A crise nos países europeus deve acentuar a tendência de redução da fatia da União Europeia (UE) como destino das exportações brasileiras. No primeiro quadrimestre a média diária de embarques para o bloco subiu 20% em relação ao mesmo período do ano passado, num ritmo de crescimento menor que o da média diária total, de 25%.
Economistas acreditam que a crise na zona do euro deve acelerar uma perda de espaço que já vem ocorrendo nos últimos anos. Em 2000, o bloco recebia 26,8% dos embarques brasileiros. A partir de então, a participação dos europeus nas vendas brasileiras sofreu gradativa redução. Chegou a ter uma recuperação em 2007, mas voltou a cair e no ano passado fechou em 22,2%, o menor nível dos últimos dez anos. O primeiro quadrimestre fechou com 22,2% de participação, o que significa queda em relação ao mesmo período do ano passado, quando a UE tinha 23,1% dos embarques brasileiros.
De acordo com análise da equipe de economistas do Bradesco, as exportações para UE tiveram crescimento menor do que as das demais regiões nos últimos anos e a expectativa é que com o ajuste fiscal essa tendência se acentue. Um efeito global de preços que atinja o desempenho da balança comercial geral do Brasil é considerado pelo Bradesco um cenário pouco provável.
André Loes, economista-chefe do HSBC, tem análise semelhante. Ele lembra que a Europa é importante compradora, principalmente de commodities brasileiras. “No caso de manufaturados, a crise poderia provocar uma redução de preços em função da menor demanda”, diz. “A vantagem da commodity é que ela é homogênea, o que facilita realocar essas exportações em relação aos manufaturados.”
Uma queda de demanda das commodities também poderia afetar preços, mas Loes acha que esse efeito deve ser pontual. Para ele, os embarques à União Europeia acabarão sendo destinados a outras regiões, como a Ásia. “Principalmente China, que vem crescendo mais do que o esperado.”
O efeito da crise europeia, por isso, acredita Loes, deve-se restringir mais à balança comercial entre o Brasil e o bloco, afetando pouco as trocas globais do país.
O economista André Sacconato, da Tendências Consultoria Integrada, considera inevitável a redução da fatia das exportações brasileiras para a União Europeia (UE). “O crescimento da Europa vai ser mais baixo do que o dos EUA ou da China nos próximos anos”, resume ele, observando que, a despeito do megapacote de ajuda, há problemas estruturais que devem segurar a expansão da economia europeia por um bom tempo. Para 2010, a Tendências aposta num crescimento de apenas 0,9% para a UE, abaixo dos 2,4% esperados para os EUA e muito inferior aos 9,5% previstos para a China. Sacconato acredita que, além da China, a Índia, a Rússia e países do Oriente Médio devem ganhar espaço como destino das exportações brasileiras, por serem polos mais dinâmicos de expansão econômica.
Alguns economistas, porém, têm considerações menos otimistas. Fábio Silveira, sócio diretor da RC Consultores, acredita que a crise na zona do euro deve ter efeito global amplo. “A União Europeia está no centro dos mercados e uma redução de demanda deve provocar queda dos preços”, argumenta. “A China pode desacelerar a expansão. Se seu crescimento era de 10%, vai crescer somente 9%.” A queda global de preços, acredita Silveira, deve afetar o saldo da balança comercial brasileira previsto para 2010. Para ele, o resultado das trocas, antes estimado em US$ 12 bilhões, deve ficar em US$ 7 bilhões ou US$ 8 bilhões.
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que até a última semana acreditava que a crise europeia teria repercussão nas exportações brasileiras como um todo, com a queda de cotações das commodities provocando uma recomposição total de preços. “Mas com o pacote anunciado e a efetiva injeção de recursos, o impacto deve ser muito pequeno.”.