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Manejo

Do pasto ao prato

<p>Empresas desenvolvem sistemas capazes de rastrear a trajetória do alimento. Objetivo é abrir mercados para carne suína e bovina.</p>

Duas empresas brasileiras desenvolveram, com apoio do Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), sistemas capazes de rastrear a cadeia de carnes, permitindo identificar a trajetória do produto desde o nascimento do animal até a chegada do bife no prato. O objetivo é agregar valor à produção de carne suína e bovina no país, abrindo mercados e aumentando a margem de lucro da atividade pecuária.

No caso da carne bovina, com o maior rebanho comercial do mundo, o Brasil exportou 1,3 bilhão de toneladas em 2008, volume 14% inferior ao registrado em 2007. A cotação da tonelada, no entanto, compensou a queda: o setor fechou o ano com ingressos de US$ 5,3 bilhões, 20% a mais do que no período anterior.

O país, agora, procura se alinhar às exigências do mercado externo para se consolidar na posição de maior exportador global de carnes. Mas, para tanto, ainda há barreiras a vencer e a principal delas é atender às exigências de controle do rebanho.

Para isso, o governo federal já conta com o Sistema Brasileiro de identificação Bovina e Bubalina (Sibov) que permite rastrear a cadeia da carne do campo, garantindo a origem e manejo adequado do gado, entre outras informações.

Mas, a partir do frigorífico até o varejo, há o risco desse acervo se perder: ao desossar uma banda de carne identificada por um chip, por exemplo, pode haver erro na identificação das peças e ainda não existe um sistema que permita o seu monitoramento.

Foi exatamente para cobrir essa área cinzenta da cadeia de comercialização e, ao mesmo tempo, alinhar-se às demandas futuras do mercado externo, que a Sima Comércio e Serviços, empresa de consultoria de negócios e de desenvolvimento de tecnologias, arquitetou, em 2004, o projeto Rastro.

Com o apoio do PIPE, a empresa projetou um software para permitir ao consumidor final rastrear a origem da carne. “Constatamos que já existiam softwares semelhantes para atender a criação do gado no campo e outro, para identificação de origem, nos frigoríficos”, disse Arnaldo Ferreira Sima, diretor da empresa, à Agência Fapesp.

Os dois sistemas, no entanto, não são integrados. Essa falha de informação foi constatada in loco. “Pegamos 20 picanhas identificadas como sendo de um novilho macho, de 11 meses, e, depois de teste genético, constatamos que oito eram de fêmeas”, contou.

O projeto então foi modificado e o Rastro se transformou em uma plataforma de integração de vários softwares disponíveis no mercado, inclusive o do Sisbov. Assim, quando o consumidor digitasse o código de barras da embalagem de uma determinada peça de carne, poderia recuperar todas as informações sobre o novilho: fazenda de origem, dados sobre vacinação, sexo, idade do abate, entre outras.

De acordo com Sima, o projeto, que está iniciando a Fase 2 do Pipe, está quase pronto. Por razões de marca, o nome Rastro foi alterado para Pathfinder.

Segundo ele, o projeto estava em andamento quando, em 2007, a Fapesp percebeu que a proposta tinha sinergia com outro PIPE, da empresa BiomicroGen Soluções em Biotecnologia, residente na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp), que desenvolve sistema de identificação de genética de matrizes de suínos.

“A Fapesp promoveu o nosso encontro com a Sima”, contou José Luiz Donato, diretor da BiomicroGen, cujo projeto, atualmente, também está na Fase 2 do Pipe. Diferentemente dos bovinos, a identificação suína ainda utiliza sistemas convencionais, como brinco na orelha e tatuagem. Por meio de marcadores genéticos é possível identificar a matriz e, assim, a fazenda ou local de criação de origem.

A parceria entre a Sima e BiomicroGen foi bem sucedida, de acordo com Donato. “Fizemos vários encontros e pensamos, no futuro, em uma associação em uma terceira empresa para, juntos, poder comercializar os dois produtos”, disse.

Quando isso ocorrer, ao adquirir uma peça da carne produzida no Brasil, um consumidor em outro país poderá rastrear, por meio da internet, e em seu próprio idioma, a história do animal que lhe deu origem: a região onde cresceu, se a fazenda neutralizava emissões de carbono proveniente do gado, idade do abate e vacinação.

“Se ainda assim, ele tiver dúvidas quanto à certificação do produto, pode ter acesso à prova genética, já que esses dados estarão armazenados no sistema. Será uma espécie de teste de maternidade”, afirmou Sima.

Carnes nobres – O Sistema Rastro Pathfinder é um sistema aberto, baseado na web e que opera de maneira integrada com os sistemas de gestão dos diversos elos da cadeia produtiva. Tem uma arquitetura composta por sete módulos funcionais – em diversos idiomas – que poderão ser acessadas pelos usuários: agrícola, de gestão e produção de insumos, pecuária a manejo, frigorífico, logística, varejo e genética.

Essas informações serão ainda mais estratégicas em caso, por exemplo, de contaminação. “A vigilância sanitária poderá percorrer o caminho de volta daquela carne na cadeia produtiva e fazer o controle de segurança mais preciso”, disse Sima.

Ele observa, por exemplo, que sem ferramentas de rastreabilidade adequadas, o Brasil não conseguirá cumprir a Cota Hilton, uma parcela de exportação de carne bovina sem osso de alta qualidade e valor que a União Européia outorga anualmente a países produtores e exportadores de carnes.

No caso brasileiro, são 11 mil toneladas de cortes nobres, cotadas a US$ 15 mil a tonelada, ante os US$ 7.740 da tonelada de carne comum, e que podem gerar receita superior a US$ 300 milhões.