Em estudo publicado no Boletim Econômico da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo, Fernando Homem de Melo destaca que a valorização do real está prejudicando o setor agrícola. A safra de grãos plantada na região Centro-Sul no segundo semestre de 2009 começa a ser colhida agora. Nos próximos meses estará plantada a safra de grãos na região Nordeste. E problemas como excesso de chuvas já prejudicaram as safras de arroz no Rio Grande do Sul e de feijão no Paraná. Segundo o analista, as áreas plantadas com grãos na safra 2009/2010 indicam que a agricultura teve, no total, um quadro de estagnação. O desfavorável quadro econômico em 2008/2009 e as previsões também negativas para a taxa de câmbio em 2010 parecem ter influenciado o comportamento dos produtores.
Apenas a soja e o trigo tiveram crescimento de área, salientando-se o da soja, pois a área de trigo foi plantada no segundo trimestre de 2009, quando a taxa de câmbio estava mais favorável aos produtores. Os demais produtos tiveram reduções de área plantada. Os casos mais expressivos foram os do milho (menos 12%), arroz (menos 3,9%) e algodão (menos 3%). As mudanças na taxa de câmbio favoreceram a comercialização da safra no primeiro semestre de 2009, mas não o plantio da de 2009/2010: No primeiro trimestre de 2009, o dólar valia R$ 2,3 e, no quarto trimestre, já estava a R$ 1,74. Comentou Homem de Melo:
– Não houve a crise agrícola que muitos, precipitadamente, previam, pois a depreciação do real compensou, em parte, a queda de preços internacionais após a crise de setembro de 2008. Os períodos críticos para o plantio da safra de grãos, em termos de tomada de decisões, compra de insumos e efetivação do plantio são o terceiro e o quarto trimestres de cada ano. Em 2009, eles foram marcados por uma forte apreciação do real. Daí, em nosso entendimento, a estagnação – excetuando-se a soja – da área plantada. A área de cana-de-açúcar deverá continuar crescendo a um bom ritmo, por razões específicas.
O desempenho da produção foi melhor que o da área, havendo um crescimento para o total de grãos de 5,9%. Razões climáticas e tendências de melhorias de produtividade explicam isso. Novamente, o destaque será a soja. Os preços recebidos pelos produtores brasileiros continuaram sua tendência de queda em dezembro de 2009, janeiro e fevereiro de 2010. Esse índice é formado pelos preços de feijão, milho, soja, algodão, batata, laranja, arroz, café, bovinos, suínos e frangos. A predominância, portanto, é de produtos comercializáveis para exportação, cujos preços internos têm grande influência da taxa de câmbio e dos preços internacionais.
A evolução da taxa de câmbio em 2009 e até fevereiro de 2010 foi de forte apreciação. A partir de novembro houve, na média, uma pequena depreciação. Entretanto, em 2 de março a taxa, de R$ 1,7843 por dólar, já marcava reversão. Os preços dos principais grãos, notadamente soja e milho, continuaram em queda em fevereiro. O preço internacional da soja, influenciado por uma grande produção mundial, passou de US$ 380 / ton em dezembro de 2009 para US$ 344 / ton em fevereiro de 2010 na Bolsa de Chicago.
Quedas um pouco menos pronunciadas ocorreram para algodão, trigo e milho. A grande exceção está sendo o preço do açúcar na Bolsa de Nova York. Ele passou, por razões de escassez de oferta, de US$ 269 /ton em janeiro de 2009 para US$ 626 / ton em janeiro de 2010, embora tenha caído, em fevereiro, para US$ 586 / tonelada. A expectativa é de que as excelentes produtividades e menores custos de produção compensem, pelo menos em parte, esses preços menores para grãos no Brasil, mantendo um quadro de rentabilidade ligeiramente positiva. O caso mais grave é o do milho, com preços abaixo dos custos. E é preocupante que, na segunda safra de milho, já se vê redução de área.