Os mercados de commodities agrícolas devem permanecer ajustados, com preços elevados e voláteis, apesar da melhora na oferta e o enfraquecimento da demanda, disse ontem (3) a agência das Nações Unidas para alimentação, que elevou suas estimativas da produção mundial de grãos este ano, prevendo marca recorde.
Os preços globais dos alimentos caíram nos últimos meses, ajudados pela melhora das safras, mas continuam elevados e sujeitos a oscilações em meio à instabilidade dos mercados financeiros e de capitais, apontou a Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) em seu relatório Food Outlook.
“Apesar das perspectivas de melhoria do abastecimento e enfraquecimento da demanda, as condições do mercado de commodities agrícolas permanecem bastante apertadas, o que é o principal fator que sustenta os preços … O quadro geral ainda aponta para os mercados firmes em 2012”, disse a FAO em relatório.
“Deixar os mercados internacionais continuarem em seu estado atual, volátil e imprevisível, só vai agravar uma perspectiva já sombria para a segurança alimentar mundial”, disse a FAO antes de um encontro do G20 na França, que acontece nesta quinta e sexta-feira.
Os preços mundiais de alimentos, medidos pela FAO, atingiram sua marca mais baixa em 11 meses em outubro, devido a quedas acentuadas em grãos, açúcar e outras commodities agrícolas.
Recorde – A produção de cereais do mundo deverá crescer 3,7%, para um recorde de 2,325 bilhões de toneladas neste ano, impulsionada por um salto de 6% na safra de trigo – melhor que o esperado -, previu a agência com sede em Roma.
A FAO também elevou sua projeção sobre a produção de grãos, incluindo a de milho, fez uma previsão de safra recorde para o arroz e elevou sua estimativa de estoques globais de grãos no final da temporada 2011/12, para 506,6 milhões de toneladas, um aumento de 3,3% ante a temporada anterior.
Graças a um salto de 37% na produção de trigo na Rússia – recuperando-se, depois de afetada no ano passado por uma seca severa -, as exportações deste cereal do país deverão subir para pelo menos 18,5 milhões de toneladas na temporada 2011/12, perto do recorde de 2008/09.
Os embarques de trigo da Ucrânia devem triplicar, totalizando 9 milhões de toneladas, enquanto para as exportações de trigo do Cazaquistão as previstas são de um salto de 30%, para 7,2 milhões de toneladas, disse a FAO.
Os mercados de trigo permanecem voláteis, com os preços oscilando em linha com as oscilações dos mercados de milho, que estão muito mais apertados, principalmente devido ao aumento do uso do trigo na alimentação animal, disse a agência.
As áreas de trigo de inverno devem ficar estáveis em 2012 ou ligeiramente maiores no hemisfério norte, graças às condições favoráveis ao plantio de modo geral, com exceção de partes dos Estados Unidos e da Ucrânia, disse.
A produção de commodities alimentares terá de aumentar no próximo ano para atender à demanda, mesmo que esta venha crescendo lentamente, disse a agência. A demanda da indústria de biocombustíveis é vista como moderada.
“O custo dos insumos, dos fertilizantes à energia, continua elevado, as taxas de juros subiram em muitas economias emergentes, e tudo isso pode reduzir a produção no próximo ano e, portanto, pressiona estoques e poderá impulsionar os preços mais tarde”, disse.
Os custos globais com importação de alimentos devem subir para cerca de US$ 1,3 trilhão em 2011, com o custo de compra de alimentos para os países menos desenvolvidos subindo por mais de um terço sobre 2010, apontou o levantamento da FAO.