O Banco Central contabilizou prejuízo de R$ 93,7 bilhões no primeiro semestre do ano por causa do efeito da valorização do real no carregamento das reservas internacionais. Para cobrir o rombo, o Tesouro Nacional precisa emitir títulos federais, ampliando a dívida pública.
Apesar do prejuízo, o resultado negativo não aparece no balanço do BC. Uma manobra nas regras contábeis do banco, realizada em junho de 2008, fez com que as variações das reservas cambiais deixassem de ter impacto em suas contas.
Ficou estabelecido que o banco e o Tesouro passariam a equalizar suas contas, já que o primeiro registra em seus ativos as reservas internacionais e o segundo, as dívidas cambiais. Na prática, nada muda com a mudança contábil, pois o Tesouro continua cobrindo o prejuízo.
Aprovado ontem (26/08) pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o balanço do BC mostra apenas um prejuízo de R$ 941 milhões no primeiro semestre. Esse resultado é decorrente da atuação no mercado monetário para reduzir volume de recursos na economia. No mesmo período de 2008, o BC registrou lucro de R$ 3,17 bilhões.
Segundo o diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles, no primeiro semestre houve grande volume de resgates líquidos de títulos pelo Tesouro. Deixaram de ser rolados R$ 73 bilhões em dívida no mercado.
Quando isso ocorre, são retirados papéis da dívida pública de circulação, injetando mais dinheiro na economia. Para controlar esse aumento da oferta de moeda, o BC atua no mercado vendendo títulos nas chamadas operações compromissadas. No período, essas operações pularam de R$ 345 bilhões para R$ 414 bilhões.
Na avaliação do diretor, o balanço do banco ficou praticamente estável no semestre. “Os balanços dos BCs nesta crise é uma informação muito esperada. Boa parte das instituições vem inchando ao absorver ativos das carteiras dos bancos. O Brasil não usou nenhum recurso público com a crise.”
Segundo ele, considerando o período da turbulência mundial -o último semestre de 2008 e o primeiro deste ano-, o resultado do BC ficou positivo em R$ 9,2 bilhões. “É bom lembrar que o BC não visa lucro.”
Em contrapartida, o BC espera aior do volume de crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos e bens e serviços produzidos no país, neste ano.
A projeção para esse indicador passou de 45% para 47%,informo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
A alteração ocorreu porque a projeção anterior foi alcançada em julho (45% do PIB). No mês passado, o crédito do sistema financeiro somou R$ 1,311 trilhão, com crescimento de 2,6% no mês e de 20,8% em 12 meses.
O resultado foi influenciado pela operação de empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) de R$ 25 bilhões à Petrobras. “Do ponto de vista do volume de crédito já estamos numa situação melhor do que a pré-crise”, disse Lopes. Entretanto, ele ressaltou que as empresas, principalmente as pequenas e médias, ainda precisam de aumento da oferta de crédito.
Segundo o Banco Central, em julho o crédito com recursos direcionados (operações com taxas e recursos definidos pelo governo, basicamente destinada aos setores rural, habitacional e de infraestrutura) apresentou “acentuada expansão” de 7,8% no mês e de 32,4% em doze meses. O valor chegou a R$ 407,8 bilhões. Nesse crédito estão incluídas operações de financiamento do BNDES.
Em julho, as carteiras de empréstimos com recursos livres totalizaram R$ 903,6 bilhões, valor que corresponde a 68,9% do total de financiamentos concedidos no sistema financeiro. A expansão no mês foi de 0,4% e de 16,1% em doze meses. De acordo com o BC, no segmento do crédito livre, o crescimento foi sustentado pelas pessoas físicas, “que mantêm trajetória de expansão”.
“As contrações de pessoas jurídicas apresentaram pequena retração, que reflete o ritmo mais lento de retomada dos negócios nesse segmento”. Outro fator na análise do BC sobre o crédito para as empresas é o efeito da valorização cambial sobre as operações de crédito com recursos externos.
No caso dos recursos livres, os financiamentos para pessoas físicas somaram R$ 442,3 bilhões, uma elevação de 1,7% no mês e de 19,7% em 12 meses. Já o crédito para as empresas alcançou R$ 461,3 bilhões, com redução de 0,7% no mês e alta de 12,8% em relação a julho de 2008.