O Brasil sentirá o impacto da abertura do mercado chinês à carne bovina brasileira a partir de 2011. Na semana passada os dois países fecharam acordo durante passagem do presidente chinês, Hu Jintao, pelo País. Também ficou acertado que uma comitiva brasileira vá à Pequim em junho.
A conquista desse novo cliente incrementará os resultados do setor, que já começam a ser revistos pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). A projeção agora é de expansão de até 25% ante estimativa entre 15% e 18% feita no fim do ano passado.
“Os números do primeiro trimestre [deste ano] apontaram acréscimo de 26%”, disse Otávio Hermont Cançado, diretor executivo da Abiec. “Por causa disso, apontamos uma alta total até dezembro entre 20% a 25% se os ganhos permanecerem”, acrescentou Cançado. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), órgão que analisa as tendências mundiais de mercado, e o Ministério da Agricultura indicaram aumentos, também em dezembro, nas vendas para o exterior entre 20% e 25%, respectivamente, quando comparados ao último ano.
Na última sexta-feira (16), em Brasília, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, confirmou uma missão do governo brasileiro à China em junho para negociar acordos agrícolas que viabilizem a exportação entre os dois países. As negociações também podem ser realizadas no Brasil (no mesmo mês), disse Rossi, depois de se reunir com o ministro da Administração Geral de Supervisão da Qualidade, Inspeção e Quarentena da China (AQSID), Wang Young. De acordo com Cançado, a viagem seria em setembro, e que essa inconstância na agenda causa um certo receio. “Estava certo para setembro, mas já que anteciparam, ótimo”, comentou.
Cançado acredita que a abertura do mercado para a China será na metade do segundo semestre deste ano. Outra questão que envolve as negociações diz respeito às plantas. “Há cinco estabelecimentos habilitados e aptos para atender a demanda chinesa. O País quer ampliar para 17 para vender carne bovina in natura, mas depende deles [chineses] reconhecerem esses frigoríficos”, afirmou o executivo.
De fato, o Brasil já mantinha uma comercialização de carnes com os asiáticos. Mas, em consequência da burocracia chinesa em cima do produto brasileiro, a negociação não gerava ganhos altos. “Acre, Rio Grande do Sul, Rondônia e Santa Catarina tinham negócios estabelecidos com a China, mas como a burocracia era muito grande, os lucros eram inexpressivos”, afirma.
Para o especialista Alex Lopes da Silva, especialista da Scot Consultoria, o mais importante é expandir o mercado e ter acesso a vários compradores. “No início, os lucros com os chineses serão provavelmente em baixo volume. Mas a demanda é bastante crescente, a China vem mudando os atos de consumo, além de a população consumir bastante carne”, diz Lopes da Silva.
Hoje, segundo o consultor, a Rússia é o maior comprador de carne bovina brasileira. “Cerca de 30% dos embarques vão para eles”, diz. Segundo o consultor, o Brasil atende mais de 150 países.
Para Paulo Molinari, especialista da Safras & Mercado, ainda é cedo para falar sobre números. “Antes, precisamos saber se a demanda vai encaixar ao oferecido pelo Brasil. Não dá para dizer se eles vão pedir 90 mil ou 1 milhão de toneladas de carne”, falou.
Em 2008, o faturamento brasileiro total com o complexo carnes somou cerca de US$ 5,5 bilhões. No ano seguinte, com a crise financeira mundial, os lucros entraram em declínio e o País faturou US$ 4,259 bilhões.
Outros acordos
Representantes dos dois países devem voltar a se reunir antes do dia 21 de julho, data em que a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Coordenação (Cosban) se encontra. Wagner Rossi afirmou que o País gostaria de formalizar acordos com a China no encontro da Cosban.
Além disso, na última sexta-feira, o ministro da AQSID voltou a falar sobre o interesse em vender pescados e frutas para o Brasil, de acordo com o ministro.
Durante o encontro, foi levantado também a inclusão da Bahia e Alagoas na lista de Estados autorizados a vender folhas de tabaco para a China.