Meia dúzia de galinhas atravessam tranquilamente a pouco movimentada rua principal de Itanhandu, em Minas Gerais. A cena corriqueira – que pode ser vista em qualquer cidadezinha do interior – ganha novos contornos pelas estradinhas da área rural do município.
Por lá, os galinheiros dão lugar a indústrias de ovos e fazem da terrinha mineira a maior fornecedora de ovos do Rio – com pouco mais de 15 mil habitantes e um pomposo exército formado por seis milhões de galinhas. Aqui, a dúzia chega custando praticamente o dobro – 97% a mais do que seu valor na origem.
Ritmo industrial
Último item da série de reportagens do EXTRA sobre a diferença entre o valor recebido por agricultores e produtores e o que é cobrado no comércio carioca pelos sete alimentos mais comuns no prato feito, o ovo sai das granjas ao preço médio de R$ 1,33, segundo o Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA-SP). Esse valor sobe para R$ 2,62, em feiras e supermercados, conforme a pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio (Fecomércio-RJ) mais recente, divulgada no último dia 15.
Em Itanhandu, as 13 granjas – de médio e grande porte – produzem 24 horas por dia e alcançam a invejável marca de 1,5 bilhão de ovos ao ano, o equivalente a 50 unidades por segundo. E tudo em ritmo industrial. Os antigos galpões passaram a dar lugar, nos últimos dez anos, a modernas instalações, em que todo o processo não requer qualquer contato manual.
Na Mantiqueira, maior granja de Itanhandu, os ovos são levados das gaiolas onde ficam as poedeiras por “ovodutos” – um tipo de esteira que percorre toda a granja – até o centro de embalagem. Ali, passam pelo controle de qualidade e são distribuídos nas caixas que serão enviadas aos mercados.
Imposto é alto
Um dos fatores que ajudam a explicar a diferença de 97% nos preços cobrados pelo produtor e pelo comércio carioca é a alta carga tributária que incide sobre o ovo. São 32,6%, entre taxas, contribuições e impostos para o governo – maior percentual registrado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) nos sete alimentos acompanhados pelo EXTRA.
O presidente do IBPT, João Eloi Olenike, acredita que a taxação é maior para o ovo, porque a produção é totalmente industrializada, ao contrário do que acontece com produtos como o tomate e o feijão, mais agrícolas.
Promoções
Para atrair a clientela, o feirante Willian Ghisleri, de 47 anos, faz promoções na feira de Bangu, na Zona Oeste do Rio. A dúzia comprada por ele a R$ 1,56 é revendido por R$ 1,99.
“Tem que ser barato para vender tudo. Nunca volto com produto para casa”, diz.