Redação (06/04/2009)- Fator cada vez mais decisivo na compra de produtos cárneos, o bem-estar animal torna-se um diferencial do país que busca ampliar seu mercado. Atento a esta nova tendência, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fez uma parceria inédita com a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) e lançou o Programa Nacional de Abate Humanitário (Steps, em inglês) em cerimônia realizada no dia 2 de abril, em Brasília (DF).
De acordo com o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Inácio Kroetz, profissionais de abatedouros e fiscais agropecuários serão treinados em práticas de bem-estar animal por meio do programa. “O objetivo é evitar barreiras comerciais, com total preocupação com o bem-estar dos animais, gerando mais conhecimento e parcerias”, explicou.
Kroetz disse que o treinamento atinge principalmente as empresas que trabalham com o abate de aves, suínos e bovinos, entretanto, a adesão é voluntária. “Apesar da adesão dos frigoríficos ser voluntária, o respeito ao bem-estar animal faz parte da fiscalização de nossos inspetores, ou seja, todos devem estar preparados”, afirma.
Um estudo europeu apresentado pelo diretor da WSPA no Brasil, Antônio Augusto Silva, mostrou numa avaliação de
O Steps (Etapas, em português) é o marco inicial do Termo de Cooperação, firmado em janeiro de 2008 pelo MAPA e WSPA. Segundo Charli Ludtke, gerente de Animais de Produção da WSPA Brasil e coordenadora do programa, as próximas ações incluem atualização da legislação brasileira referente ao bem-estar animal, introdução do assunto nos currículos das universidades (através de matérias) e promoção de congressos ligados ao tema.
Charli conversou com Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial, únicas publicações especializadas do setor de aves e suínos presentes no evento. Ela explicou objetivamente como o programa funciona e de que forma ele pode refletir na indústria de carnes. Veja a seguir:
Avicultura Industrial e Suinocultura Industrial- O que é o Programa Nacional de Abate Humanitário (Steps)?
Charli Ludtke- O Steps é uma reciclagem que tem por objetivo permitir um melhor entendimento da questão do bem-estar dos animais e a implementação dos dispositivos da legislação brasileira que incorporam as boas práticas, incluindo padrões internacionais, as diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e da União Européia. O programa contou com a consultoria da Animal-i, que orientou a equipe da WSPA sobre os principais pontos que devem ser abordados no treinamento dos fiscais agropecuários. Ele abordará temas como condição física do animal, local do abate, modelo de área para descanso e os efeitos do estresse na qualidade da carne. O programa está focado na avicultura, suinocultura e bovinocultura, e temos o apoio de entidades como a União Brasileira de Avicultura (UBA), da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef) e Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). E é a primeira vez que temos a união de governos, associações que representam o setor de animais de produção e uma ONG de proteção animal, objetivando a construção de um programa brasileiro de treinamento adaptado à nossa realidade.
AI/SI- Como funcionará este programa no Brasil? Como ele será implantado?
CL- Estamos num momento muito favorável no Brasil para iniciar a implantação de programas que priorizem o bem-estar dos animais de produção. Esta é a primeira vez que o País desenvolve um treinamento adaptado a nossa realidade. Os problemas focados nos treinamentos europeus são totalmente diferentes dos nossos, por isso fizemos módulos adaptados aos problemas brasileiros. Porém, por ser voluntário, o programa deve ser implantado gradualmente. Os frigoríficos que aderirem ao programa, receberão o treinamento de nossa equipe e recursos áudio visuais. São manuais impressos e DVDs com as filmagens das melhores plantas do Brasil, consideradas exemplos no abate animal. Este material está focado
AI/SI- Mas qual é o benefício direto da empresa que aderir ao Steps?
CL- Bem-estar dos animais, melhor qualidade da carne e bem-estar do trabalhador. Um animal bem tratado terá menor risco de lesões corporais e stress, o que reflete diretamente na produção da carne. E se a relação do manejador com o animal for mais tranquila, a interação entre eles é totalmente positiva. Enfim, bem-estar animal é um requisito de mercado. Quem exporta para União Europeia, por exemplo, deve se ater a essas normas e procedimentos.
Charli Ludtke (ao centro), com os veterinários e zootecnistas responsáveis pelo Steps |
AI/SI– Então qual a maior dificuldade de atrair os frigoríficos para o programa?
CL- Não é bem uma dificuldade… Quando falamos de bem-estar animal, todo mundo pensa em grande investimento. Isso não é real. Muitas vezes, pequenos procedimentos que você muda nas instalações e treinamento dos manejadores não apresentam custo. Explicamos isso nos DVDs. Precisamos desmistificar que bem-estar representa custo. Vemos que os frigoríficos que implantaram um programa de bem-estar têm controle total sobre o os riscos de hematomas, contusões, fraturas e lesões. Isso reflete economicamente, pois as perdas que tais problemas poderiam gerar são supridas. O programa está sendo bem receptivo. Já temos boa procura pelo material, representantes de frigoríficos reclamam que não têm ferramenta para dar o treinamento… Bom, agora tem.
AI/SI- Qual a atual situação do abate humanitário no Brasil? Falta muito para atingirmos os níveis europeus?
CL- Temos uma situação bem diversificada. Encontramos no Brasil frigoríficos com excelentes níveis de bem-estar animal. Plantas com o programa já implantado há muito tempo. Eu destaco o Estado de Santa Catarina, que possui maior número de granjas que se preocupam com o bem-estar animal na hora do abate. Porém, encontramos ainda muitas plantas caóticas. Temos abatedouros pequenos, municipais, estaduais que muitas vezes não possuem métodos adequados de sensibilização dos animais na hora do abate. Então, é muito diversificada a situação e nosso objetivo é levar a informação a quem não tem. Sabemos que temos tecnologia para atingir bons níveis de bem-estar animal, por isso estamos investindo para que o Brasil se torne líder no abate humanitário. Temos todas as condições necessárias para a produção de proteína animal, certamente vamos evoluir muito, melhorar muito este aspecto.