Ainda nem sequer recuperada da ressaca financeira, a economia global ainda convalescente se vê mais uma vez ameaçada pela reprise daquele ciclo inflacionário dos alimentos, cujo protagonista fora o milho.
Os empreendedores agropecuários brasileiros que resistiram aos solavancos da crise de abastecimento em 2007 e sobreviveram bravamente à crise de confiança de 2008, têm expressado seu otimismo por meio da manutenção dos investimentos na produção. Todavia, prudência e “canja de galinha” nunca fizeram mal a ninguém.
O alerta se dá pelo cenário contemporâneo estampado que contraria os fundamentos macroeconômicos ortodoxos ditados pela relação da oferta e demanda. Apesar de contar com estoque suficiente para abastecimento do consumo local e atender às exportações, a curva de preço do milho no Brasil teima em manter tendência altista.
A elevação do preço se sustenta em pressupostos de origem externa. Ou seja, a quebra da safra de trigo por problemas climáticos, na Rússia, que por elasticidade cruzada da demanda pressiona o custo de outras commodities; o estoque de passagem dos grãos que deve cair a 16% da demanda no fim da temporada; o apetite voraz da China que em alguns anos tornar-se-á um grande importador de milho; as previsões alarmistas da FAO para uma explosão demográfica e consumo crescente até 2050; e o forte movimento especulativo de investidores buscando ativos confiáveis e rentáveis no mercado futuro.
No âmbito doméstico, por sua vez, vale ressaltar que a intensa ciclotimia imposta à curva de preço do milho vem comprometendo sobremaneira a dinâmica dos elos interligados da cadeia de produção, do campo à mesa. Ou seja, demasiada pressão no setor de alimentação animal deve causar descompasso suficientemente capaz de comprometer elos precedentes ou subseqüentes, alguns precocemente, outros mais tardiamente, a ponto de hipoteticamente inibir a demanda.
Em resumo, a capacidade de compra do consumidor tem sido testada no ponto de varejo e vai determinar seu índice de fidelidade ao frango ou alternativamente levar à substituição por carne suína ou bovina.
A propósito, o frango ainda tem se sustentado, pois a arroba do boi posicionada acima dos R$ 92,00 não mostra sinais de arrefecimento, considerando o alto preço do bezerro para reposição por conta da matança de vacas; a queda na taxa de confinamento; a restrita oferta de boi gordo por conta da longa estiagem; e o descompasso nas relações comerciais entre bezerreiros, produtores, confinadores, frigoríficos e varejo o que retroalimenta o ciclo virtuoso de reajustes do complexo carnes.
A demanda per capita de frango no Brasil deve alcançar 42 kg em 2010 e manter a bem sucedida tendência crescente. O risco é o preço tornar-se proibitivo e forçar o consumidor buscar alternativa, já que “saco vazio não para de pé”.
Prefiro a citação do Dr. Norman Borlaug, responsável pela revolução verde: “A paz global não pode e nem sequer será construída com estômagos vazios”.
Por Ariovaldo Zani, vice-presidente Executivo do Sindirações