crise econômica europeia, disparada com a debacle da Grécia, não vai impedir o novo ciclo de expansão econômica do Brasil, cujo Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 5,5% a 6% este ano, disse ontem o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, no seminário “Brazil Infrastructure Summit”. Promovido pelos jornais Valor e “Financial Times”, o encontro reuniu, em seu primeiro dia no Rio de Janeiro, especialistas e autoridades da área de infraestrutura para discutir as propostas e possibilidades de desenvolvimento e financiamento de projetos no país.
Em sua palestra no painel “Panorama Econômico Brasileiro”, Mantega falou das condições que fizeram do país um dos únicos no mundo a crescer enquanto a maioria se retraía pela crise internacional. Destacou o crescimento sustentado da economia brasileira com geração de empregos e equilíbrio fiscal e avaliou positivamente o pacote financeiro acertado pela União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), de US$ 955 bilhões ( € 750 bilhões), aprovado na segunda-feira.
Mantega disse que o pacote “deve ser suficiente para restabelecer a tranquilidade”, apesar de ter chegado tarde. “A União Europeia estava lenta, dormiu no ponto e a conta foi subindo”, criticou. Para o ministro, o pacote europeu permite prever uma recuperação da economia mundial a partir de 2011, o que beneficiaria diretamente o Brasil ao reduzir a pressão sobre as contas externas. “Temos tido problemas com déficit em transações correntes que se deve à crise que reduziu o comercio internacional e, portanto, os nossos mercados.”
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, também se mostrou otimista em relação à possibilidade de que o pacote de ajuda anunciado pela União Europeia evite o contágio da crise iniciada na Grécia. “Os países se juntaram, vai ter um grande ajuste fiscal. A economia vai continuar funcionando”, frisou Goldfajn, para quem a economia global ainda vai sofrer os efeitos de um crescimento mais modesto no médio prazo. “Mas não será mais um crise desorganizada”, acrescentou.
Para o Brasil, a projeção de Goldfajn é de que a crise europeia não afetará a tendência de um crescimento forte para este ano. A estimativa de crescimento do Itaú Unibanco para o país em 2010 é de 6,5% e o economista confirmou que o patamar está sendo revisto, “provavelmente para cima”.
Na visão de Mantega, a solução da crise internacional com o pacote financeiro da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional também é importante do ponto de vista de perspectivas de financiamento dos projetos de infraestrutura a médio e longo prazos. “O Brasil hoje pode ser considerado um canteiro de obras”, afirmou Mantega apresentando um mapa com as principais obras em curso no território nacional, entre elas rodovias, ferrovias, plataformas de petróleo e hidrelétricas.
Mantega garantiu que o volume de poupança interna prevista para 2010, da ordem de 18,5% do PIB mostra forte recuperação em comparação com 2009, quando foi de 16,5%. No entanto, o salto nos investimentos previsto para os próximos anos vai exigir poupança estatal e externa para garantir o financiamento de projetos que, só na carteira do BNDES, já passam de R$ 300 bilhões.
Em entrevista ao Valor, Mantega rebateu as críticas de economistas e analistas de que haveria um superaquecimento da economia brasileira. No entanto, disse que o governo prepara medidas de curto e médio prazo para evitar ameaças ao cumprimento da meta de inflação para 2010, de 4,5%.
Retiradas as medidas de estímulo tomadas em 2008 como redução de IPI e de depósitos compulsórios nos bancos, o próximo passo será cortar gastos públicos. Segundo Mantega, o corte vai atingir gastos correntes em todos os ministérios, mas o valor global da redução ainda está em definição, sujeita à aprovação do presidente luiz Inácio Lula da Silva.