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Biocombustível

Resíduos agrícolas vão virar etanol

Palha do milho, restos de madeira e bagaço da cana-de-açúcar poderão ser utilizados na produção do biocombustível.

O Brasil está mais próximo de se tornar um dos países produtores de etanol de segunda geração. Uma das empresas próximas a viabilizar a produção, a multinacional dinamarquesa Novozymes, que tem um centro de pesquisas em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, deve apresentar em março duas enzimas, batizadas de Cellic CTec2 (celulase) e a Cellic HTec2 (hemicelulase), que são capazes de produzir o etanol a partir de resíduos agrícolas, como a palha do milho, restos de madeira e bagaço da cana-de-açúcar.

A apresentação no Brasil o produto já foi mostrado nos Estados Unidos, este mês deve acontecer durante o F.O. Licht’s SugarEthanol Brazil 2010, evento voltado para o mercado sucroalcooleiro, previsto para acontecer em São Paulo, de 22 a 24 de março. A proximidade da data anima o presidente da Novozymes Latin America, Pedro Luiz Fernandes. Para ele, com a implantação gradativa da tecnologia, até 2020 o Brasil terá condições de dobrar a produção atual de etanol sem a necessidade de aumentar sequer um metro quadrado da área plantada de cana-de-açúcar.

De acordo com Fernandes, o Brasil tem uma grande vantagem sobre a maioria dos outros países no potencial de produção do etanol de segunda geração, ou “etanol 2G”, como vem sendo chamado. “Nos Estados Unidos, esse etanol vem da palha e do sabugo de milho. No Brasil, virá do bagaço e de parte das folhas da cana. E esse material já está inserido no processo, já fica hoje dentro da indústria”, explica.

O executivo afirma que ainda é cedo para projetar qual o impacto da produção do etanol 2G no preço do produto final nas bombas dos postos de combustíveis, já que não existe ainda uma indústria do ramo. “Vai depender da otimização dos processos, dos custos de cada segmento da cadeia produtiva, entre outros fatores”, diz. Ele acredita, porém, que no último trimestre deste ano, ou no início de 2011, já possa haver uma resposta. “Aí é que todo o processo vai ser estudado e passaremos para a escala pré-comercial”, afirma. Atualmente, o projeto está na escala piloto.

Ainda assim, nos Estados Unidos, onde o etanol 2G pode começar a ser produzido comercialmente já no ano que vem, já aparecem algumas projeções de valores. O custo da enzima para produzir um galão do combustível (que equivale a 3,8 litros) deve ficar em US$ 0,13. O valor deve manter o custo de produção do etanol 2G, em um primeiro momento, ao menos equivalente ao da primeira geração do produto e da gasolina comercializada naquele País, que custam cerca de US$ 0,50 por galão.

Comparação

Fernandes explica que, com 50 quilos de bagaço de cana-de-açúcar quantidade facilmente encontrada entre ambulantes que vendem caldo de cana é possível produzir entre 5 e 7 litros de etanol. Para ele, a quantidade produzida em larga escala não competiria com a primeira geração do produto. “É apenas uma rota tecnológica a mais na cadeia produtiva”, argumenta. Ele lembra que a alternativa pode ser interessante principalmente em momentos críticos do setor, como o que aconteceu na última safra, que enfrentou problemas climáticos e ainda teve grande parte da produção desviada para a fabricação de açúcar, que estava com melhores preços.

Nem só a Novozymes está empenhada nas pesquisas para a produção de etanol de segunda geração. Outra empresa dinamarquesa, a Genencor, também está na corrida pelo desenvolvimento de enzimas que transformam resíduos em açúcares e apresentou, quase ao mesmo tempo que sua concorrente, sua solução nos Estados Unidos. Estimulados por políticas recentes de pesquisa, cientistas ligados a universidades brasileiras são outros que entraram na competição. A Embrapa também anunciou, este mês, resultados animadores de suas pesquisas na área. As pesquisas da Novozymes no Brasil são feitas em parcerias com entidades como a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e o Centro de Tecnologia Canavieira, de Piracicaba (SP).
Pesquisas são forte estímulo à internacionalização do etanol

O lançamento das enzimas tem animado o setor sucroalcooleiro do Brasil. Para a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), as pesquisas da Novozymes para fabricação de etanol celulósico, ou de segunda geração, são “um forte estimulo à internacionalização do uso do etanol e sua consolidação como commodity energética”.

Através de um comunicado da Única, o consultor de Emissões e Tecnologia da entidade, Alfred Szwarc, disse que o Brasil deve ter vantagem competitiva na produção do etanol de celulose. “O bagaço da cana é matéria-prima já disponível na unidade de produção de açúcar e etanol, e a nova planta industrial para produção do etanol celulósico poderá ser integrada às unidades existentes”, afirmou.

O consultor também ressaltou a perspectiva de aumento substancial da produtividade por hectare de cana, já que a mesma quantidade da planta poderá produzir mais etanol. Szwarc também apontou boas perspectivas para outros países já que, para ele, a nova tecnologia “deve viabilizar a produção de etanol a partir de uma variedade de matérias-primas, inclusive em países onde atualmente o etanol recebe pouca atenção por ter custos mais elevados de produção, ou então por limitada disponibilidade de matérias-primas”.