Ainda sem confirmação pelo governo argentino nem reação do brasileiro, as restrições de importação de alimentos industrializados do país vizinho já causam prejuízos. No mais recente capítulo da disputa comercial entre os dois maiores sócios do Mercosul, 7 milhões de latas de milho – o suficiente para encher cem carretas – já tiveram embarque suspenso no Estado, enquanto clientes argentinos tentam descobrir o que está proibido e o que segue liberado.
Na indústria de conservas Oderich, com sede em Montenegro, a exportação para a Argentina chega a US$ 2 milhões por trimestre. Caso seja confirmada a restrição, comunicada verbalmente pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, a supermercados argentinos, os prejuízos podem afetar empregos e produtores.
“Todo o setor será afetado pela política terrorista imposta pela Argentina. Justo agora, quando estávamos estabelecendo relação de confiança com os clientes “, lamenta o diretor comercial da empresa, Marcos Oderich.
Na Cooperativa Central Aurora, de Chapecó (SC), há temor de perda de US$ 1 milhão mensais com exportações à Argentina – a empresa vende 15% da carne suína brasileira ao país vizinho. O presidente da Aurora, Mário Lanznaster, teme que o fechamento do mercado argentino torne a disputa pelo consumidor brasileiro mais acirrada.
“A reação do Brasil deve ser imediata, na mesma moeda”, defende.
Pelos dados da Associação Brasileira da Indústria de Produção e Exportação de Carne Suína (Abipecs), a Argentina é o quinto destino das vendas nacionais.
“A decisão é tão absurda que só acabando com o Mercosul para revidar”, propôs o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto.
No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a orientação é não comentar o episódio, por não haver decisão formal. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Edmundo Klotz, estima mais prejuízos às indústrias argentinas do que às brasileiras.
“A Argentina representa só uma fração da balança comercial do setor de alimentos. Há muito o país deixou de ser importante para nós”, avaliou.
Empresários do país vizinho pedem revisão de estratégia
Daniel Funes de Rioja, presidente da Coordenação das Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal), da Argentina, confirma a impressão dos brasileiros, ponderando que o setor exportou US$ 22 bilhões e importou apenas US$ 1 bilhão em 2009:
“O governo deve revisar a estratégia. A política comercial, interna e externa, deve respeitar os compromissos de que a Argentina é parte, não só por segurança jurídica, mas para evitar represálias que aparecem dos países afetados”.
Pedro Oroz, administrador da Câmara Argentina de Supermercados, confirma não haver perspectiva de publicação dos itens que poderão ser importados, mas prevê esclarecimentos na próxima reunião com Moreno, sexta-feira:
“Não temos mais informações. Não temos porque brigar. O Brasil é o maior do mundo, nós somos os melhores”.