Quando se divulga a quantidade economizada de energia elétrica pela implantação do Horário de Verão no Brasil muita gente faz uma pergunta inevitável. Vale a pena tanto esforço para tão pouca economia? Antes que seja dada uma resposta definitiva, é preciso esclarecer alguns pontos dessa complexa questão.
O consumo de eletricidade no país, assim como a audiência de determinada emissora de televisão, segue uma tendência histórica, com picos de consumo num caso e de audiência no outro. Esse movimento é melhor visualizado ao transportar os números para um gráfico quando se percebe uma curva acentuada nos momentos de maior ênfase. Numa rede de televisão os picos de audiência são comemorados com extrema alegria. No setor elétrico, os picos de consumo são uma das maiores preocupações para técnicos e engenheiros das empresas que são responsáveis pelo serviço de fornecimento de eletricidade para a população.
Num espaço de aproximadamente três horas consome-se eletricidade capaz de desenhar uma curva bastante acentuada que se difere do restante do comportamento da demanda no restante do dia. É justamente essa curva o momento de maior exigência do setor elétrico porque a oferta de eletricidade (quantidade de energia disponível naquele momento) fica muito próxima da demanda (carga), aumentando os riscos de oscilações e até grandes interrupções de eletricidade.
O Horário de Verão é prioritariamente implantado para justamente desviar essas possibilidades. Com uma curva menor, mais achatada, os riscos diminuem e a segurança do sistema mantém–se em patamares cujos controles são perfeitamente administráveis.
Por que isso acontece? Perguntam uns. Como essa curva é ‘achatada’? Perguntam outros. Pois bem, o Horário de Verão acaba modificando a rotina das empresas e das pessoas. A Iluminação Pública é acionada mais tarde, as pessoas tomam banhos em horários desconcentrados, empresas modificam seus turnos e o comércio pode aproveitar otimizadamente a iluminação natural por mais tempo. Claro que não é apenas isso. Mas esses exemplos são perfeitamente didáticos para mostrar que a curva de consumo sofre uma distensão maior.
E existe economia de energia? Sim, há economia de energia, não tanto quanto dez, vinte anos atrás, mesmo porque a população incorporou várias práticas de uso eficiente e inteligente de eletricidade, mas ela ocorre.
Nas regiões atendidas pela distribuidora CPFL Piratininga, em 27 cidades do interior e litoral paulista, a empresa estima uma redução no consumo de 0,5%, economia que totalizará 26.100 MWh, suficientes para abastecer uma cidade do porte de Santos por 8 dias. No horário de pico, a expectativa de redução atinge 1,4% da demanda.
Implantado sucessivamente há 26 anos no Brasil, a medida já está incorporada na cultura do brasileiro. E desta vez se estenderá até o dia 19 de fevereiro, à meia-noite. Do dia 17 de outubro deste ano até lá serão 126 dias. Os relógios se adiantam uma hora nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Distrito Federal e o país, podem ter certeza, ganha muito com isso.