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Adubo

Consumo de adubo seguirá forte, diz Rabobank

Apesar dos projetos de expansão em curso, preços internos continuarão em linha com os internacionais.

Apesar de mudanças estruturais importantes e dos projetos de expansão da produção em curso, as perspectivas de forte incremento da demanda doméstica nos próximos anos tendem a manter elevada a dependência brasileira de fertilizantes importados, conforme estudo recém-concluído pelo Rabobank, banco de origem holandesa com forte atuação global no setor de agronegócios.

“O cenário vai mudar muito pouco, e com isso os preços internos [dos adubos vendidos aos produtores] continuarão sendo guiados pelo mercado internacional”, diz Priscilla Richetti, especialista em fertilizantes do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank no Brasil. Ela ressalva que o trabalho não contempla o futuro dos preços internacionais, mas lembra que estimativas da Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA, na sigla em inglês) projetam um cenário de oferta mundial mais confortável.

Entre 1999 e 2009, aponta o banco, o consumo brasileiro de fertilizantes cresceu, em média, 5,2% ao ano. Em 2009, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as entregas das misturadoras (empresas que vendem o produto final) às revendas atingiram 22,5 milhões de toneladas, mesmo patamar de 2008. Entre 2009 e 2020, prevê o Rabobank, a taxa anual de incremento alcançará 5,7%, em consequência da “contínua exploração de novas áreas agrícolas” e do “aumento da produtividade no campo”.

O ano passado, aliás, foi conturbado para o segmento, que se despediu de 2008 com gordos estoques e amargou uma “paradeira” indesejada no mercado no primeiro semestre. Mesmo assim as importações atingiram 11 milhões de toneladas e superaram a produção nacional, que chegou a 8,4 milhões, conforme dados da Anda. Mas, em condições normais, as importações representam cerca de 70% da demanda. Em 2008, foram importadas 15,4 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários e a produção nacional foi de 8,9 milhões.

Estranha para um país agrícola como o Brasil, esta dependência incomoda o presidente Lula desde o primeiro mandato, e no ano passado o governo intensificou o anúncio de incentivos para reduzi-la. O estudo do Rabobank lembra que estão previstos no “PAC 2” investimentos de US$ 6,2 bilhões na indústria de fertilizantes do Brasil, sendo que US$ 5 bilhões deverão ser desembolsados entre 2011 e 2014. Fontes do segmento não duvidam que os aportes serão efetivamente realizados, sobretudo depois que a mineradora Vale ampliou sua presença no ramo e adquiriu, no início deste ano, o controle da Fosfertil, já há muitos anos a maior fabricante nacional de matérias-primas para adubos.

O controle da Fosfertil veio com a compra dos ativos minerais da divisão de fertilizantes da americana Bunge no país. Não contente em deter o controle, a mineradora adquiriu as fatias da também americana Mosaic, da norueguesa Yara e de outras empresas brasileiras na Fosfertil, que tem ações negociadas em bolsa. Antes disso, a Vale já anunciava outros importantes projetos na produção de fertilizantes, no país e no exterior. Na quinta-feira, por exemplo, inaugurou, em parceria com a Mosaic e com a japonesa Mitsui, uma mina de rocha fosfática no Peru, que já recebeu investimentos de US$ 566 milhões para produzir 3,9 milhões de toneladas por ano e deverá absorver mais US$ 300 milhões em sua expansão nos próximos anos.

No Brasil, o principal projeto que está sendo tocado, da Fosfertil – e, portanto, da Vale -, prevê investimentos da ordem de R$ 2 bilhões em uma mina fosfática em Patrocínio, Minas Gerais. Segundo o estudo do Rabobank, em conjunto “os planos para desenvolver a produção doméstica de rocha fosfática têm o potencial para dobrar as atuais 6,6 milhões de toneladas de capacidade de produção para 12,4 milhões de toneladas até 2015”. Nesta projeção estão incluído projetos de outras empresas, como Copebrás (controlada pela sul-africana Anglo American) e Galvani.

Nos cálculos do Rabobank, no caso dos nutrientes derivados do fosfato a dependência dos importados poderá recuar de mais de 40% para 20%. Mas nos casos dos nutrientes derivados do nitrogênio e do potássio – que completam a trinca vital para a produção de adubos -, a situação é mais complicada. Nos chamados potássicos, onde a dependência hoje é de 90%, o percentual seguirá elevado apesar dos investimentos da Vale, já que grande parte deles são na Argentina e no Canadá e, no Brasil, a renovação da concessão da mina de Taquari-Vassouras, em Sergipe, que vai expirar em 2017, ainda depende de decisão da Petrobras. Autossuficiência como prometeu o governo, nem pensar. Nos nitrogenados, a oferta dependerá da disponibilidade de gás natural.

Em tempo: fontes do ramo afirmam que é verdade que a Vale respondeu a uma pressão do governo para reassumir o protagonismo do passado nos fertilizantes, mas não foi só por isso que a empresa voltou ao segmento. A tendência global, por conta dos vultosos investimentos em exploração necessários, é que a expansão da oferta global seja capitaneada por grandes mineradoras multinacionais, como pontua a analista Priscilla Richetti e confirma o horizonte desenhado pela IFA.