O Brasil vai plantar neste verão a menor área de milho desde a década de 1960. Essa redução na área destinada ao milho ocorrerá porque o produtor está caminhando perigosamente para a soja. Perigosamente porque coloca uma pressão de produção muito grande na safrinha do próximo ano para o abastecimento interno. E a safrinha sempre é uma incógnita devido aos problemas climáticos, principalmente geadas, avalia André Pessôa, da Agroconsult.
Perigosamente, ainda, porque, se confirmada essa tendência, haverá grande oferta de soja e queda na de milho. Com esse cenário, a situação vai estar mais favorável para os produtores de milho do que para os de soja, diz Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres.
Os números confirmam as preocupações desses analistas. A área destinada à soja pode subir para 22,8 milhões de hectares, enquanto a de milho deverá recuar para 8,3 milhões.
Esses números ficam ainda mais preocupantes porque a Argentina, outro país importante na oferta mundial de grãos, deve elevar a área de soja para até 19 milhões de hectares e reduzir a de milho para apenas 2 milhões de hectares.
Os produtores brasileiros de soja têm notícias ruins também do mercado norte-americano, onde a produção deve subir para 87 milhões de toneladas.
Na soma total, os principais produtores de soja das Américas devem atingir 214 milhões de toneladas da oleaginosa na safra 2009/10.
Se confirmado, esse volume supera em 36 milhões o da safra anterior. Ou seja, o correspondente às importações da China, país que consegue influenciar os preços internacionais devido ao elevado volume de importações. Diante desse cenário, já há previsões para uma soja a apenas US$ 6 por bushel -hoje o preço é de US$ 10,80.
Sologuren diz que o produtor está olhando apenas para o momento atual, quando a soja é mais rentável que o milho. Este último tem altos estoques, exportações reduzidas e preços baixos. O mercado está sem liquidez. “Olhando apenas para hoje, o produtor plantará soja.”
Mercado nervoso – O Brasil tem um potencial de exportação de 8 milhões a 9 milhões de toneladas de milho no próximo ano. Se conseguir, os preços estarão aquecidos no segundo semestre de 2010, diz Sologuren.
Com essa queda na safra de verão, “a safrinha, que está sempre sujeita a riscos maiores, tem obrigação de ir bem”, acrescenta Pessôa. Se hoje os estoques estão folgados e os preços, baixos, daqui a um ano a situação pode estar mais complicada na oferta desse produto, segundo ele.
Mas se o clima for bom na safrinha do próximo ano e o país não conseguir exportar, o cenário para o milho, a exemplo do da soja, também poderá não ser satisfatório. “São muitas as variantes”, diz Sologuren.
Se a médio prazo a situação é incerta, a curto é pior ainda. Segundo Pessôa, os produtores de Mato Grosso deveriam ter um subsídio para sustentar os gastos com o frete. Mesmo com a ida de várias indústrias de carnes para a região, há uma sobra grande de milho que precisa sair rápido da região.
Citando dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), Pessôa diz que já são 520 mil toneladas de milho amontoadas ao ar livre. “Isso torna o mercado nervoso e traz desânimo ao produtor, que acaba indo na mesma direção da maioria, sem uma avaliação correta do mercado”, diz Sologuren.
Mas nem todas as previsões indicam para preços bons para o milho no próximo ano. Os Estados Unidos estão produzindo a segunda maior safra da história e terão 55 milhões de toneladas para exportação, o que pode inibir a presença brasileira no mercado externo.