Uma das principais instituições de pesquisa do País, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem há décadas colaborando para o avanço da agricultura e da pecuária nacional. A partir de estudos e experiências realizadas em laboratórios e no campo, a empresa é responsável pela introdução de novos produtos e técnicas, aplicadas, sobretudo, em plantações e criações de animais.
A Embrapa também acompanha ideias e novidades que se destacam no mercado internacional para incorporar na agropecuária brasileira. Foi o que a instituição fez ao adequar à agricultura daqui o projeto de biofortificação de alimentos após participar de uma reunião em Washington, capital dos Estados Unidos, no final de 2002. Desde então, a Embrapa desenvolve o projeto BioFORT, cujo objetivo é tornar, por meio do melhoramento genético convencional, mais nutritivos os alimentos considerados básicos e comuns na dieta da população. Lançado em 2009, o projeto envolve pesquisadores de 11 unidades da Embrapa que trabalham no cruzamento de plantas da mesma espécie, como arroz, feijão, feijão-caupi, mandioca, batata-doce, milho, abóbora e trigo. Com a biofortificação de alimentos, a Embrapa pretende combater a incidência de anemia e cegueira na população de baixa renda. O plano da instituição é aumentar, sobretudo na alimentação dos mais pobres, a presença de ferro, zinco e vitamina A – micronutrientes importantes para melhorar a resistência do organismo e o desenvolvimento intelectual.
Entre os primeiros produtos agrícolas biofortificados desenvolvidos pela Embrapa estão mandioca, feijão, milho, arroz, batata-doce, abóbora e trigo. A mandioca de mesa BRS Jarí, por exemplo, é fonte natural de energia, pouco fibrosa e possui mais vitamina A do que a tradicional, além de conservar boa parte das propriedades nutritivas após ser cozida. Outro destaque é a cultivar de feijão-caupi, também conhecida como xiquexique, cujos grãos possuem maior teor de ferro comparativamente às variedades mais consumidas no país.
A empresa tem em andamento estudos de outros alimentos, inclusive de derivados e industrializados, como pão e massa, além de planos para pesquisar opções prontas, como canjica, sopa com macarrão de arroz e uma mistura de milho, semelhante a um mingau, já presentes no varejo colombiano. Embalagens capazes de preservar melhor os micronutrientes também são alvo de pesquisas dos profissionais da instituição. Uma extensa rede de parceiros, entre centros de pesquisa nacionais e internacionais, produtores, governo e organizações não governamentais, também participa do BioFORT. A iniciativa é apoiada pelos programas HarvestPlus e AgroSalud, ambos ligados a redes de centro de pesquisas com atividades na América Latina, África e Ásia.
O projeto, que tem similares na Colômbia, Peru, Nicarágua, Índia, Bangladesh, Paquistão, Moçambique, Uganda e República Democrática do Congo, também recebe recursos financeiros da Fundação Bill e Melinda Gates, comandada por Bill Gates, dono da Microsoft, do Banco Mundial e de agências internacionais de desenvolvimento. A princípio, os produtores das regiões brasileiras onde estão as unidades da Embrapa envolvidas no projeto têm preferência no recebimento de mudas e/ou sementes de plantas biofortificadas. No entanto, agricultores de qualquer parte do território podem ter acesso ao material por meio de carta, telefone ou e-mail.
Neste ano, duas toneladas de sementes de arroz com maior teor de ferro e zinco foram distribuídas para produtores de comunidades rurais no Maranhão. Agricultores da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Minas Gerais já receberam mudas da cultivar de mandioca BRS Jarí. No caso da batata-doce-alaranjada, também foi lançada uma cartilha com dicas de cultivo, preparo e consumo da hortaliça.