As operações de bovinos no Brasil, cuja força no passado deram impulso a voos internacionais do JBS, voltam a ser uma das principais apostas do grupo em um momento em que o mercado global ainda sofre com as sequelas de uma de suas piores crises, avaliou Joesley Batista, presidente da maior empresa de proteína animal do mundo. Neste ano os negócios da companhia no Brasil, já com a incorporação da Bertin, devem se sobressair mais em função de um mercado interno aquecido do que pelas exportações, que no passado geraram musculatura para as grandes aquisições no exterior.
“Acho que [a crise] passou, só que tem sequelas… O mercado está bom, mas talvez não esteja tão bom quanto muita gente já estava precificando. Acho que o mercado interno vai ser melhor que o externo”, declarou Batista após a inauguração da Escola Germinare, patrocinada pelo Instituto JBS.
De acordo com o presidente do JBS, o mercado brasileiro está “melhor do que a média” mundial. “Se for falar na ordem, primeiro o Brasil, segundo os EUA, aí vem outros como Rússia, China…, por último Europa e Japão, são os que estão demorando mais a retomar.”
Segundo ele, as margens das operações no Brasil estão se recuperando, após o negócio ter sido reestruturado por conta das restrições da União Europeia, que há dois anos aumentou as exigências em relação à rastreabilidade do gado abatido para exportação ao bloco. “Estamos conseguindo achar outros mercados, recompor: estamos crescendo. Os indicadores têm melhorado trimestre a trimestre. Vamos assistir a uma melhoria contínua das margens no Brasil”, disse.
Para ele, se a Europa continua ruim, até por conta da economia, a JBS tem expandido suas vendas para a Rússia, países árabes, Chile e nações da Ásia. “E no mercado interno expandimos tremendamente a nossa base de clientes”.
Batista acaba de chegar da Rússia, onde esteve para a inauguração da fábrica da JBS Inalca e em reuniões com autoridades para tratar do embargo às carnes do EUA, que afeta sua subsidiária americana, a Pilgrim’s Pride. Ele acredita que a situação será resolvida no máximo até março. A Rússia suspendeu as compras de frango dos EUA por conta do uso de cloro na higienização das carcaças. Metade das exportações da Pilgrim´s seguia para a Rússia.
A recente fraqueza nos mercados de capitais, que levou a JBS a adiar a oferta de ações da JBS USA, parece não ter diminuído o ímpeto da companhia, que também tem operações na Austrália, Europa, América do Sul e África, e planeja expandir a distribuição direta de seus produtos.
Se o IPO nos EUA, que levantaria US$ 2 bilhões para serem investidos principalmente em distribuição, foi adiado, a empresa já conta com outros US$ 2 bilhões das debêntures compradas pelo BNDES, cuja segunda parcela de US$ 700 milhões foi depositada sexta-feira.
Com o caixa reforçado pelos recursos que garantiram os níveis de alavancagem do JBS anteriores às grandes aquisições de 2009, Batista disse que se houver alguma aquisição em 2010, o foco serão companhias que atuam “mais da porta para fora”. De acordo com ele, neste ano, o grupo buscará consolidar as aquisições de Bertin e Pilgrim´s.
Batista previu que a JBS terá uma receita em 2010 superior aos US$ 30 bilhões/ano pro forma estimados após a aquisição de Bertin e Pilgrim’s. Previu ainda ganhos na margem consolidada e em sinergias.
“E mesmo tendo aquisições, serão aquisições alinhadas com a estratégia da distribuição e menos na produção. Vamos comprar companhias? Pode ser. Que tipo de companhia? Mais companhias voltadas ao mercado do que voltadas à produção, mais voltadas à distribuição…” A distribuição direta pode atingir 50% do total vendido pelo grupo, contra menos de 10% hoje.