respectivamente.
O milho deve ter aumento da área e de produção. A área passará de 7,92 milhões de hectares para entre 8,25 milhões e 8,49 milhões, alta de 4,2% e 7,2%, respectivamente. A produção deverá sair das 35,9 milhões de toneladas de 2010/11 para entre 35,98 milhões e 37,48 milhões de toneladas, crescimento de 0,2% e 4,3%, respectivamente. O aumento da área plantada de milho na safra de verão no Sul, após três anos seguidos de quedas expressivas, deve puxar o crescimento, segundo dados da Conab.
A produção de algodão, segundo o levantamento, poderá ter forte alta. O estudo trabalha com produção entre 1,93 milhão e 2,11 milhão de toneladas. A colheita na safra 2010/11 foi de 1,96 milhão de toneladas. A área plantada pode variar de 1,36 milhão de hectares até 1,49 milhão de hectares. Na safra passada, foram plantadas 1,4 milhão de hectares.
Um fator determinante para o bom andamento da safra será a condição climática, segundo Porto. “A previsão do tempo para os próximos meses é favorável, mas a análise de um longo período passa a ser um dado sem segurança”, diz. O caso mais crítico no momento é o Sul do país. Caso a estiagem na região se mantenha, a produção sofrerá fortes impactos. “O comportamento do clima poderá surpreender e fazer com que colhamos mais uma safra recorde”.
Segundo José Carlos Vaz, a margem de renda dos produtores deverá continuar positiva na próxima safra. “Isso graças à valorização cambial, que compensa o recuo dos preços das commodities”, diz.