A conta da crise financeira global iniciada nos Estados Unidos no fim de 2008, enfim, chegou ao campo. O Produto Interno Bruto do agronegócio deve recuar 7,2% neste ano, estimou ontem (08/12) a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) a partir de dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
A soma de todas as riquezas geradas pelo setor rural, projetada em R$ 709,3 bilhões, sofrerá uma redução de R$ 55,3 bilhões em apenas um ano – R$ 16 bilhões na pecuária e R$ 39,4 bilhões na agricultura. Desidratado pelos maus resultados do setor primário e agroindústria de insumos, o PIB poderia ter recuado ainda mais. “Foi uma surpresa não ter sido tão ruim quanto se esperava no início do ano. E 2008 tinha sido muito bom para o setor”, resumiu a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO).
A manutenção da demanda interna atenuou o impacto da quebra de 6,4% na safra nacional de grãos e o recuo dos preços internacionais das commodities. Mas a aversão dos bancos ao risco, traduzida pelo enxugamento do crédito rural, e a forte elevação dos custos de produção minaram a rentabilidade dos produtores rurais neste ano.
Para 2010, ano de eleições presidenciais e parlamentares, os produtores estão bastante otimistas. Preveem uma “recuperação dos resultados” por meio do aumento da oferta com a safra maior, faturamento em alta e crescimento da receita do setor. O PIB deve voltar aos níveis de 2007, quando chegou a R$ 715 bilhões. “A recuperação dos países ricos ainda é pouco convincente e os preços das commodities não decolaram. Mas há previsão de boas safras, aqui e no mundo”, disse Kátia Abreu.
A CNA prevê uma elevação no faturamento das principais atividades agropecuárias em 2010. O Valor Bruto da Produção (VBP) deve saltar de R$ 233,2 bilhões para R$ 245,2 bilhões, um crescimento de 5%. “Teremos preços melhores, aumento da área plantada e recuperação da pecuária”, estimou a economista Rosemeire dos Santos.
Mas há incertezas no horizonte. As principais interrogações são o impacto do clima sobre as lavouras, o ritmo de recuperação da economia mundial, a manutenção do consumo interno, a demanda nos países asiáticos (sobretudo a China) e a taxa de câmbio, além do descasamento entre custos e receitas.
Mesmo com o otimismo para 2010, os produtores mantêm algumas demandas históricas em relevo. E devem entrar o último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva cobrando uma nova política agrícola. “O modelo do crédito rural apodreceu. Queremos 100% de seguro para os produtores, como se faz nos Estados Unidos”, disse a senadora Kátia Abreu.
Ela também informou que “estão avançadas” no governo as negociações para um novo desenho tributário para o setor. “Estamos tentando encontrar uma fôrma para cada tamanho de produtor. Do minifúndio à agricultura empresarial.”, disse. Abreu criticou, ainda, a recomposição florestal em estudo no governo. “Os produtores são conscientes, mas não queremos achismos nem radicalização do Ministério do Meio Ambiente”, acrescentou.
Ainda na “agenda antiga”, os produtores insistem em uma solução para o endividamento do setor e as graves deficiências logísticas do Brasil Central. “O produtor não pode pagar pela ineficiência do Estado”, disse Kátia Abreu. E defendeu a concessão de subsídios ao setor. “Não podemos bancar o jogo da comida barata sempre. Precisamos de mecanismos que ajudem o produtor antes do fundo do poço, algo que evite um apagão da agricultura, como as termelétricas fazem na energia”, pregou.