Com despesas de provisões para créditos de liquidação duvidosa menores do que se previa, o Banco do Brasil veio com um resultado trimestral acima das projeções do mercado. Fechou o período de julho a setembro com lucro líquido de R$ 2,6 bilhões, 32,7% maior do que o observado no mesmo intervalo do ano passado, mas 3,7% abaixo do trimestre anterior. No acumulado de 2010, os ganhos somaram R$ 7,7 bilhões, com incremento de 28,5% sobre os nove primeiros meses de 2009. Com esse desempenho, o retorno anualizado sobre o patrimônio líquido (médio) chegou a 25,1%, ligeiramente inferior aos 25,9% de um ano atrás.
Ao fim de setembro, a carteira de crédito somava R$ 339,8 bilhões, expansão de 19% em 12 meses e de 4,1% no trimestre. Destaque para o portfólio de consumo, que aumentou 25,3% na comparação anual e 6,2% no trimestre, para R$ 107,4 bilhões. Vale notar, porém, que no terceiro trimestre de 2009 o BB ainda não consolidava os números do Banco Votorantim no seu balanço. No financiamento à habitação, linha que o banco começou a ofertar de maneira mais intensa no início de 2009, a alta trimestral foi de 16,5% e a anual, de 90%, para R$ 2,5 bilhões.
Já o saldo de operações para pessoa jurídica atingiu R$ 140,5 bilhões, com aumento de 3,6% no trimestre e de 20,1% em 12 meses. Só o segmento de pequenas e médias empresas apresentou crescimento de 7,4% em relação a junho e de 17,8% na comparação anual, com ativos de R$ 48,5 bilhões.
Com estímulo às linhas com as melhores garantias, tanto no segmento de pessoa física (consignado, veículos e habitação) quanto no de pessoa jurídica (BNDES-Exim e operações sob o guarda-chuva do Fundo Garantidor de Operações, mecanismo criado no meio da crise de 2009), o nível de risco melhorou na instituição. Ao fim do trimestre, 92,8% das operações estavam classificadas entre “AA” e “C”, nas melhores notas de avaliação, segundo os critérios de provisionamento exigidos pelo Banco Central (BC). Um ano atrás, esse percentual era de 91%.
Com tal dinâmica, também possível pela renovação da própria carteira, as despesas de provisão para devedores duvidosos (a chamada PDD), que alcançaram R$ 2,6 bilhões no trimestre, caíram 12,5% em relação a igual período em 2009. Sob esse efeito, o banco voltou a reduzir as projeções para esse tipo de despesa no ano, de um intervalo entre 4,4% e 4,8% do total da carteira para algo entre 3,7% a 3,9%. Na crise houve piora no nível geral de risco, mas agora os limites de crédito renovados apresentam um perfil mais saudável, disse o vice-presidente de finanças, mercado de capitais e relações com investidores do BB, Ivan de Souza Monteiro. “O PIB crescendo a um ritmo de 7% neste ano e entre 4% e 4,5% nos próximos mais o crescimento da renda auxiliam no desenvolvimento do negócio como um todo”, disse. “Estamos muito confortáveis para crescer estruturalmente na rede.”
Apesar do avanço recente dos bancos privados no crédito, depois de terem colocado o pé no freio na crise, Monteiro disse que o BB tem conseguido manter parte das fatia de mercado conquistada. “Muita gente achou que o Banco do Brasil ia perder todo o ‘market share’ que ganhou nos últimos anos, mas isso não aconteceu.” Entre abril e junho, o banco tinha registrado crescimento de 6,8% nas operações, em base trimestral, ante os 4% atuais. Houve aumento da competição, principalmente no segmento de médias empresas e a expansão perdeu um pouco do ritmo, relatou o executivo.
As aquisições de carteira pelo BB no mercado respondem por 4% do total dos ativos de crédito e o PanAmericano representava, ao fim de setembro, 5% dessa parcela, algo próximo de R$ 700 milhões. O escândalo contábil no banco do grupo Silvio Santos, colocando as cessões de crédito no epicentro do problema, não mudou a rotina do BB. “O banco adquire carteira e continuará a adquirir. Nada vai mudar”, afirmou.
Depois de ter comprado fatia do Votorantim, comprar a participação do empresário Silvio Santos no PanAmericano não está nos planos. No exterior, a história é outra e o BB já tem uma instituição como alvo nos Estados Unidos, geograficamente próxima às comunidades de brasileiros que vivem no país.
As receitas de prestação de serviços aumentaram 15%, a R$ 4,1 bilhões, na comparação com o terceiro trimestre de 2009, com destaque para o crescimento das rendas de cartão (14,5%), tarifas de operações de crédito (13,5%) e comissões obtidas em operações de mercado de capitais (20,5%).