A avicultura pode ter avaliado mal o fim da crise financeira internacional, acelerou a produção, elevou a oferta e, agora, começa a viver forte redução nos preços do frango no mercado interno.
O alojamento de pintinhos – que representa a oferta futura de carne nos supermercados – superou 500 milhões de unidades no mês passado, número até superior ao de igual período de 2008. Em fevereiro, eram 406 milhões.
Alojamento maior, mercado interno sem reação no consumo, demanda menor em alguns países para os quais o Brasil exporta e câmbio cada vez mais desfavorável estão tirando renda de todos os segmentos envolvidos nessa cadeia: produtores, indústrias e exportadores.
Essa oferta maior e sem correspondência da demanda fez com que o quilo da ave viva recuasse para R$ 1,30 para os produtores paulistas, valor que não era registrado desde abril do ano passado.
O alojamento maior seguramente é um dos motivos dessa queda de preços, na avaliação do analista Oto Xavier, da Jox Assessoria Agropecuária Ltda. “Os produtores podem ter dado um passo maior do que a perna. O alojamento está acima do esperado”, diz ele.
“Foi um erro”, admite Ariel Mendes, presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA). Ainda não há excesso de carne no mercado, mas o alojamento não poderia ter voltado aos patamares anteriores ao período da crise, afirma.
“Situação atípica” – Os dados da Associação dos Produtores de Pinto de Corte (Apinco) indicam que a produção de pintos de corte somou 500,3 milhões de cabeças em julho, 5,1% mais do que no mesmo mês do ano passado, período que antecedeu a crise financeira mundial.
Com alojamento nesse patamar, seguramente pode haver excesso de carne nos meses de setembro a novembro, diz o presidente da UBA. Ele acredita, no entanto, que dois fatores podem melhorar o consumo interno: o início do mês, quando a demanda é maior, e o fim das férias escolares prolongadas devido à gripe A.
Mendes classifica a queda atual de preços como “uma situação atípica” e que afeta principalmente os produtores independentes, concentrados mais em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Aristides Vogt, vice-presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), concorda com Ariel e diz que a situação no Sul é um pouco diferente da de São Paulo.
Por ser quase 100% integrados, os produtores não sentem a queda de preço, os custos recaem sobre as indústrias que, além de vender o frango por menos, têm agravada a situação de abastecimento de insumos.
A entressafra força as indústrias gaúchas a buscar milho e soja no Paraná ou no Centro-Oeste. Em alguns casos, fica mais caro o frete do que o valor da mercadoria, diz o vice-presidente da Asgav.
O setor exportador também “não vive seus melhores momentos”, afirma Francisco Turra, presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef).
Muitos mercados – O volume exportado até agora fica próximo do de 2008, mas as empresas vão chegar ao final do ano com receitas menores.
Os preços do quilo do frango, que já chegaram a US$ 2,10, estão em US$ 1,70. Além de receber menos pelo produto, as empresas encontram uma taxa desfavorável do câmbio, devido à valorização do real, diz Turra.
“A sorte é que estamos em muitos mercados”, diz o presidente da Abef. Enquanto Rússia e Venezuela reduziram as compras com a crise internacional, os países africanos e do Oriente Médio as mantiveram.
As exportações são muito importantes para a estabilidade da avicultura brasileira, diz Xavier, da Jox. Com isso, qualquer complicação no segmento externo poderá gerar quedas relevantes nos preços, complementam os economistas do Rabobank, instituição especializada no campo e na agroindústria.
Em julho, o Brasil produziu 957 mil toneladas de carne de frango, das quais 639 mil ficaram no mercado interno, 15% a mais do que em igual período de 2008, segundo a Apinco.
No acumulado dos últimos 12 meses até julho, a produção atinge 10,9 milhões de toneladas, segundo a Jox.