Redação (27/02/2009)- O Banco Central deve liberar aos bancos, hoje, o primeiro lote de recursos da linha de empréstimo em dólares para ajudar as empresas a refinanciar suas dívidas no exterior. Embora o fluxo de crédito externo para o país continue muito ruim, a expectativa é que a demanda, agora, ainda seja pequena, dado que o prazo para as negociações entre os bancos e as empresas, em torno dos termos dos contratos, foi curto. O BC avalia que só a partir de março é que a procura por esse empréstimo vai chegar à casa do bilhão. As primeiras avaliações do governo para este ano apontam para uma taxa de rolagem da dívida externa na casa dos 70% a 75% dos vencimentos, na melhor das hipóteses.
Em dezembro, o Conselho Monetário Nacional aprovou resolução que autoriza o BC a conceder empréstimos para refinanciamento de dívidas que vencem entre outubro de 2008 e dezembro de 2009. A demanda potencial estimada pelo BC é pouco mais de US$ 20 bilhões, algo em torno de US$ 25 bilhões. Apesar dos vencimentos totais chegarem a US$ 36 bilhões, algumas dívidas, como as intercompanhias ou com organismos multilaterais, não são elegíveis.
O crédito externo para rolagem de dívidas, que praticamente desapareceu depois de outubro de 2008, continua muito escasso. O que voltou um pouco, embora mais caro, foi o crédito destinado ao comércio exterior. Segundo dados do governo, para financiamento de exportações com prazo de até 180 dias a oferta de crédito é plena: chega a cerca de 50% dos vencimentos para operações de até 360 dias. Acima desse prazo, não há crédito.
Mesmo para o comércio exterior, segmento que é considerado de baixo risco, o preço ficou salgado. Para operações de prazo mais curto, as linhas estão custando Libor (taxa interbancária de Londres) mais 250 pontos-base. Os bancos que operam no Brasil, porém, continuam contratando financiamentos junto a seus correspondentes no exterior, mesmo a um preço mais caro, para preservar a clientela, pois sabem que em algum momento o Banco Central sairá do mercado. Assim, conseguem fazer uma média entre as taxas cobradas nos leilões de linhas de crédito para exportação e os recursos captados fora.
Pelos dados do BC, coletados até 20 de fevereiro, a taxa de rolagem era de 92% dos vencimentos. Esse percentual, aparentemente bom, não significa muita coisa, primeiro porque os vencimentos em janeiro e fevereiro costumam ser baixos e, também, porque é uma parcial do mês que pode ter sido afetada por uma única operação. Para se ter uma ideia da evolução das captações externas para refinanciamento de dívidas, estas eram de 126% em outubro de 2008, logo depois do acirramento da crise financeira, ou seja, as empresas rolavam toda a dívida e ainda contratavam dinheiro novo. Em novembro, caíram para apenas 22% dos vencimentos, subiram para 47% em dezembro e 50% em janeiro.
Os dados aparentam uma melhoria substancial, mas, como dito acima, eles não podem ser lidos ao pé da letra e não conferem com a avaliação qualitativa dos técnicos do governo, por causa dos poucos vencimentos nos primeiros meses do ano. E boa parte das captações, conforme explicação dos especialistas oficiais, estão sendo feitas pelas instituições financeiras, para manter seus clientes.
O fato é que os prognósticos para o fluxo de crédito externo este ano são ruins e disso dependerá boa parte da performance da atividade econômica. A retração será menor quanto mais cedo houver a recuperação do crédito externo e interno, sendo que o último é também irrigado pelo primeiro. Segundo dados do BC, divulgados ontem, a expansão da oferta de crédito no segmento livre teve, em janeiro, a primeira queda (0,2%) desde 2004.
Do ponto de vista do balanço de pagamentos, contudo, a forte diminuição dos fluxos financeiros não tende a comprometer o fechamento das contas do ano. Com a queda abrupta da atividade de outubro de 2008 para cá, as remessas de lucros e dividendos das empresas multinacionais também minguaram, assim como outras despesas de serviços (como viagens internacionais e fretes). Com isso, mantendo inalterada a projeção do superávit comercial de US$ 14 bilhões, o déficit em transações correntes, estimado originalmente pelo BC em US$ 25 bilhões, está superestimado. A autoridade monetária fará uma revisão geral das contas externas em março.
A remessa de lucros e dividendos, que nas projeções feitas em setembro de 2008 foi estimada em US$ 20 bilhões (uma queda forte se comparada aos US$ 33 bilhões do ano passado), já prevendo uma redução do nível de atividade das empresas no Brasil, deve ficar bem abaixo desse patamar. A área técnica do governo estima as remessas, agora, em torno de uma média de US$ 800 milhões a US$ 1bilhão ao mês.
Todos esses números são reflexo da acentuada desaceleração da economia, cuja intensidade ainda é incerta e dependerá muito do comportamento, também, do ciclo de estoques. Há prognósticos, no governo, de que os estoques da indústria, à exceção da indústria automobilística, ainda estão bastante elevados e devem dar o tom da produção em todo o primeiro semestre. Mesmo no setor automobilístico, as vendas de veículos de passeio aumentaram, mas os estoques de caminhões ainda são grandes. Também aqui, as avaliações são mais qualitativas do que quantitativas e dificultam a elaboração das projeções para o ano. As preocupações do governo para evitar uma recessão, portanto, estão longe de acabar.