Mudanças em processos produtivos, troca periódica de modelos e diversificação da oferta fazem parte das estratégias adotadas por fabricantes de mercadorias protegidas por taxas antidumping. As indústrias reconhecem o efeito benéfico do mecanismo de proteção, mas, paralelamente, adotam medidas para dar mais competitividade em relação aos importados. As empresas alegam que a sobretaxa tem sido burlada com a triangulação e a importação dos produtos protegidos por terceiros países. Além disso, a valorização do real faz a aplicação do direito perder parte da força.
Manolo Miguez, presidente da Escovas Fidalga, disse que o segmento passou a ser alvo da importação por terceiros países logo que a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) passou a aplicar o direito antidumping definitivo na importação de escovas de cabelo da China, em dezembro de 2007.
De janeiro a agosto de 2007, o Brasil importava US$ 2,4 milhões em escovas chinesas. No mesmo período deste ano, o valor caiu para US$ 517,5 mil. Os desembarques do produto originado de Taiwan, porém, alcançaram US$ 3,2 milhões de janeiro a agosto de 2010. No mesmo período de 2007 as importações de escovas taiwanesas foi de US$ 92,4 mil.
Uma das formas de concorrer com os importados, diz Miguez, é trabalhar com produtos de maior valor agregado. A indústria produz, por exemplo, uma linha infantil com personagens e faz escovas com a assinatura de cabeleireiros famosos. “Trabalhamos sempre com cores e design brasileiros, temos 150 produtos em linha e fazemos mudanças a cada seis meses, porque nesse tempo começam a surgir imitações.” As medidas, porém, não impediram o encolhimento da empresa. A Fidalga tem hoje, segundo Miguez, um terço da produção que possuía em 2005.
“A medida antidumping costuma ser extremamente favorável assim que é aplicada, mas, em muitos casos, a proteção é neutralizada pelo uso de terceiros países”, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Quando isso acontece, a indústria volta a concorrer com preços às vezes ligeiramente mais altos. Algumas empresas investem em produtos novos, na medida do possível.”
Diversificação de produção foi a estratégia adotada pela Bravox, tradicional fabricante de alto-falantes. “A medida antidumping entrou em vigor em 2008 e deu um respiro para a empresa começar a investir mais”, conta Marcelo Lima de Freitas, diretor da indústria. Como resultado disso, em 2008, lembra, a empresa lançou 44 modelos de alto-falantes. Nos dois anos anteriores foram lançados, anualmente, apenas 15. Além disso, a empresa passou a trabalhar com um produto diferenciado: as caixas para home theater, o que permitiu ampliar os canais de venda.
“Em 2008, no primeiro ano de vigência da medida antidumping, sentimos mais segurança e investimos 2,5 vezes o valor de 2007”, diz Freitas. Em 2009, conta, o investimento caiu um pouco, mas foi 61% superior ao de 2007. Segundo Freitas, a empresa aproveitou para diversificar a produção, passando a fabricar também aparelhos de CD e DVD para automóveis, além de uma linha de alto-falantes mais sofisticados, para home theater. A nova linha, lançada em 2008, tem participação cada vez mais forte no faturamento total da empresa.
A Bravox mantém o mesmo número de funcionários que tinha antes da medida antidumping. Para ele, a sobretaxa faz diferença a favor das indústrias brasileiras, mesmo com o real bem mais valorizado. “Se não fosse a medida eu teria agora um décimo da produção. Teríamos deixado de fabricar e nos tornado apenas importadores.” Mesmo assim, a empresa prefere diversificar cada vez mais a produção e depender menos dos itens que sofrem competição direta da China. Segundo Freitas, a Bravox deve voltar a fazer um lançamento de produto nos próximos meses.
Recém-beneficiados por uma medida antidumping sobre calçados chineses, que tornou-se definitiva em março, os fabricantes nacionais do produto já reclamam do que consideram indícios de triangulação na importação de calçados chineses. O setor percebeu forte aumento na importação de calçados made in Malásia, por exemplo.
Marlin Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi, lembra que, além de um trabalho de comunicação mais direcionado na venda de produtos para classes A e B, a empresa também tem optado por trabalhar modelos com vida útil mais longa, o que ajuda a reduzir custos.
“Há um trabalho constante para melhorar a produtividade, com mudanças em métodos e processos de produção”, explica. Um dos resultados disso, exemplifica, é a redução de 40 minutos para 35 minutos na montagem de alguns modelos de calçados. Para a Bibi, os calçados esportivos protegidos pelo antidumping representam 40% das vendas da empresa.