Redação (18/02/2009)- A demanda mundial por produtos agrícolas – alimentos, fibras e energia – vai crescer muito nos próximos anos. Segundo a ONU, a população do planeta saltará de 6,2 bilhões de pessoas em 2000 para 8,3 bilhões em 2025, um aumento de 30% em apenas 25 anos! Destes 2,1 bilhões de terráqueos a mais, 85% estarão nos continentes mais pobres: Ásia, África e América Latina. Por coincidência, nessas regiões a renda per capita vai crescer quase três vezes mais do que nos países ricos. Portanto, a população e sua renda crescerão mais entre os países em desenvolvimento. É lógico que é também neles que se dará o aumento do consumo agrícola. Aliás, nos últimos sete anos nossa exportação agrícola para os países em desen volvimento cresceu duas vezes mais que a destinada aos países ricos.
A FAO calcula que, entre 2005 e 2025, a oferta de cereais e carnes deverá crescer 42%. Um desafio e tanto! Por outro lado, a Agência Internacional de Energia acredita que até 2030 a demanda global por combustíveis líquidos aumentará 55% comparativamente a 2000. Claro que o petróleo não atenderá a tudo isso, pelo menos a preços acessíveis, ssobretudo em países mais pobres. Por essa razão, pesquisadores do mundo todo estudam novas formas de energia e de combustíveis renováveis que sejam capazes de mitigar os efeitos nocivos das emissões de CO2 dos derivados de petróleo no aquecimento global.
Sabe-se que a cadeia produtiva do etanol representa apenas 11% das emissões de CO2 do petróleo. Portanto, é também claro que os biocombustíveis resultantes de agroenergia serão uma alternativa importante para o futuro, mudando o paradigma agrícola global. Mais do que isto, mudando a geopolítica global, vis to que os biocombustíveis serão produzidos amplamente nos países tropicais, exatamente os mesmos onde a população e a demanda por alimentos crescerão mais.
Sendo assim, o agronegócio mundial tem dois portentosos desafios pela frente: aumentar a produção de alimentos e fibras e participar da maior oferta de combustíveis líquidos. O Brasil é um dos poucos países com enorme potencial para atender a parte substancial dessa demanda.
Temos quase 200 milhões de hectares ocupados com pastagens. Como a tecnologia da nossa pecuária de corte evoluiu espetacularmente, produzimos hoje muito mais carne por hectare do que dez anos atrás, e também mais leite por vaca. Com isso, áreas de pastagens degradadas vão sendo ocupadas pela cana, pela soja e por florestas. Mais de 90 milhões de hectares de pastagens são aptos para agricultura, dos quais cerca de 21 milhões para cana. Portanto, nossa área pode crescer, no longo prazo, mais do que o dobro daquela que é hoje cultivada. E, com aumento da produtividade, pode chegar a 350 milhões de toneladas de grãos e 300 bilhões de litros de etanol.
Tudo isso passa por uma estratégia público/privada que não depende só da vontade dos agricultores ou de Brasília. É preciso uma grande coordenação entre os diversos órgãos do governo para que logística e infra-estrutura, recursos para crédito rural e seguro de renda, redução tributária e criação de novos mercados se somem às nossas principais vantagens comparativas: tecnologia tropical diferenciada, um agricultor moderno e competitivo e terras à vontade. Claro que, em 2009, outro obstáculo terá de ser vencido – a crise financeira global. Mas não é tão difícil: basta vontade política para pôr em prática conhecidos instrumentos de política agrícola, como os preços mínimos e os recursos para comercialização. Com isso, faremos da crise uma grande oportunidade.
*Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e ex-ministro da Agricultura.