A estiagem prolongada no inverno mato-grossense deste ano deverá encurtar as ‘janelas’ de plantio da soja, da safrinha de milho e do algodão no ciclo 10/11. Isso porque, diferentemente do que aconteceu no ano passado, quando as chuvas antecipadas permitiram o início do plantio de grãos na segunda quinzena de setembro no Centro-Oeste, agora não há chuvas no horizonte até a segunda quinzena de outubro. Ou seja, o clima quase ideal que garantiu a produção recorde de grãos na safra 09/10 não se repetirá este ano, o que poderá prejudicar muitos produtores, sobretudo os do oeste (Sapezal e Campos de Júlio) e médio norte (Lucas do Rio Verde e Nova Mutum), que tradicionalmente costumam largar na “pole position”, fazendo a semeadura da soja mais cedo em relação a outras regiões do Estado e do país.
Mesmo com o início das precipitações a partir da segunda metade de outubro, as chuvas serão irregulares, o que poderá forçar alguns produtores de grãos a fazer o chamado “replantio”, o que obviamente eleva custos e achata margens. O termo ‘janela’, quer dizer o período ideal de plantio de uma determinada cultura, onde o desenvolvimento e a produtividade serão obtidos se o plantio ocorrer em uma data específica.
“Nesta safra teremos os efeitos da La Niña, que se reflete no atraso do início do período chuvoso no Brasil. Nessa fase inicial de plantio, não será difícil encontrar agricultores que registrarão chuvas em suas propriedades e vizinhos que estarão secos”, diz o agrometeorologista Antônio dos Santos, da Somar Meteorologia.
Com o atraso das chuvas, as janelas de plantio serão achatadas, dificultando o planejamento da safra após a colheita da soja. Por enquanto, a necessidade de replanejamento ainda é uma incógnita para o produtor.
“Vai depender de quanto tempo vai atrasar a chuva e quando a semeadura será iniciada. Só depois disso é que saberemos o impacto desta alteração climática na vida das lavouras e na cabeça do produtor”, analisa o administrador agropecuário Sandro Becher, que monitora lavouras nas regiões norte e sul do Estado. Milho e algodão, segundo ele, poderão ter seu período de plantio alterado na próxima safra. “Quando temos uma janela mais curta, o produtor tem de plantar mais rápido para não perder o período de fertilidade e germinação da planta”.
Precoce – Becher observa que não há risco de perda de semente, em caso de atraso da utilização das variedades precoces. “O produtor pode utilizá-las mais tarde”. Lembra, contudo, que se o plantio for feito com mais de três semanas de atraso, a recomendação é para que o produtor utilize variedades de ciclo normal, mais produtivas em condições de chuvas normais.
O administrador conta que a situação é crítica em todas as regiões produtoras, de norte a sul do Estado. Ele acompanha lavouras na região de Rondonópolis, Itiquira, Pedra Preta, Alto Garças e toda a Serra da Petrovina, que deverá plantar neste ciclo cerca de 400 mil hectares. “As regiões norte, médio norte, oeste e noroeste também enfrentam situação idêntica [de falta de chuvas] e estão com o plantio atrasado. “Mas ainda é cedo para falarmos em perdas”.
Ele teme que o começo do período chuvoso – “com fortes precipitações” – possa trazer o risco de doenças como a ferrugem asiática da soja.
Se o plantio no Centro-Oeste poderá ser prejudicado pelo atraso das chuvas, a colheita também pode ser influenciada negativamente – neste caso, entretanto, devido ao excesso de precipitações no final do período chuvoso, que também poderá se prolongar devido à estiagem mais longa este ano. Chuvas na colheita impedem a entrada das máquinas nas lavouras e elevam a umidade das plantas, atrasando os trabalhos e colocando em risco a produtividade. No caso de Mato Grosso, a cultura mais prejudicada seria a soja, pois a colheita em maior escala se dá geralmente no término do período chuvoso.