Dados recentes mostram que o consumo aparente de máquinas e equipamentos no País teve leve crescimento, de 1,4%, na média de julho e agosto na comparação com a média mensal do segundo trimestre. Considerando o resultado de agosto sobre o de julho, houve estabilidade, com queda de 0,2%. O número, resultado da soma da produção de bens de capital mais importação e excluídas as exportações, é um sinal de que a indústria brasileira voltou investir.
“A primeira leitura, positiva, é que o consumo de bens de capital parou de cair. O terceiro trimestre está mostrando uma recuperação, mas ainda fraca”, diz Douglas Uemura, economista da LCA Consultores. A expectativa é de que o número de setembro ajude a melhorar o resultado positivo do trimestre.
O consumo aparente acumulava quedas seguidas nos últimos trimestres. Caiu 8% nos últimos três meses do ano passado em relação ao período imediatamente anterior, 10,1% no primeiro trimestre de 2009 sobre o último de 2008, e 1,6% no segundo trimestre sobre a mesma base de comparação.
“A compra de máquinas e equipamentos despencou com a crise, estabilizou-se no segundo semestre e agora começa a crescer, sem sinais de forte retomada ainda, mas a perspectiva é de que vai acelerar daqui para frente”, diz o economista da LCA. Segundo Uemura, indicadores como a confiança da indústria, que está com o melhor valor desde outubro do ano passado, e o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci), com recentes avanços, dão base para a projeção positiva.
O dado de setembro mostra que a Nuci chegou a 81,9%. Segundo cálculos da LCA, acima de 81,5% é um patamar que estimula o investimento em expansão. O ponto mais baixo da utilização da capacidade instalada da indústria foi em fevereiro deste ano, quando ela atingiu 77,6%. “De lá para cá ela avançou 4,3 pontos percentuais, uma recuperação razoável. Já está próximo da média histórica”, diz ele.
Thaís Marzola Zara, economista sócia da Rosenberg & Associados, acredita, porém, que os investimentos ainda não estão se recuperando de forma sustentável, e que é preciso um nível de utilização da capacidade maior. No ano passado, a média de janeiro a setembro da Nuci foi de 85,9%. “O crescimento na margem do consumo de bens de capital ainda é fraco, pode ser uma reposição de peças. A retomada de investimentos deve ocorrer mesmo em 2010”, diz ela.
A recuperação da produção de máquinas e equipamentos é um indício, no entanto, de que as empresas voltam a investir, já que as exportações estão com um desempenho ruim – 15% de queda na média de julho e agosto sobre a média mensal do segundo trimestre. Os produtos estão suprindo o mercado interno. Em agosto, o setor de bens de capital registrou a quinta alta seguida na produção, de 0,4% sobre julho. Comparado ao desempenho de março, mês de menor produção do setor durante a crise, o crescimento em agosto foi de 7,6%, dessazonalizado. “O tombo, porém, foi muito forte, de 31% em março sobre setembro do ano passado, então a indústria de bens de capital ainda tem um bom espaço para percorrer”, diz Uemura.
Mesmo com a perspectiva de recuperação neste segundo semestre, os investimentos devem ter uma queda em relação ao ano passado próximo a 10% segundo os cálculos da LCA. Considerando o acumulado do ano em relação ao ano passado, há uma diminuição de 14% do consumo aparente de bens de capital.
O faturamento da indústria de máquinas e equipamentos cresceu 17,7% em agosto sobre julho, mostrando uma recuperação do setor. “Diante de perspectivas melhores, as empresas tiraram alguns projetos da gaveta, apesar do movimento estar longe do que pode ser considerado uma retomada”, diz Mário Benardini, diretor de economia da Abimaq, entidade que representa a indústria de máquinas.
A movimentação da indústria já se reflete na procura por financiamento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que no fim de julho reduziu os juros da Finame, programa de crédito para compra de bens de capital. A média diária de liberações de crédito em setembro atingiu cerca de R$ 100 milhões, quase o dobro da média diária do primeiro semestre deste ano, de R$ 60 milhões a R$ 70 milhões. “Estamos numa rota crescente e num número perto do nosso pico, que foi de R$ 130 milhões liberações por dia em setembro do ano passado, antes da crise”, diz Cláudio Bernardo Guimarães de Moraes, superintendente da área de operações indiretas do BNDES.
Segundo ele, o setor automotivo foi o que respondeu mais rapidamente ao estímulo do programa, principalmente para a compra de caminhões e ônibus. O programa voltado para o público caminhoneiro, que tinha uma média de aprovação mensal de R$ 13 milhões no primeiro semestre, liberou R$ 57,8 milhões por dia em agosto, e R$ 181,8 milhões em setembro.
De janeiro a agosto, a Finame liberou R$ 13,6 bilhões de reais, valor 14% menor que os R$ 15,9 bilhões liberados no mesmo período do ano passado. “Os resultados de setembro mostram que esse percentual de queda deve ter sido reduzido”, diz Moraes. No ano passado, a Finame liberou R$ 26,5 bilhões, e a meta em 2009 é crescer 5%.
A perspectiva é considerada possível diante de pedidos de financiamentos em análise hoje para os setores de ferrovia de cargas, de alimentos, de automóveis e da construção civil. “Em outubro é que vamos ter um bom termômetro para o Finame”, diz o superintendente do BNDES. De janeiro a agosto a liberação de créditos foi de R$ 6,7 bilhões para o segmento de transportes, de R$ 5,4 bilhões para não transporte, e R$ 1,5 bi para equipamentos agrícolas.
A recuperação dos investimentos nacionais antes de uma retomada do mercado externo, porém, deixa representantes da indústria nacional preocupados com a concorrência externa. A Abdib, entidade que reúne as empresas do setor de infraestrutura, chama atenção para o crescimento do déficit da balança comercial de bens de capital sob encomenda, hoje em US$ 1,1 bilhão de janeiro a agosto deste ano. “Nos últimos meses, as prospecções para compra de máquinas voltou, e há muita gente de olho em produtos da China”, diz Paulo Godoy, presidente da Abdib. Segundo ele, a tendência é o déficit aumentar, e o setor reivindica medidas de incentivo fiscal à indústria nacional.