Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Economia

Fertilizantes em alta

Um ano de recuperação de demanda e aportes na área de fertilizantes. Indústria supera reflexos da crise de 2008 e fecha "bom 2010".

Quando se reunir hoje em São Paulo para seu tradicional jantar de confraternização de fim de ano, a indústria brasileira de fertilizantes terá no cardápio uma combinação alijada das festas de 2008 e 2009: motivos para comemorar o ano que passou e perspectivas positivas para o que virá.

Após as dificuldades derivadas do recrudescimento da crise financeira global, em setembro de 2008, o segmento ainda teve que escoar em 2010 parte dos estoques acumulados desde então, mas voltou a ampliar os investimentos em produção e distribuição e contou com a recuperação de demanda e preços para fechar o ano com vendas 16% superiores ao do anterior.

Estimativa da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) aponta que o faturamento líquido da indústria deverá alcançar US$ 11,2 bilhões em 2010, ante US$ 9,7 bilhões em 2009. Como não pode fazer previsões por abrigar empresas com ações negociadas em bolsa, a Anda leva em consideração em seu cálculo projeção da RC Consultores que sinaliza que as entregas de fertilizantes às revendas espalhadas pelo país somarão 24 milhões de toneladas nesse ano, ante 22,4 milhões em 2009.

Outro levantamento da Anda que mostra o arrefecimento da ressaca da crise envolve os investimentos. Segundo David Roquete Filho, diretor-executivo da associação, foram identificados pelo menos US$ 646 milhões em aportes efetivamente realizados por empresas do segmento em manutenção e expansão da oferta em 2010, 27% a mais do que no ano passado.

Como nem todas as companhias responderam ao questionamento da Anda, o montante pode ter sido maior, mas Roquete realça que o resultado foi apurado com grupos que respondem pelo grosso dos aportes e já é sinal de um “aumento significativo”.

A Anda não detalha os investimentos, a pedido dos associados, mas fontes da área destacam que mais de 80% dos aportes identificados foram de Vale e Petrobras, sobretudo a primeira. Enquanto a petroleira produz matérias-primas derivadas do nitrogênio, como amônia e ureia, a mineradora investiu em nutrientes oriundos de potássio e fosfato – que completam o trio de matérias-primas vitais para a produção de fertilizantes. Como informou o Valor, a Heringer é outra fabricante que fez investimentos. A empresa concluiu em 2010 um pacote de aportes de R$ 128 milhões e espera encerrar o ano com resultado líquido positivo, apesar do prejuízo de R$ 51,7 milhões de janeiro a setembro.

O potássio já estava no portfólio da Vale, e o fosfato voltou ao foco com a aquisição, no início do ano, dos ativos mineroquímicos da divisão de fertilizantes da americana Bunge no Brasil. Com esse negócio, estimulado pelo governo federal, a Vale assumiu a Fosfertil, maior fabricante de matérias-primas para adubos do país, em uma tomada de controle que também envolveu a compra de participações que estavam nas mãos de outras empresas, como as múltis Mosaic e Yara e as nacionais Heringer e Fertipar.

No total, a Vale investiu US$ 4,7 bilhões em aquisições para se consolidar como a nova líder do segmento no Brasil e reforçar os planos de se tornar um dos grandes grupos globais da área. A mineradora também conta com projetos de expansão da capacidade de produção em Argentina, Canadá e Moçambique e, no total, prevê investir US$ 12 bilhões em fertilizantes entre 2010 e 2014.

“Foi um bom ano para o setor de agronegócios, para o segmento [de adubos] e para a Vale Fertilizantes”, afirma Mário Barbosa, presidente da divisão da mineradora e da Anda. Contando apenas a estrutura que era da Fosfertil, a Vale Fertilizantes já registrou lucro líquido no terceiro trimestre, de R$ 68,6 milhões. Entre os investimentos da companhia em expansão da produção – os gastos com as aquisições não fazem parte do levantamento da Anda -, o executivo destaca uma nova operação mineroquímica em Araxá (MG).

O ano foi considerado positivo nem tanto pelo primeiro semestre, ainda de estoques maiores do que os normais e preços pouco atraentes. Mas justamente pelo terceiro trimestre, de disparadas das cotações de commodities como soja e milho e das vendas de insumos para o plantio desta safra de verão 2010/11.

Na média de 2010, informa a Copebrás – segunda maior fabricante de matérias-primas para adubos do país, atrás da Vale Fertilizantes -, os preços internacionais dos nutrientes que formam os adubos finais subiram cerca de 30% em relação a 2009, quando veio a “queda livre” depois das máximas históricas que antecederam a quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008. Os estoques mundiais estavam gordos mas, como no Brasil, caíram em 2010.

Apesar da expectativa de aceleração da expansão da produção nacional gerada pela tacada da Vale no início do ano, a dependência brasileira de fertilizantes importantes permaneceu praticamente a mesma, e com isso os preços domésticos continuaram a refletir as oscilações internacionais. Mas a valorização das commodities agrícolas garantiu uma relação de troca vantajosa ao agricultor para a compra de adubos e aqueceu a demanda sobretudo a partir de setembro.