Representantes de empresas levaram ontem ao comissário europeu para o comércio, Karel De Gucht, as suas preocupações gerais em relação a um acordo entre Mercosul e União Europeia (UE). Na conversa, em jantar na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), porém, evitou-se discutir a troca de ofertas e o impacto que um acordo pode ter em setores mais preocupados com a negociação, como o eletroeletrônico, no caso do Brasil, e o de produtos agrícolas, no caso da UE.
“As preocupações de setores que podem ser mais afetados fazem parte do processo e isso acontece toda vez que há acordo”, diz Mario Marconini, diretor de negociações internacionais da Fiesp. Ele diz que a maior preocupação da indústria é fazer um bom acordo. Segundo ele, cerca de 75% da oferta industrial da União Europeia tende a não fazer grande diferença para os fabricantes nacionais porque não representaria condição diferenciada para produtos brasileiros.
Marconini lembra, porém, que há muito a discutir e que as negociações foram reabertas muito recentemente. Ele acredita ser possível que um acordo passe a vigorar a partir do segundo semestre de 2011, mas considera muito mais provável que a negociação dure mais um ou dois anos. Na sua visita ao Brasil, De Gucht declarou considerar factível a definição de um acordo até julho do próximo ano.
O representante da Coalização Empresarial Brasileira (CEB), Carlos Mariani, que também participou do jantar, diz que as indústrias pretendem cumprir o cronograma estabelecido na tentativa de fazer um acordo, apesar da correspondência que representantes da indústria enviaram em julho ao ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Nessa carta, a coalização, explica, disse que a definição de um acordo entre os dois blocos deve levar em consideração condições conjunturais internas, como o real valorizado, incentivo relativamente pequeno aos exportadores, incerteza do comportamento dos mercados europeus e descompasso entre o crescimento dos mercados nos dois blocos.
“A indústria está interessada num acordo entre os dois blocos, mas é necessário prestar atenção nesses problemas ao longo da negociação”, diz Mariani. Segundo ele, as conversas estão ainda em fase inicial sobre questões normativas do acordo. Os blocos ainda não começaram a estudar listas de ofertas de produtos.
Ontem, diz Mariani, representantes do segmento agroindustrial aproveitaram o jantar para apresentar a competitividade do setor. “Houve uma oportunidade para dizer ao comissário que o segmento agroindustrial brasileiro entende a ânsia dos países europeus pela autossuficiência alimentar. Mas o Brasil não pretende sufocar o mercado da UE. Pretende apenas ter participação compatível com o consumo europeu”, diz.