O Comitê de Política Monetária (Copom) começa sua reunião do mês, hoje, já de posse dos dados sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. Entre analistas do setor privado, a expectativa é de que o crescimento de janeiro a março tenha sido superior a 2,5% na comparação com o último trimestre de 2009, o que resultaria em uma taxa anualizada entre 9% e 11%.
O Copom, obviamente, não vai se ater aos dados do passado para decidir o aumento da taxa básica de juros, mas estes são importantes para se ter uma dimensão da velocidade do crescimento e, por consequência, da duração e intensidade do aperto monetário. Ainda que a partir de agora o crescimento seja zero, apenas com o desempenho do primeiro trimestre e o “carry over” de 2009, já se tem praticamente garantido um PIB de 5,5% este ano.
Há alguns indicadores antecedentes que insinuam um processo de acomodação do PIB no segundo trimestre. Ou seja, as taxas chinesas de aceleração da economia brasileira já teriam sido deixadas para trás.
Há, também, os que alertam que com as menores taxas de desemprego da história do país e o contínuo crescimento da oferta de crédito, não é razoável se falar em desaceleração da economia. O que estaria ocorrendo no segundo trimestre não seria um desaquecimento estrutural, mas fruto da antecipação do consumo de bens beneficiados por incentivos fiscais (automóveis, por exemplo) e uma acomodação natural da atividade. A mesma percepção estaria ocorrendo com a inflação, cuja redução nas últimas semanas não poderia ser extrapolada para o ano. Os reajustes de preços do minério de ferro, apenas para citar um caso, ainda não tiveram impacto no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A baixa taxa de desemprego é um fenômeno novo a ser tratado pelo comitê. Com um quadro de ocupação crescente e aumento da massa salarial, as pressões inflacionárias tendem a ser maiores. O desemprego, que rondava os 10% em média nos anos passados, caiu para 9,3% em 2006, 7,9% em 2008, aumentou para 8,1% em 2009 por causa da crise global, mas reassumiu trajetória cadente e foi de 7,3% em abril.
Os dados do PIB, da inflação – que aparentemente começou a ceder – e do emprego crescente, associados a um temor, agora maior, de que a crise na Europa pode piorar e ter efeitos perversos sobre a economia brasileira, formam um cenário que mexe com as expectativas dos agentes.
Analistas e economistas consultados para a pesquisa Focus do Banco Central já esperam um ajuste mais concentrado na Selic, com três elevações de 0,75 ponto percentual cada, incluindo a de amanhã. Isso aumentaria a taxa básica de juros para 11,75% ao ano já em setembro, encerrando o ciclo de aperto monetário antes das eleições presidenciais de outubro.
Na pesquisa da semana anterior, o mercado projetava quatro aumentos consecutivos: dois de 0,75 ponto percentual, um de 0,5 ponto e um último de 0,25 que ocorreria na reunião do dia 20 de outubro, justamente entre o primeiro e o segundo turno das eleições.
No início do ano muitas projeções apontavam aumentos de 400 e até 450 pontos bases da Selic ao longo desse ano, o que deixaria a taxa básica da economia em 13,25% ao ano no fim de 2010. Hoje ela está em 9,50%.
Na pesquisa Focus divulgada ontem a mediana das projeções para o IPCA do ano caiu de 5,67% para 5,64%. O índice projetado para os próximos doze meses também teve queda pela segunda semana consecutiva, passando de 4,76% para 4,72%. Para o PIB de 2010, as projeções do mercado passaram de 6,47% para 6,6% na mesma pesquisa.