Redação (09/03/2009) – O suinocultor Valdecir Luis Folador não tem medo de trabalho. Filho e neto de suinocultores está desde menino na lida da atividade e nesse tempo aprendeu que sem empenho e dedicação não se chega a lugar nenhum na suinocultura. Em sua cartilha o ditado popular ganha um novo atributo: é o olho e o trabalho do dono que engordam o porco.
Gaúcho de Barão de Cotegipe (RS), Folador dedica-se a suinocultura há duas décadas. Sua experiência com o setor é reconhecida pelos produtores gaúchos. Sua liderança também. Prova disso é sua reeleição frente à presidência da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs). Detalhe: pela terceira vez consecutiva. O pleito que o manteve no cargo foi realizado na manhã de hoje (06/03), na sede da entidade em Estrela (RS).
Há dois mandatos à frente da Acsurs, Folador acredita que a entidade avançou nos últimos anos no seu trabalho de defesa do suinocultor gaúcho. Apressa-se para enfatizar, no entanto, que “ainda há muito a ser feito”.
Questionado sobre o quê de mais importante a Acsurs fez sob sua batuta, Folador cita as ações nas áreas sanitárias e ambientais, como a construção de um novo laboratório de análises de doenças veterinárias – que facilita a permanência e abertura de novos mercados consumidores – e o trabalho incansável para garantir condições para uma produção em perfeita harmonia com o meio ambiente.
Destaca também a atuação conjunta com a Associação Brasileira dos Criadores de Suíno (ABCS) e Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) na busca de recursos financeiros junto ao governo federal e a execução da campanha “Um novo olhar sobre a carne suína” para ampliação do mercado interno à carne suína.
Planos – Mas mais do que ao falar das conquistas, Folador se empolga mesmo é quando o assunto são os planos da Acsurs para os próximos dois anos. Segundo ele, o principal desafio da entidade no próximo biênio é melhorar a comunicação entre a indústria e o produtor. Para tanto, pretende criar o Conselho Paritário (Consuíno), uma espécie de corpo coletivo que congrega atores dos mais diferentes elos da cadeia suinícola para discutir as questões mais prementes do setor. O objetivo central do conselho, explica o suinocultor, é harmonizar a relação entre esses diferentes atores e viabilizar uma distribuição mais equânime dos ganhos da atividade. O desenvolvimento de novas parcerias com a ABCS e a Abipecs também terá prioridade, enfatiza Folador.
O que mais os suinocultores gaúchos podem esperar para os próximos dois anos? Trabalho, muito trabalho, diz o presidente da Acsurs.
Suinocultura Industrial conversou o Valdecir Folador, que falou sobre sua reeleição, sobre as conquistas e desafios da Acsurs e sobre como a suinocultura gaúcha está sentindo os efeitos da crise. Confira abaixo os melhores trechos da entrevista:
Suinocultura Industrial – Os últimos dois anos alternaram bons e maus momentos para a suinocultura gaúcha e, consequentemente, exigiram bastante empenho da Acsurs. Que balanço o senhor faz do trabalho da associação no último biênio?
Valdecir Folador – Foram dois anos de bastante trabalho, procurando desenvolver ações nas mais diferentes áreas que interessam à suinocultura gaúcha, sobretudo as mais urgentes como as áreas ambientais, sanitária e as áreas de interesse econômico de nosso produtor. Acredito que a atuação da Acsurs foi bastante eficaz. Nos esforçamos bastante. Entretanto há muito ainda a fazer.
SI- Em sua opinião quais foram as principais ações da entidade nesse período?
Folador – Enumerar ou classificar as ações como mais ou menos importantes é complicado. Pode gerar equívoco ou esquecimento. Mas posso falar sobre a nossa busca, junto aos órgãos governamentais, de medidas de suporte para o setor. Trabalhamos para tentar minimizar as dificuldades do produtor gaúcho. Acredito que uma ação muito importante, não só no Rio Grande do Sul, foi a conquista, junto ao governo federal, de verbas para a construção de mais um laboratório nível 3 para diagnósticos de doenças na área animal dentro de nosso Estado. Hoje o mercado internacional é muito exigente na área sanitária, então, precisamos fazer cada vez mais investimentos nesta área.
Os produtores buscam fazer a sua parte, fazer aquilo que é recomendado. A Acsurs também atua em conjunto com o governo estadual e federal para que os órgãos públicos também façam a sua parte. A área ambiental também foi prioritária neste segundo mandato.
SI- O senhor já está a dois mandatos à frente da Acsurs. Que motivos o levaram a disputar um terceiro mandato?
Folador – Olha, sobretudo o pedido feito pelos produtores. Acredito que conseguimos desenvolver nos últimos quatro anos um bom trabalho, com boas propostas. E é importante ressaltar que quando digo conseguimos, me refiro à equipe da Acsurs, a todas as pessoas que fazem parte da Acsurs.
Temos defendido aquilo que é realmente de interesse do nosso suinocultor. Acredito, portanto, que o produtor percebeu esse trabalho sério, aliás essa é uma característica da Acsurs em seus 36 anos de história. Acredito que na minha gestão, o produtor reconheceu nossas conquistas ao representar os interesses da cadeia. É uma satisfação ter essa confiança do produtor. Ao mesmo tempo nossa responsabilidade aumenta. O que posso dizer é que vamos trabalhar duro para continuar dando respostas ao nosso produtor à altura, como ele espera.
SI – Esse novo mandato à frente da Acsurs o afasta de uma eventual candidatura à presidência da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS)?
Folador – Sinceramente confesso que não tenho planos de me candidatar à presidência da ABCS. Apesar de terem surgido algumas propostas e consultas nesse sentido. Em minha opinião e na opinião da Acsurs, o atual presidente, Rubens Valentini, é o nome mais indicado para continuar presidindo a entidade. A ABCS tem desenvolvido um belo trabalho, com projetos junto ao Sebrae para liberação de recursos expressivos para suinocultura. Além, claro, da campanha “Um novo olhar para carne suína”, que vem colecionando resultados expressivos.
SI – Em sua opinião quais serão seus principais desafios neste novo mandato?
Folador – Na outra eleição assumimos uma proposta de criação de um Conselho Paritário na suinocultura do Rio Grande do Sul chamado Consuíno. Portanto, um dos principais desafios será colocar em prática este conselho. Depois de dois anos de muita negociação e conversação com a indústria, conseguimos efetivar o conselho no Estado. Agora nós vamos contratar uma universidade para fazer todo o estudo técnico e econômico da suinocultura do RS. O objetivo é unirmos o setor e chegarmos a um consenso, entre produtor e indústria, para termos um valor de comercialização mais adequado a nossa produção, levando em conta todos os custos.
Em períodos de dificuldade para a suinocultura, por exemplo, queremos que o produtor consiga ao menos ganhar o preço de produção de seu animal, sem prejuízo. Nesse sentido, a criação do Conselho Paritário é uma grande evolução para cadeia da suinocultura gaúcha.
SI- Quais serão as principais prioridades e metas da diretoria da Acsurs neste terceiro mandato?
Folador – Como eu disse, a meta de colocar o Conselho Paritário em prática deve prevalecer. Foram dois anos para conseguimos criá-lo. A partir de agora temos expectativas de trazer resultados práticos, principalmente ao produtor, numa discussão em busca de melhor rentabilidade, uma distribuição da renda dentro da cadeia produtiva, em atenção na relação produtor-indústria. Esperamos uma repartição tanto dos lucros como dos prejuízos de forma serena e coerente, para que nenhum dos elos saia perdendo e comprometendo tudo aquilo o que o suinocultor conquistou ao longo de tantos anos. É importante nós sobrevivermos unidos para o crescimento conjunto.
Mas claro, vamos continuar nosso trabalho de evolução ambiental e sanitária. Vamos buscar novos mercados. Parcerias com a ABCS e a Abipecs também terão prioridade.
SI – Qual a atual situação da suinocultura no Rio Grande do Sul?
Folador – Hoje a situação da suinocultura do RS é bastante crítica. Nosso suinocultor está perdendo muito dinheiro na atividade, seja ele independente, seja ele integrado, seja produtor de leitão. Hoje, o único produtor que não perde dinheiro na atividade é o engordador de suíno, que recebe pelo índice de eficiência e possui um salário, garantido sua rentabilidade.
SI – Quais são os principais desafios e dificuldades para o desenvolvimento da suinocultura gaúcha atualmente?
Folador – Os suinocultores estão comprometendo seu patrimônio, o que nos preocupa. Através da ABCS, encaminhamos um conjunto de reivindicações na esperança de melhorar a situação financeira do setor. Até agora, pouco foi atendido. Estamos lutando para que as medidas solicitadas sejam efetivadas rapidamente. Com o setor suinícola nacional unido, teremos mais força obtenção de recursos.
SI – Tendo a crise mundial como pano de fundo, quais são as perspectivas para a suinocultura gaúcha em 2009 sob o ponto de vista do produtor?
Folador – O produtor está muito preocupado e eu diria até que descrente de previsões. É complicado criar uma expectativa olhando o cenário mundial. O produtor que está na suinocultura há muitos anos, sabe que temos passado por momentos de altos e baixos, na dependência da situação dos mercados interno e externo. O produtor de suínos vive muito de expectativa e de esperança. Se esperança desse dinheiro, o suinocultor dentro do agronegócio seria o produtor mais rico de todos. O produtor espera uma reversão da situação. Ele busca novos mercados, há promessas de novos mercados se abrirem para carne brasileira. Hoje o produtor está mais cauteloso em seus investimentos, analisando melhor seus riscos e comprometimento de seu patrimônio. A crise econômica vai passar. Ela pode demorar, muito se perde no caminho, mas temos a expectativa de que em 2009 o suinocultor possa recuperar esse prejuízo.