O Brasil, diante dos sinais de retomada da economia, tem que manter a atual política de aumentar a despesa com investimentos e custeio, diminuindo o pagamento de juros e ignorando os que sugerem a diminuição dos gastos públicos. A análise é do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Celso Cardoso.
De acordo com ele, apesar da polêmica sobre os altos gastos do governo com pagamento de pessoal e a transferência de renda, essa é uma boa forma de aumentar a arrecadação e fazer o dinheiro movimentar a economia. “Os gastos correntes [do país] estão muito concentrados na população mais pobre. Os dois terços mais pobres da população são pessoas que praticamente não têm poder de poupança, consomem toda a sua renda. Por outro lado, a estrutura tributária brasileira é perversa porque [cobra] mais impostos dos mais pobres. Então, se os gastos correntes são muito criticados, por outro lado, se você transfere renda para os mais pobres, você aumenta a arrecadação”, afirmou.
Ainda segundo Cardoso, essa lógica é que tem ajudado o país a sair da crise mais rapidamente. O pesquisador ressaltou ainda que o Brasil trabalha com um superavit primário, enquanto outros países falam em aumentar o deficit público para estimular suas economias. “O Brasil, em termos fiscais, ainda tem uma margem de manobra para acionar em caso de crise. Basta contar com a compreensão das autoridades para mudar a composição do gasto público. O gasto ainda está muito concentrado em pagamento de juros em detrimento dos investimentos e custeio”, disse.
José Celso Cardoso lançou, na sede do Ipea em Brasília, o livro Brasil em Desenvolvimento: Estado, Planejamento e Políticas Públicas.