A crise econômica na Europa e o real valorizado tiraram do comércio exterior o papel de alavancar o crescimento do Brasil, mas não há nada que possa ser feito pelo governo no curto prazo, afirmou nesta terça-feira o representante de uma associação do setor.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país cresceu 9% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.
As exportações de bens e serviços tiveram expansão de 14,5%, mas foram ofuscadas pelo aumento recorde de 39,5% das importações.
“A margem de manobra do governo hoje é praticamente nula. O que nós precisamos é fazer reformas de base. Precisamos de reforma tributária, custo financeiro menor, infra-estrutura. Hoje ela é insuficiente, deficiente e onerosa”, afirmou José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
“A taxa de câmbio não é causa dos problemas, é um efeito. Somos a favor da manutenção do câmbio flutuante. Não tem como mexer na taxa de câmbio hoje. Mas claramente ela está sendo hoje um fator importante de estímulo às importações.”
Nesta sessão, o dólar era cotado a 1,868 real. A moeda tem alta de quase 7 por cento no ano por causa da preocupação com a crise europeia, mas ainda está bastante abaixo dos níveis atingidos há pouco mais de um ano, quando ainda superava 2 reais.
No ano passado, o governo tomou medidas para tentar frear a valorização do real, como a taxação do capital estrangeiro em ações e renda fixa e a permissão a compra de dólares pelo Fundo Soberano, controlado pelo Tesouro.
Castro ainda vê com preocupação o perfil das exportações do Brasil, concentrado em produtos básicos, e não em manufaturados, com maior valor agregado e menos suscetíveis à volatilidade do mercado financeiro.
“A balança comercial, desde abril, está sendo sustentada por petróleo, minério e soja. Enquanto os preços estiverem no patamar atual, a balança vai bem.”
As principais economias do mundo têm tido dificuldade para engrenar uma retomada firme do crescimento econômico, principalmente na Europa, o que diminui a demanda por produtos vindos do Brasil e de outras regiões.
No ano, o superávit comercial acumula 6,8 bilhões de dólares, valor inferior aos 10,512 bilhões de dólares no mesmo período do ano passado.