A cadeia brasileira do algodão avisou ao governo que quer compensação pelos anos de briga contra os subsídios dos EUA, com ou sem retaliação contra produtos americanos. Haroldo Cunha, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), disse privilegiar a sanção imediata sobre mercadorias americanas em até US$ 560 milhões, que deflagra o gatinho para completá-la depois com retaliação em patentes farmacêuticas.
Com o dinheiro das sobretaxas impostas nas importações de produtos americanos, disse Cunha, o governo poderia criar um fundo para pesquisa e desenvolvimento, ideia que está em gestação. Ele está na expectativa de aprovação da lista de retaliação nesta terça-feira pela Camara de Comércio Exterior (Camex). Se o governo chegar a um “acordo provisório” com os EUA para evitar a retaliação, Cunha defende algum tipo de acordo de cooperação científica, com financiamento americano para desenvolvimento biotecnológico e linhas de investimentos. Ele espera aporte americano para os brasileiros combaterem, por exemplo, o bicudo, que eleva o custo de produção em US$ 120 por hectare só com pulverização de defensivos. A fatura fica em US$ 100 milhões por ano.
Ele descarta acordo sobre acesso a mercado, porque não exporta aos EUA e os americanos vendem muito pouco algodão para o Brasil. Além disso, um acordo para evitar agora a retaliação teria de ser “provisório e embutindo o compromisso americano do fim dos subsídios condenados”. Cunha vê “disposição” na Esplanada dos Ministérios para retaliar os EUA. A segurança é menor sobre o que a Casa Civil fará com a proposta de projeto de lei ou MP para aplicar a retaliação cruzada.
“A retaliação é ruim, porque reduz comércio, mas é a única maneira de levar os EUA a cumprir as determinações da OMC (…) A ameaça do novo embaixador dos EUA, de tambem reagir com retaliação, é o fim da picada, depois de os EUA terem sido condenados mais de uma vez por ilegalidade”. Em Washington, o Conselho Nacional de Algodão quer que, em caso de retaliação brasileira, a Casa Branca abra novo painel na OMC para mostrar que acabou com os subsídios ilegais.