O Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR) reuniu quatro economistas nessa segunda-feira (09/11) para discutir as perspectivas para a economia paranaense e brasileira em 2010 envolvendo os setores de agronegócio, financeiro, indústria e emprego. Do ponto de vista do agronegócio a estimativa era dobrar as exportações brasileiras no período de 2007 a 2017 e chegar a 170 milhões de toneladas. No entanto, a crise retardou esse processo em aproximadamente três anos.
De acordo com o consultor técnico para assuntos de logística e infraestrutura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antonio Fayet, isso deverá levar o Brasil a ser responsável por mais de 50% do mercado internacional de oito das principais commodities.
A previsão é que o Sul e o Sudeste se especializem em produtos mais sofisticados e de exportação por contêineres. O Centro Norte e o Centro Oeste do País devem assumir a exportação básica a granel e, mais tarde, serão responsáveis pela expansão futura em todas as linhas.
No entanto, ele destacou que o Brasil tem grandes problemas de transporte para o escoamento dos produtos do agronegócio. Fayet defende novos investimentos porque o sistema rodoviário não deve suportar a demanda. Para ele, uma saída seria a implantação de hidrovias. Nos EUA, mais de 60% do agronegócio são transportados pela bacia do Rio Mississipi. Para ele, o Brasil tem uma situação privilegiada em termos de rios.
“”O sistema portuário é um escândalo””, disse. Segundo ele, há perdas por falta de condições de infraestrutura. Outro problema sério é a redução da capacidade de carga dos navios por falta de dragagem nos portos. Segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o País perde R$ 3 bilhões por ano em soja por conta do Porto de Paranaguá.
Fayet destacou que o Brasil tem equilíbrio energético, autossuficiência alimentar, exporta comida, energia automotiva, produtos florestais e minerais estratégicos. Para ele, o agronegócio é uma grande alavanca de desenvolvimento do mercado interno, porém o crescimento do PIB de 4% a 5% pode ficar difícil por falta de portos.
O que podem ser dois grandes filões para o Paraná são o etanol e o cooperativismo. O agronegócio tem grande capacidade de geração de emprego e renda.
Indústria
“A crise foi inicialmente negada e veladamente reconhecida”, destacou o diretor do curso de Economia da FAE, Gilmar Mendes Lourenço. Ele lembrou que os setores que receberam incentivos fiscais do governo foram a de automóveis, construção civil e a linha branca.
Segundo ele, o Brasil teve uma recuperação mais acentuada e passa por um novo ciclo econômico. Em 2008, o Brasil teve um crescimento da produção industrial superior a 6% por trimestre. O setor de bens de capital foi o que mais puxou este resultado seguido por bens de consumo. Depois, a produção encolheu por quatro trimestres, desde outubro de 2008 até setembro de 2009. Nos últimos 12 meses, a produção caiu 10,3% no Brasil.
Em outubro deste ano, a indústria automobilística registrou crescimento de 13%, o primeiro resultado positivo em relação ao mesmo mês de 2008. Para Lourenço todos esses dados mostram que a crise não foi uma “marolinha” como o presidente Lula havia falado. Vale lembrar que o setor de bens de capital só começou a crescer no terceiro trimestre deste ano (julho a setembro).
Para ele, os principais entraves ainda são as dúvidas sobre a recuperação da economia mundial. Hoje, os EUA têm 16 milhões de desempregados e a China vive a precariedade da política cambial.
Lourenço destaca que apesar de a Selic (taxa básica de juros da economia) ter caído de 13,75% ao ano para 8,75% em menos de seis meses, a queda dos juros não chegou ao consumidor final. Para ele, o “ciclo de desenvolvimento do consumo pode estar com os dias contados”. Além disso, ele destacou que o maior peso do spread bancário é provocado pela falta de concorrência entre os bancos no Brasil. Além disso, o governo absorve 60% dos recursos dos bancos o que torna o dinheiro mais caro.
Para ele, há falta de preocupação com o projeto de crescimento do Brasil e com as reformas estruturais. Apesar de toda a conjuntura, o Paraná é um dos Estados menos afetados na produção industrial que caiu 4,3% nos últimos 12 meses (encerrados em setembro). As maiores perdas no Paraná foram na indústria automotiva (-36%), madeira (-25%), metalúrgica (-16%) e máquinas e equipamentos (-18,7%).
Só as exportações do Paraná tiveram queda de -27,6% em dólar de janeiro a setembro de 2009. Para ele, o Estado está “encolhendo em relação ao Brasil”. Além disso, esqueceu de planejar o desenvolvimento. “Perdemos a Toyota para São Paulo e a Britânia para a Bahia”, lembrou. Lourenço acredita que há falta de influência do Estado na órbita federal.