Redação (25/02/2009)- Com a seca consumindo a economia argentina e as recentes barreiras comerciais impostas para dificultar a entrada de produtos brasileiros no país vizinho, as exportações gaúchas sofreram um baque. Principal parceiro comercial do Estado em janeiro do ano passado, a Argentina caiu para a segunda posição neste ano.
As exportações gaúchas para os hermanos caíram 58% em janeiro – quase US$ 90 milhões a menos do que no mesmo período do ano anterior. Para efeitos de comparação, os Estados Unidos, epicentro da crise mundial, reduziu suas compras do Estado em US$ 29,09 milhões – queda de 22% no comparativo com janeiro de 2008. Ou seja, o impacto argentino foi três vezes maior no Rio Grande do Sul do que o dos EUA.
A queda do volume de vendas para a Argentina, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado, foi a maior do ranking no mês (confira quadro abaixo). Dependentes da renda que vem do campo muito mais do que o Brasil, os argentinos sentiram o poder de compra encolher na área rural e também na urbana.
– O gado engordou pouco, a colheita de soja foi menor e o leite que abastece a indústria de laticínios rendeu menos. Tudo isso tirou renda. Nem com câmbio favorável ao Brasil se conseguiu vender mais para lá, porque o governo implantou barreiras comerciais para proteger a indústria local – explica Marcelo Portugal, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Perspectiva para próximos meses é de mais quedas
O impacto dessa retração pode ser sentida diretamente pelos trabalhadores gaúchos. Parte das demissões no setor de maquinas agrícolas (como na John Deere, em Horizontina) foram impulsionadas pela queda nas encomendas do país vizinho, diz Portugal.
No mês passado, o governo argentino impôs a necessidade de licenças prévias para importar produtos como autopeças, calçados, têxteis e brinquedos. A medida, uma barreira burocrática, tem deixado empresas esperando por autorizações de exportações.
Como a estiagem não cedeu e as barreiras comerciais apenas começaram a mostrar seu potencial de restringir o fluxo de mercadorias, as perspectivas são de nova queda nos negócios nos próximos meses, avalia Júlio Gomes de Almeida, professor de economia da Unicamp:
– É um cenário que não é bom nem para o Rio Grande do Sul e nem para o Brasil. Além da seca e do protecionismo, a Argentina foi atingida pela crise mundial e pela queda no preço das commodities, como da soja.
A negociação com a Argentina para que recue nas ações protecionistas, diz Almeida, é uma das poucas coisas que o Brasil pode fazer para diminuir esse impacto. O problema não é apenas gaúcho. A Argentina reduziu as compras brasileiras em 50% em janeiro.