O cenário para o agronegócio manteve-se negativo ao longo de 2009. Houve queda dos preços e da demanda internacional. Em resposta ao cenário externo, o setor dirigiu-se mais fortemente ao mercado doméstico, o que influenciou na deflação dos produtos do agronegócio. A valorização do real comprometeu a rentabilidade da safra 2008/2009, devido aos elevados custos de produção. Nesse contexto, a recuperação dos preços internacionais ao longo de 2009 não foi capaz de sustentar as margens da atividade no campo.
Variação mediana da receita líquida e do lucro líquido
O PIB do agronegócio foi prejudicado, não só pela crise, mas também por problemas climáticos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O agronegócio brasileiro encerrou 2009 com produção equivalente a R$ 718 bilhões, queda de R$ 46,6 bilhões em relação à renda obtida no ano anterior de R$ 764,6 bilhões. A retração equivale a uma perda de 6,1% na participação do agronegócio na formação do Produto Interno Bruto (PIB), soma das riquezas produzidas no País.
Os efeitos da crise financeira internacional foram verificados, também, no desempenho das empresas integrantes do Anuário do Agronegócio 2010 que, embora tenham registrado crescimento médio na receita líquida da ordem 2,4%, ante os 20,6% do ano anterior, posicionou-se inferior a inflação do período de 4,3%. Ponderando-se, entretanto, a excepcionalidade do ano de 2008, quando houve elevada produção e preços médios atrativos.
Dos 30 setores que integram o Anuário 2010, 50% apresentaram redução nas receitas líquidas, influenciados principalmente pela redução da demanda internacional, os mais representativos foram: Fertilizantes (-28,8%); Tratores e Máquinas Agrícolas (-21,2%) e Ferramentas e Implementos Agrícolas (-19,9%). Por outro lado, a melhora de preços no mercado externo favoreceu principalmente os setores de: açúcar e álcool (26,6%); cana-de-açúcar (14,4%) e produção de soja (15,7%).
Os segmentos do Anuário registraram evolução no resultado liquido de 7,5%, em 2009, beneficiados pelo menor volume de despesas financeiras, principalmente variação cambial, em relação ao ano anterior. Os mais beneficiados foram: abate de animais, papel e celulose e fertilizantes. Já as maiores involuções foram: desenvolvimento agropecuário, defensivos agrícolas e avicultura.
A rentabilidade, calculada pela relação entre o resultado líquido e o patrimônio liquido, situou-se 1,9 ponto percentual acima da mediana de 2008, com destaque para os segmentos de laticínios (22,1%); fumo e bebidas (19,7%); e comércio exterior (16,6%). A única exceção foi desenvolvimento agropecuário com -1,4%.
Endividamento
Com menores investimentos, o endividamento das empresas avaliadas apresentou decréscimo de 15,9 pontos percentuais em relação ao ano anterior que foi de 146,7%. Mesmo com essa melhora, alguns segmentos participantes do anuário permaneceram com endividamento bem superior à mediana geral de 130,8%: abate de animais (279,5%); comércio exterior (222,7%); indústria de carnes (221,3%) e açúcar e álcool (221,1%).
Exportações
Segundo o acompanhamento da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em 2009 as exportações brasileiras acumularam recuo em dólares. A maior parte da queda deveu-se à diminuição dos preços internacionais, dada que a quantidade exportada apresentou alta em alguns setores. Açúcar e fumo foram culturas que se favoreceram pelas maiores cotações no mercado externo.
As principais lavouras também sofreram com o desaquecimento econômico e tiveram seus resultados de exportação comprometidos pela queda dos preços das commodities. No entanto, a quebra da safra sucroalcooleira da Índia foi responsável pelo desempenho positivo do mercado externo do açúcar brasileiro; a outra exceção positiva ficou para fumicultores, que se favoreceram pelo aumento de 30% da demanda européia em plena crise.
As baixas cotações da proteína animal foram determinantes para o menor resultado comercial da pecuária. Em quantidade, a carne bovina foi comprometida pelo embargo russo ao produto brasileiro. Quanto ao volume exportado da carne suína, houve aumento da demanda da Rússia, 18,0%, e de Hong Kong, 12,9%, no acumulado do ano, o que compensou parte do recuo dos preços internacionais.
As exportações do Agronegócio Brasileiro atingiram em 2009, 42% de todas as vendas externas. Segundo a Secex, o volume exportado dos principais produtos da agroindústria teve as seguintes variações em relação a 2008: pedaços e miudezas de aves (-3,4%), carnes de bovinos congeladas (-12,3%), couros e peles de bovinos (-15,2%), álcool (-34,7%), óleo de soja em bruto (-22,3%) e bagaços e outros resíduos da extração do óleo de soja (-0,2%). Em contrapartida, aumentaram as exportações de açúcar (24,8%), fumo (4,9%), celulose (16,9%), suco de laranja (0,7%) e grãos de soja triturados (16,6%).
Perspectivas
Os setores do agronegócio devem investir forte em 2010. Depois de um ano considerado difícil, com quebra de safra e recuo nas exportações, 2010 desponta com perspectiva de boa produção e retomada da demanda em alguns mercados no exterior.
Entretanto, apesar dos custos reduzidos, a comercialização dos produtos agrícolas será comprometida pela dificuldade de sustentação dos preços, alcançados no início de 2010, devido a três fatores: incertezas quanto ao consumo de grãos pela economia global; estoques elevados; e previsão de aumento de safra dos principais países produtores. O mesmo não deverá ocorrer com a pecuária de corte, que atenderá a demanda externa e doméstica em alta, além de lidar com preços reduzidos das rações.
A expectativa é de que as exportações do agronegócio, em 2010, aumentem cerca de US$ 10 bilhões somente por conta das negociações sobre barreiras sanitárias e fitossanitárias impostas a produtos brasileiros, segundo o ministro da agricultura. De janeiro a maio deste ano, os embarques brasileiros do setor somaram US$ 28,1 bilhões, um recorde para o período. Na comparação com os cinco primeiros meses de 2009, o aumento foi de 16,5%, impulsionado pela alta dos preços.
* gerente de análise de crédito da Serasa Experian