Apesar das dúvidas lançadas pela presidente Cristina Kirchner, o governo argentino não desistiu de aplicar barreiras à entrada de alimentos importados. A confusão veio à tona depois que Cristina declarou em Madri, onde participava da Cúpula UE-América Latina, que “não houve restrições”. Importadores continuam se queixando da proibição de importar produtos com similar nacional, embora tenham reconhecido que a medida foi levemente flexibilizada.
“Estamos confiantes que não se trata de mero anúncio, e que há uma decisão oficial de deixar de lado as restrições”, disse o presidência da Câmara de Importadores da Argentina, Diego Pérez Santisteban. “Mas, até recebermos contraordem efetiva, vamos seguir trabalhando no pedido que nos fez a Secretaria de Comércio Interior para analisar, caso a caso, o impacto da restrição às importações.”
As grandes redes de supermercados têm se reunido com o secretário Guillermo Moreno, autor da nova barreira, e apresentado listas de produtos importados para análise. Os principais jornais argentinos informaram que a alfândega havia retido entre 10 e 15 caminhões na fronteira com o Brasil, entre Uruguaiana e Paso de los Libres. Fabricantes brasileiros de milho enlatado, molho de tomate e frango têm sofrido com as restrições. O governo já advertiu a Argentina que não aceitará a simples flexibilização da medida.
O ministro do Interior, Florencio Randazzo, insiste em que o governo “não fechou as importações” de alimentos. Mas advertiu, em entrevista a uma rádio, que o governo também “vai defender o desenvolvimento da indústria nacional e o trabalho dos argentinos”.
A barreira a produtos estrangeiros foi comunicada apenas verbalmente aos importadores, sem nenhum ato oficial. A aplicação, segundo os importadores, tem sido feita pelo Instituto Nacional de Alimentos (Inal), que precisa dar um certificado a cada produto trazido do exterior.
Além do Brasil, a medida tem causado protestos dos países da UE, que evocaram as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a Argentina. O Uruguai se somou às reclamações. O presidente José Mujica pediu a seus ministros relatório detalhado sobre os efeitos que a barreira argentina pode causar aos exportadores uruguaios. Eles afirmam que o prejuízo chega a US$ 70 milhões.