Redação (07/04/2009)- Integrante da bancada de oposição ao governo no Congresso, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), disse à Folha que tem orientado os associados da entidade a trabalhar com uma perspectiva de pé no freio para a próxima safra (2009/2010).
A colheita dessa safra ocorrerá justamente às vésperas da campanha ao Palácio do Planalto. "Não quero pregar o terror, mas é preciso cautela", afirmou ela. "Aumentar a produção não é um bom negócio", disse, em audiência na Câmara na semana passada, o professor Guilherme Dias, da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, consultor da entidade.
A CNA enxerga dois cenários que contribuem para essa orientação: o endividamento dos produtores (sem dinheiro, não pagam as parcelas vencidas e ficam sem a possibilidade de novos financiamentos bancários) e o fato de a crise internacional ter gerado não apenas a falta de crédito, mas também a diminuição no consumo (ou seja, não haverá compradores em caso de produção recorde).
Procurados pela reportagem, representantes de outras entidades disseram apoiar a estratégia da CNA. Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da UDR (União Democrática Ruralista), afirma que o "pé no freio" tem de ocorrer também por uma questão política.
"É preciso meter o pé no freio. Não dá para fazer graça, não dá para fazer campanha. O governo [Lula] se reelegeu com a propaganda do alimento barato e até hoje não implementou uma política de subsídio."
Já para Cesário Ramalho da Silva, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), a cautela e a eleição são apenas uma coincidência. "O produtor não tem bandeira política. A cautela é plenamente necessária por uma questão econômica. Só pode investir naquilo que tenha retorno rápido".
Ruim para todos
Diante do endividamento e da falta de crédito, uma primeira alternativa aos produtores seria manter a área plantada, mas diminuir o uso de tecnologia. Para a CNA, essa opção já está em prática na atual safra (2008/2009) e é "improvável" que seja repetida na seguinte (2009/2010), por conta dos riscos de desgaste do solo. Restaria, então, a troca por culturas mais baratas (algodão por soja, por exemplo) e a diminuição da área plantada.
"Uma safra menor é ruim para todo mundo, inclusive para os políticos que estão no poder. Quem está no poder tem a caneta na mão e precisa tomar as atitudes. Não há dúvida nenhuma de que uma safra maior é bom para o país todo", disse Rui Prado, presidente da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso).
Para a Conab, a área plantada na atual safra totalizará 47,4 milhões de hectares. Esse número, segundo a CNA, poderá cair em ao menos 20% naquela que vai de julho de 2009 a junho de 2010. Essa estimativa tem como base o recuo já registrado na indústria (queda de 17,2% em janeiro, ante o mesmo mês de 2009) e a queda na compra de fertilizantes.
De acordo com a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), no primeiro bimestre de 2009 houve queda de 26,4% na entrega de fertilizantes aos produtores do país em comparação com o mesmo período de 2008.
Nesse mesmo período, segundo a Anda, caíram também a produção nacional (32,7%) e a importação do produto (87,6%). Isso, para a CNA, é um demonstrativo claro da paralisia dos produtores.
Ywao Miyamoto, presidente da Abrase (Associação Brasileira de Sementes e Mudas), diz que a cautela da CNA tem a ver com o tamanho da área. "A cautela é para não sair arrendando novas áreas. É para trabalhar com a área que tem, usando para isso uma alta tecnologia".