Da Redação (30/03/2009) – Enfocada em manter a competitividade mundial do Brasil, a nova gestão da Embrapa Suínos e Aves sinaliza para novas tecnologias e avanços nas áreas sanitárias e ambientais da avicultura e suinocultura nacional. Dirceu João Duarte Talamini, eleito pela terceira vez chefe-geral da Embrapa, explica que os principais desafios da unidade são representados pela necessidade de se atender às demandas de tecnologia em todas as áreas do conhecimento, que mantenham o acesso do Brasil ao mercado internacional das duas cadeias. “Além do conhecimento geral, existem demandas claras e focadas em temas relacionados à sanidade animal, segurança alimentar, adequação dos sistemas de produção às novas regiões brasileiras e principalmente a redução de impactos ambientais da produção das cadeias de aves, suínos e ovos”, diz.
Segundo Talamini, para atingir os objetivos, a entidade deve iniciar as ações do Plano Diretor da Unidade (PDU) 2008-2011, que preveem aumento da equipe técnica para fortalecer o planejamento dos projetos de pesquisa, modernização de laboratórios e novas tecnologias para as áreas ambientais. Uma delas é o incinerador de animais, que dá um destino ambientalmente correto aos animais mortos durante a produção, assim como a resíduos de risco biológico, evitando contaminações em granjas. “Devem se estabelecer novas parcerias com outras unidades da Embrapa e com empresas, visando facilitar a transferência de tecnologias”, explica. “Hoje nós temos uma tradição muito grande de desenvolvimento e conhecimento que pode ser usado na produção de suínos e aves do Brasil”.
Talamini conversou com Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial. Na conversa, ele fala dos desafios das cadeias produtivas na terceira gestão, destacando algumas ações da Embrapa para manter a competitividade do Brasil no cenário mundial. Ele também sinaliza para avanços importantes na área ambiental com o tratamento de dejetos e reutilização de água. Acompanhe:
Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial – O senhor chefiou a Embrapa Suínos e Aves de
Dirceu Talamini – Os desafios da suinocultura e da avicultura são uma continuidade dos desafios do passado, especialmente no que se refere ao desenvolvimento tecnologias que reduzam o efeito de barreiras não tarifárias para acesso aos mercados internacionais. Precisamos manter nosso status sanitário, ambiental e qualitativo. A posição do Brasil é privilegiada ao redor do mundo. No geral, os principais desafios do setor permanecem. O que mudam são os métodos, equipamentos e processos mais sofisticados no desenvolvimento da tecnologia.
AI/SI – O que levou o senhor a retornar a chefia-geral da Embrapa Suínos e Aves?
Talamini – Nossa unidade sempre passa por um processo de renovação muito acelerado de quadro. Muitos técnicos estão se aposentando, dando espaço para a entrada de técnicos inexperientes nas questões de gestão. Nós, que estamos próximos de encerrar nossas atividades pelo tempo de serviço desenvolvido na Embrapa, julgamos que podemos auxiliar esta nova geração de pesquisadores nas questões de gestão e administração. Por isso, decidi participar deste processo de seleção, como candidato único.
AI/SI – Atualmente, quais os principais métodos e tecnologias desenvolvidos pela Embrapa Suínos e Aves?
Talamini – A Embrapa Suínos e Aves tem a tradição de desenvolver métodos, sistemas e produtos que podem ser usados na produção de aves e suínos. Logo nos primórdios da unidade, na década de 80, fomos pioneiros no lançamento mundial de uma vacina para rinite atrófica dos suínos. Desde então, trabalhamos na obtenção de novas tecnologias para reduzir impactos negativos da cadeia. Atualmente estamos focando no lançamento do “Incinerador de Animais”. Ele consiste em eliminar com segurança os animais que morrem doentes na produção, sem contaminar o meio ambiente.
AI/SI – Mas não existem outros projetos?
Talamini – Nós temos um conjunto muito grande de trabalhos em andamento, tanto em desenvolvimento de vacinas como métodos de diagnósticos de doenças e divulgação de informação. Posso destacar alguns trabalhos que visam diminuir o impacto ambiental da suinocultura e avicultura. Na linha de agregação de valores, temos uma estação de tratamento de dejetos avícolas e suinícolas em fase final de avaliação. Acredito que teremos um grande avanço no impacto das cadeias no meio ambiente. Neste ano, tido como o Internacional da Água, vamos fazer campanhas de racionalização do uso e apresentar métodos de reaproveitamento da água da chuva e da água utilizada na produção. Vamos trabalhar melhor a questão da sustentabilidade ambiental das duas atividades.
AI/SI – Há um Plano Diretor da Embrapa para o período 2008-2011. O senhor chegou a participar das discussões e elaboração dele? Quais os principais desafios para implantar e seguir suas orientações?
Talamini – Sim, eu participei da elaboração do PDU. Como eu seria candidato único, a chefia anterior sempre me informou e me interou dos processos importantes que estavam ocorrendo. Participei, junto com empresas e técnicos avícolas e suinícolas, da comissão que elaborou o Plano Diretor da Unidade, que definiu prioridades. O PDU trata desde a renovação do quadro de empregados, pesquisadores, técnicos e assistentes, até as linhas de pesquisa. Ele indica contratações futuras, além da continuidade dos trabalhos que estão sendo realizados. Nosso desafio para os próximos anos é fortalecer o foco no que se refere à saúde animal. Visamos diminuir os impactos ambientais e reduzir o risco de doenças nas cadeias, e desenvolver métodos rápidos e efetivos para detecção de doenças. Nosso trabalho é continuar desenvolvendo conhecimento que suporte a manutenção das três cadeias produtivas: de suínos, frangos e ovos.
AI/SI – Uma de suas metas é ampliar o tamanho da equipe técnica presente hoje na Embrapa Suínos e Aves. Como pretende fazer isto e quais as áreas mais carentes de profissionais?
Talamini – Temos a missão de desenvolver tecnologias, processos, produtos e serviços que atendam a suinocultura e a avicultura para o Brasil e, atualmente, para países de menor desenvolvimento. Então, com duas cadeias tão importantes como estas, é necessário o aumento do quadro de técnicos, pesquisadores e avalistas em todas as áreas. Deveremos criar um edital para a realização de concurso público, mas não tenho datas ainda.
AI/SI – Além da carência de profissionais, existe outras dificuldades enfrentadas pela unidade neste momento?
Talamini – Nossa unidade vai fazer 35 anos. Com a idade, vem o peso de trabalhar com equipamentos e estrutura obsoletos. É muito importante uma revitalização não só dos recursos humanos como também da estrutura de apoio a pesquisa. Em relação aos investimentos, nós tivemos o Programa de Aceleração da Embrapa, que deu aporte mais significativo [de R$650 milhões]. Pudemos melhorar prédios e equipamentos. O PAC permitiu a melhoria de campos experimentais e laboratórios.
AI/SI – Como fazer para ampliar a interação entre a Embrapa Suínos e Aves e empresas da cadeia produtiva de suínos e aves e como isto pode facilitar a transferência de tecnologia?
Talamini – Nossa unidade sempre procura estar presente nos eventos técnicos do setor, que envolvem produtores, indústria, acadêmicos e pesquisadores. Então, dentro dessas prioridades que falamos, pretendemos promover reuniões e desenvolver projetos conjuntos com cooperação técnica das empresas e outras instituições de pesquisa e produção. Com isso, poderemos buscar recursos para pesquisa tanto nas entidades oficiais, como no setor privado. Poderemos alinhar nossos esforços no sentido de resolver problemas da cadeia produtiva.
AI/SI – Hoje está transferência de tecnologia é pequena? Quais as dificuldades para isto?
Talamini – Nós temos dificuldade de acompanhar o desenvolvimento e expansão das atividades em novas regiões. Até pouco tempo, a produção era centralizada no sul do Brasil. Mas hoje, o Centro-oeste com o Mato Grosso e o Nordeste com Pernambuco, já contam com investimentos brasileiros na suinocultura e avicultura. Estamos com dificuldade de transferir tecnologia nessas áreas. Por outro lado, com a internet, todos os técnicos do Brasil e no mundo têm acesso à informação em tempo real, conseguindo acompanhar nossos trabalhos e usar os resultados relevantes. Precisamos acelerar o contato de nossos pesquisadores com os técnicos das empresas, mas a disponibilidade dos nossos resultados de publicações sem custo na internet, acelera o acesso à tecnologia.
AI/SI – O pesquisador hoje está preparado para esta relação ou ainda há aquilo do pesquisador focar apenas em seus trabalhos e publicá-lo, não buscando patentes e formas de disponibilizá-lo ao mercado? Os pesquisadores têm buscado mais o caminho da patente?
Talamini – Hoje existe uma orientação de que se proteja o conhecimento gerado. Então o patenteamento é um dos objetivos da unidade. Mas, o objetivo principal é ter uma resposta importante aos problemas sentidos e sempre que possível proteger esse conhecimento. Estamos numa fase de transição, a maior relevância está em nosso trabalho e ao mesmo tempo, usar alguns mecanismos de proteção e conhecimento.
AI/SI – A Embrapa Suínos e Aves dispõe de uma área específica para dar suporte as pesquisas que podem ser patenteadas?
Talamini – Sim. Na Embrapa Nacional em Brasília foi criada uma área de Inovação de Tecnologia, que cuida dessas questões relacionadas à propriedade intelectual, a patente, proteção. Em nossa unidade também temos profissionais que se dedicam a esse assunto. Inclusive o incinerador de animais é um produto patenteado.
AI/SI – A crise internacional pode atrapalhar o financiamento ou direcionamento de recursos para pesquisas ou unidades como a Embrapa?
Talamini – Olha, como nós dependemos de recursos públicos, certamente essa crise vai nos atingir. A crise vai trazer redução de arrecadação do governo, e consequentemente, cortes e dificuldades na liberação de recursos. Como a Embrapa não é uma das entidades mais caras para o governo, esperamos que ela não sofra tanto. Além disso, nossa entidade é estratégica pelo o que oferecemos para o País, não só pra manter a produtividade de produção agrícola, mas também como parte da política externa brasileira. Hoje, a Embrapa está presente na Ásia, na África, na Europa e nos Estados Unidos. Enfim, espero que a unidade seja preservada, mas, marginalmente, vamos sofrer com essa crise internacional.
AI/SI – A produção de aves e suínos no Brasil é calcada em alta tecnologia. O que fazer para não perder a competitividade alcançada?
Talamini – A cadeia produtiva, as empresas e a Embrapa vão continuar a desenvolver os seus estudos, os seus projetos, e fazendo os ajustes de organização e logística para manter a competitividade. Então, as questões tecnológicas permanecerão preservadas. Com a exposição histórica que a suinocultura e a avicultura do Brasil possuem no mundo, não é possível se descuidar e retroagir ao uso de tecnologia e a modernização dos processos gerando perda de competitividade. Eu acredito que maiores cuidados nos investimentos nessa área do conhecimento vão continuar até por uma questão de sobrevivência e estratégia de todo o sistema produtivo.